{"id":213,"count":88,"description":"\r\nEm apenas quarto anos, o salto de produ\u00e7\u00e3o pr\u00f3pria, de capacidade de programa\u00e7\u00e3o e de reconhecimento p\u00fablico na imprensa da ac\u00e7\u00e3o do ACARTE foi imenso. No ano de 1988, n\u00e3o s\u00f3 o ACARTE e as suas actividades mais regulares pareciam estar bem implementadas, como o Servi\u00e7o parecia ser visto como \u2018fazendo parte\u2019: na imprensa sucediam-se as avalia\u00e7\u00f5es e iniciativas com apenas um ano \u2013 como foi o caso dos ENCONTROS ACARTE \u2013 afiguravam-se bem enraizadas, constituindo como que um pr\u00f3logo da actividade cultural Lisboeta.\r\nMas 1988 foi tamb\u00e9m um ano sem precedentes na hist\u00f3ria da dan\u00e7a em Portugal, sobretudo em Lisboa, com iniciativas sucessivas, tanto em organiza\u00e7\u00e3o do ACARTE, que prop\u00f4s uma s\u00e9rie de ciclos tem\u00e1ticos, o mais das vezes por nacionalidade (ex. dan\u00e7a contempor\u00e2nea Brasileira, Alem\u00e3...), como em termos de apresenta\u00e7\u00f5es de novos grupos e core\u00f3grafos que entretanto come\u00e7avam a emergir, caso da Companhia de Dan\u00e7a de Lisboa, de Rui Horta, mas sobretudo de agrupamentos como o Dan\u00e7a Grupo ou jovens core\u00f3grafos como Margarida Bettencourt ou Vera Mantero. Para Jos\u00e9 Sasportes, respons\u00e1vel pela organiza\u00e7\u00e3o do col\u00f3quio produzido pelo ACARTE, Perspectivas da Dan\u00e7a em Finais do S\u00e9culo XX, foi este o momento em que, at\u00e9 ent\u00e3o, \u201ca dan\u00e7a atravessa[va] o per\u00edodo mais pr\u00f3spero da sua hist\u00f3ria, [mesmo que] ainda com tanto para caminhar\u201d. O que \u00e9 a v\u00e1rios t\u00edtulos surpreendente, se se tiver em conta como apenas dois anos antes, em 1986, nos programas do ACARTE se dava conta da fragilidade da \u00e1rea.\r\nE se este ano a actividade do Servi\u00e7o se continuou a assumir como tendo \u00edmpetos formativos (a imprensa tratou amplamente o papel \u2018did\u00e1ctico\u2019 de Madalena Perdig\u00e3o, da Gulbenkian e do ACARTE: o caso da dan\u00e7a contempor\u00e2nea ou do cinema de anima\u00e7\u00e3o foram, a esse respeito, emblem\u00e1ticos), poder-se-ia igualmente dizer que em 1988 o Servi\u00e7o pareceu concentrar mais esfor\u00e7os (e or\u00e7amentos) a acolher produ\u00e7\u00f5es pr\u00f3prias, algumas com equipas grandes \u2013 tanto nacionais como internacionais ou em co-produ\u00e7\u00e3o, no caso de alguns espect\u00e1culos dos ENCONTROS ACARTE que tiveram neste festival a sua estreia mundial. \r\nContinuando muito embora a sua pol\u00edtica de apresenta\u00e7\u00e3o regular de propostas vindas j\u00e1 de tr\u00e1s, e lan\u00e7ando mesmo novas iniciativas, como os acorridos Jornais Falados de Actualidade Liter\u00e1ria, em organiza\u00e7\u00e3o do PEN-CLUBE, o ritmo de actividades em 1988 pareceu adensar-se exponencialmente, sobretudo tendo em conta que durante as apresenta\u00e7\u00f5es regulares havia uma s\u00e9rie de espect\u00e1culos e produ\u00e7\u00f5es em ensaio (seria necess\u00e1rio ter acesso aos mapas de ensaios e aos per\u00edodos de produ\u00e7\u00e3o, com distribui\u00e7\u00e3o por sala, para se ter uma dimens\u00e3o mais exacta). \r\nE se os ENCONTROS ACARTE 1988 se afiguraram como um evento incontornavelmente lisboeta, eles s\u00e3o tamb\u00e9m notoriamente europeus, parte integrante de uma jovem \u2018cena\u2019 das artes performativas da \u00e9poca que se reuniu em Lisboa em Setembro de 1988 \u2013 num momento em que a ret\u00f3rica da diplomacia cultural do pa\u00eds se orientava para a Europa, termo bastante contestado (ver caixa EA87).\r\nO ano come\u00e7ou com o encerramento do ciclo Arte e Tecnologia, numa das frequentes apostas art\u00edsticas que depois se revelaram pol\u00e9micas aquando da apresenta\u00e7\u00e3o p\u00fablica, como foi o caso da pe\u00e7a \u201cO Lagarto de \u00c2mbar\u201d. \r\nSe iniciativas j\u00e1 com formato e p\u00fablico pr\u00f3prios se mantiveram bem sucedidas, o ACARTE continuou a entrar por \u00e1reas ainda pouco exploradas e tidas como necessitando do apoio de reconhecimento que as apresenta\u00e7\u00f5es p\u00fablicas no \u00e2mbito da sua ac\u00e7\u00e3o podia trazer. Foi o caso das m\u00fasicas do mundo que n\u00e3o se resumiam a clich\u00e9s comerciais, explorados via Nova Iorque ou Paris, como foi neste mesmo ano o caso de Mory Kant\u00e9, com o sucesso de vendas \u201cYe ke ye ke\u201d. Foi dessa forma, e no seguimento de experi\u00eancias como a apresenta\u00e7\u00e3o de Maria Rodriguez no ciclo Viva Venezuela!, que o ACARTE come\u00e7ou a programar anualmente o ciclo Vozes do Mundo, que acolheu uma s\u00e9rie de nomes fundamentais como Nusrath Fateh Ali Khan (Paquist\u00e3o), Ali Farka Tour\u00e9 e Jali Musa Jawara (Mali) e ou Light Blues (Gr\u00e3-Bretanha).\r\nMas, ainda em 1988, o cinema de anima\u00e7\u00e3o viu a sua actividade consolidada pela cria\u00e7\u00e3o de um atelier regular com orienta\u00e7\u00e3o de Jos\u00e9 Pedro Carvalheiro e Lu\u00eds Correia, a partir de onde se foram propostos uma s\u00e9rie de cursos , dando uso ao equipamento comprado por ocasi\u00e3o do primeiro curso, e \u00e0 j\u00e1 larga experi\u00eancia acumulada pelos seus participantes; e foi lan\u00e7ada a edi\u00e7\u00e3o ACARTE relativa \u00e0 Quinzena de Artes e Letras dos PALOPS, de 1985. Mas 1988 foi tamb\u00e9m um ano em que, se por um lado os Bonecos de Santo Aleixo regressaram ao ACARTE sendo entendidos como patrim\u00f3nio portugu\u00eas a preservar, por outro, se discutiram os caminhos recentes do teatro europeu, tendo a Holanda do Mickery Theatre e do Saffy Thetre nos Anos 1960 e 1970 como exemplo \u2013 e vendo as suas repercuss\u00f5es na cena teatral dos Anos 1980, assumindo a Holanda e a sua pol\u00edtica cultural de apoio p\u00fablico e descentraliza\u00e7\u00e3o como um exemplo a seguir. \r\nCom mais incid\u00eancia ainda, sucederam-se as discuss\u00f5es sobre a hist\u00f3ria e os caminhos recentes da dan\u00e7a, revisitando tend\u00eancias por vezes com mais de meio s\u00e9culo, caso, por exemplo, da dan\u00e7a expressionista alem\u00e3, ou percursos mais recentes, casos do Brasil ou da Austr\u00e1lia, a prop\u00f3sito dos quais se tratou de localizar est\u00e9ticas, influ\u00eancias e modos de produ\u00e7\u00e3o. \r\nOs Concertos \u00e0 Hora do Almo\u00e7o revelaram o efeito continuado de iniciativas como os Cursos O Teatro Musical e o Int\u00e9rprete Hoje, de Constan\u00e7a Capdeville, que divulgavam novos agrupamentos e o trabalho de novos int\u00e9rpretes, sempre fru\u00eddo no habitual ambiente informal e descontra\u00eddo que era seu apan\u00e1gio. Continuaram tamb\u00e9m iniciativas como a apresenta\u00e7\u00e3o de Bandas no Anfiteatro ao Ar Livre e actividades pontuais, como o acolhimento do II Curso de Finalistas em Moda do IADE, a apresenta\u00e7\u00e3o do XI Encontro de Coros Amadores da \u00c1rea de Lisboa ou a apresenta\u00e7\u00e3o de O P\u00e1ssaro Verde, de Carlo Gozi, pela companhia Os Comediantes, do Porto.\r\n","link":"https:\/\/acarte.pt\/category\/1988\/","name":"1988","slug":"1988","taxonomy":"category","parent":0,"meta":[],"acf":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/acarte.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories\/213"}],"collection":[{"href":"https:\/\/acarte.pt\/wp-json\/wp\/v2\/categories"}],"about":[{"href":"https:\/\/acarte.pt\/wp-json\/wp\/v2\/taxonomies\/category"}],"wp:post_type":[{"href":"https:\/\/acarte.pt\/wp-json\/wp\/v2\/posts?categories=213"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}