{"id":4031,"date":"2015-06-12T22:10:54","date_gmt":"2015-06-12T22:10:54","guid":{"rendered":"?page_id=4031"},"modified":"2024-02-26T22:32:14","modified_gmt":"2024-02-26T22:32:14","slug":"uma-curadoria-da-falta-2","status":"publish","type":"page","link":"https:\/\/acarte.pt\/uma-curadoria-da-falta-2\/","title":{"rendered":"Uma Curadoria da Falta"},"content":{"rendered":"
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Preencher lacunas\u201d\u2026 \u201cFazer falta\u201d: por v\u00e1rias vezes Madalena Perdig\u00e3o atentar\u00e1 na quest\u00e3o da falta como uma das raz\u00f5es de ser do Servi\u00e7o ACARTE, raz\u00e3o esta que se prende tamb\u00e9m com o como da sua ac\u00e7\u00e3o. Esta abertura \u00e0 falta implicaria, como se ver\u00e1, o questionamento radical de uma no\u00e7\u00e3o identit\u00e1ria com a subsequente des-hierarquiza\u00e7\u00e3o que da\u00ed adv\u00e9m, mostrando-se muito interessante para pensar o ACARTE.<\/p>\n<\/div>\n
Roberto Esposito (2010) em\u00a0<\/span>Communitas \u2013 The Origin and Destiny of The Communit<\/em>y, prop\u00f5e uma teoriza\u00e7\u00e3o do conceito de falta onde esta aparece n\u00e3o como algo negativo, uma culpa, uma defici\u00eancia, uma pobreza, mas como algo prol\u00edfero, intr\u00ednseco \u00e0 (e criador de) comunidade. Interrogando-se sobre qual seria \u00aba \u201ccoisa\u201d que os membros de uma comunidade teriam em comum\u00bb, Roberto Esposito (ESPOSITO 1998), vai \u00e0 etimologia de\u00a0<\/span>communis<\/em>\u00a0<\/span>que significaria \u00abaquele que partilha um of\u00edcio, uma tarefa, uma carga\u00bb para da\u00ed depreender que\u00a0<\/span>communitas<\/em>\u00a0<\/span>seria \u00aba totalidade das pessoas unida n\u00e3o por uma \u201cpropriedade\u201d mas precisamente por uma obriga\u00e7\u00e3o ou por uma d\u00edvida, n\u00e3o por uma adi\u00e7\u00e3o, mas por uma subtrac\u00e7\u00e3o: por uma falta, um limite que \u00e9 configurado como um \u00f3nus, ou mesmo por uma modalidade defectiva de quem \u00e9 \u201cafectado\u201d, por confronto de quem \u00e9 isento\u00bb. Esposito localiza aqui, no contraste entre\u00a0<\/span>communitas<\/em>\u00a0<\/span>e\u00a0<\/span>immunitas<\/em>, a tradicional oposi\u00e7\u00e3o associada com a alternativa entre p\u00fablico e privado. Se\u00a0<\/span>communis<\/em>\u00a0<\/span>\u00e9 o que tem de desempenhar uma tarefa \u2013 ou mesmo outorgar uma gra\u00e7a \u2013 imune seria o que est\u00e1 dispensado de o fazer, permanecendo assim ingrato. Mas o caminho pela etimologia de communitas \u00abmostra que o\u00a0<\/span>munus<\/em>\u00a0<\/span>que a\u00a0<\/span>communitas<\/em>partilha n\u00e3o \u00e9 uma propriedade ou uma posse\u00bb. N\u00e3o seria um ter, mas em contrapartida, \u00abuma d\u00edvida, um dep\u00f3sito, uma prenda que tem de ser dada, estabelecendo uma falta. Os sujeitos de uma comunidade est\u00e3o unidos por uma \u201cobriga\u00e7\u00e3o\u201d no sentido em que se diz \u201ceu devo-te uma coisa\u201d, mas n\u00e3o [no sentido em que se diz] \u201ctu deves-me uma coisa\u201d\u00bb. O que faria com que o comum fosse n\u00e3o \u00abcaracterizado pelo que \u00e9 pr\u00f3prio mas pelo que \u00e9 impr\u00f3prio, ou, mais drasticamente ainda, pelo outro; por um esvaziar, seja ele parcial ou completo, da propriedade no seu negativo; removendo o que \u00e9 especificamente propriedade pr\u00f3pria, for\u00e7ando-o a sair de si, a alterar-se a si\u00bb.<\/p>\n<\/div>\n O que nesta proposta interessa para pensar o ACARTE \u00e9 o questionamento radical de uma no\u00e7\u00e3o identit\u00e1ria e a subsequente des-hierarquiza\u00e7\u00e3o que da\u00ed adv\u00e9m. Ao localizar a origem do comum n\u00e3o numa propriedade mas numa falta, numa lacuna, Esposito permite pensar a comunidade enquanto descontinuidade: uma comunidade que n\u00e3o \u00e9 um dado adquirido, cuja identidade seria necess\u00e1rio estar sempre a afirmar em competi\u00e7\u00e3o com outras identidades mais ou menos \u201cfortes\u201d, \u201cdesenvolvidas\u201d ou \u201catrasadas\u201d, mas antes uma elabora\u00e7\u00e3o viva, porque aberta \u00e0s necessidades de determinado contexto. Uma comunidade onde a partilhar e a construir haveria uma s\u00e9rie de \u201ccomuns\u201d, pens\u00e1veis para al\u00e9m da dicotomia p\u00fablico\/privado e de uma suposta iman\u00eancia da comunidade a si pr\u00f3pria. Igualmente, esta ac\u00e7\u00e3o pela abertura \u00e0 falta permitiria aceder de forma privilegiada \u00e0s v\u00e1rias percep\u00e7\u00f5es comuns, por vezes mesmo contradit\u00f3rias, que os contempor\u00e2neos teriam do seu momento hist\u00f3rico. Tra\u00e7ando grelhas mais finas e periodiza\u00e7\u00f5es mais apuradas, em que as no\u00e7\u00f5es de \u201catraso\u201d e de \u201cperiferia\u201d (ou de \u201csemi-periferia\u201d), longe de aparecerem como incontorn\u00e1vel explica\u00e7\u00e3o geral e generalista, seriam pass\u00edveis de ser entrevistas\u00a0<\/span>nos modos como agem<\/em>: enquanto \u201cmotor\u201d, \u201cfardo\u201d, \u201cembara\u00e7o\u201d, \u201cvantagem\u201d, \u201ccondi\u00e7\u00e3o\u201d\u2026 Ganhando, assim, uma s\u00e9rie de contornos e nuances espec\u00edficos de acordo com os seus sujeitos de enuncia\u00e7\u00e3o, o momento hist\u00f3rico e os referenciais apontados.<\/p>\n <\/p>\n<\/div>\n O Centro de Arte Moderna e o ACARTE, utiliza\u00e7\u00e3o do espa\u00e7o<\/strong><\/p>\n Em 1984 o edif\u00edcio do Centro de Arte Moderna \u00e9 composto por dois corpos distintos: o Museu de Arte Moderna, formado por tr\u00eas galerias, interligadas; e um espa\u00e7o de anima\u00e7\u00e3o cultural pertencente, \u00e0 \u00e9poca, ao ACARTE, dispondo de uma Sala Polivalente, de uma sala de exposi\u00e7\u00f5es tempor\u00e1rias, de ateliers para actividades art\u00edsticas, estendendo-se aos \u00e1trios, \u00e0 cafetaria e ao Anfiteatro ao Ar Livre. Contemplava tamb\u00e9m o Centro de Arte Infantil, um pavilh\u00e3o dedicado \u00e0s crian\u00e7as, situado perto da entrada sueste do jardim.<\/p>\n Programa\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n<\/h1>\n