Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte – ACARTE. Direcção de Madalena Perdigão.
1984
As actividades arrancaram a 1 de Junho (Dia da Criança), três semanas após a conferência de imprensa de apresentação do novo Serviço da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo que cobriram o segundo semestre do ano. Houve, nesse primeiro ano um total de 19 iniciativas, sendo que parte delas se desdobraram em vários eventos, o que perfez mais de três iniciativas por mês.
O arranque foi uma aposta entre o futuro e o passado: o Dia da Criança foi celebrado com um espectáculo do Circo Mariano Franco, estrutura que estava a arrancar no trabalho social e que esteve na base do Chapitô; seguiu-se o acolhimento do sexto Encontro Nacional de Teatro e Infância, com os nomes dos grupos ainda muito marcados por uma certa ideia de teatro didáctico interventivo: Pé de Vento, Teatro Amador de Intervenção, Assembleia Teatro, O Bando. Após o que surgiu, a 21 de Junho, a primeira importação dos ventos da renovação cultural “evenemental” da França Miterrand/Lang: a Festa da Música, que em Lisboa ganhou o adjectivo “Europeia”.
Mas o Ciclo Almada foi o projecto de maior vulto em que o Serviço se envolveu nesse ano – constituindo, pode dizer-se, o momento fundador do Serviço, primeiro projecto em que Madalena Perdigão pensou quando aceitou regressar à Fundação. Porque a “revisão crítica da cultura e da arte portuguesas continua a ser necessária. Todas as achegas são úteis” – como escreveu alguns meses mais tarde no programa de Almada, Nome de Guerra, fazendo suas as palavras de Ernesto de Sousa num texto de 1969 republicado para esta apresentação e anteriormente discutido.
Se esse primeiro ano de actividade ainda pareceu fortemente marcado pelo acolhimento de iniciativas organizadas em colaboração, pressentindo-se que a programação própria estava ainda a dar os primeiros passos, foi já visível um grande gosto em receber ideias vindas de fora. E se, na conferência de imprensa, Madalena Perdigão anunciou logo que o ACARTE seria um “fórum aberto”, os seus objectos e públicos não deixaram de surpreender: fosse pelo arcaísmo de linguagens tradicionais ou infantis, fosse pelo vanguardismo de performers que, com uma atitude experimental, interrogavam linguagens e formas estéticas.
A participação nos programas transversais à Fundação Calouste Gulbenkian acolhendo as componentes mais marginais da programação, caso do Festival do Labirinto ou do próprio Ciclo Almada, começou logo em 1984 a marcar a actividade do ACARTE. Não obstante, a programação deste ano iniciou-se e terminou com actividades para crianças. Pelo meio inauguraram-se iniciativas que haviam de perdurar: algumas até hoje, como foi o caso da recém-criada, por Jack Lang, em 1982, Festa da Música, a que o ACARTE se juntou, ou, mais ainda, do Jazz em Agosto. Outras, como as Bandas de Música no Anfiteatro ou o Cinema de Animação e as Marionetas, prolongaram-se ao menos pelos cinco anos em que Madalena Perdigão dirigiu o ACARTE. A poesia dita, os colóquios académicos e a dança foram outras das vertentes que estavam já presentes na programação, que se organizou o mais das vezes em iniciativas temáticas.