Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte – ACARTE. Direcção de Madalena Perdigão.
1985
1985 foi um ano de consolidação no ACARTE, com aposta na continuação de programas bem-sucedidos no ano anterior e no acolhimento de novas propostas e, com elas, de diversificação de linguagens. As actividades em torno do experimentalismo estético-político/poético português abriram o ano, num ciclo organizado por E. de Melo e Castro, a convite do PEN Clube, e estreou-se também um evento de grande sucesso, os Concertos à Hora de Almoço, que haveriam de conhecer várias edições. Nestes, não apenas a noção de concerto se fazia menos rígida, desafiando-se os protocolos de escuta da música erudita, quanto a hora do almoço era passada no espaço do museu ao som de músicos estreantes.
Sendo um ano muito marcado pela presença da Exposição-Diálogo sobre Arte Contemporânea que coincidiu no tempo com a assinatura do Tratado de Adesão à CEE, houve, porém, uma série de ciclos e iniciativas mais pequenos em que o experimentalismo do Serviço se tornou evidente. Iniciativa de vulto, organizada pelo Conselho da Europa, o ACARTE associou-se à Exposição/Diálogo sobre Arte Contemporânea com um intenso programa de Performance, Teatro e Música, de que constaram uma série de artistas mundialmente incontornáveis, como Wolf Vostell, Marina Abramovic/Ulay ou Jan Fabre. Foi neste quadro que teve lugar o polémico episódio da “guerra das alfaces”, na performance O Jardim das Delícias, de Wolf Vostell.
De notar igualmente a regular presença de propostas não-europeias, fossem vindas do Japão – caso do espectáculo para crianças Kaze No-Ko; fossem dos recém-formados Países Africanos de Expressão Portuguesa com que, a dez anos da descolonização, se deram alguns passos no sentido de um possível diálogo – casos tanto do espectáculo Eclipse de Sol, exercício final do IFICT, como do completo programa multidisciplinar que constituiu as Jornadas de Artes e Letras dos PALOP (uma das primeiras, se não a primeira, iniciativa do género no pós 25 de Abril), ou mesmo do, como veremos, polémico concerto de Sun Ra Archestra (que tocou mais um dia do que o previsto, tamanhas as enchentes), no Jazz em Agosto então sob a direcção de Rui Neves e não já do Hot Club.
Iniciativas como as Bandas de Música no Anfiteatro ou a Festa Europeia da Música continuaram a ser apresentadas, bem como os ciclos de cinema de animação organizados por Vasco Granja. O Centro de Arte Infantil tinha já um funcionamento regular, associando-se a várias das actividades do Serviço que também iniciou uma série de formações e cursos regulares, como o Curso de Cinema de Animação ministrado por Sir Richard Ross, do Royal College, ou uma série de workshops que acompanhavam as actividades do ACARTE.
A fechar o último trimestre do ano realizou-se um ciclo de reflexão sobre o urbano e aquilo a que se chamou o “Imaginário da Cidade”, no âmbito do qual pela primeira vez se ouviu cantar o Fado (anteriormente considerado demasiado popular) na Fundação Calouste Gulbenkian; e um ciclo sobre o polémico e político Pasolini, a propósito do qual Madalena Perdigão escreveu: “O teatro de Pasolini propõe-se ser, ‘antes de mais nada, debate, troca de ideias, luta literária e política ao nível mais democrático e racional possível’. Poucos objectivos poderiam enquadrar-se melhor nas linhas de actividade do Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte.”
De notar que muitas das actividades de que acima se deu conta tiveram a acompanhá-las uma série de eventos discursivos, colóquios, mesas-redondas, debates – muitos dos quais posteriormente deram lugar a edições.
Como se verá no resumo da programação de 1986 e 1987, há uma série de trabalho importante de produção para o arranque do Serviço que terá lugar este ano, em particular o envio pela parte de Madalena Perdigão de uma série de cartas a instituições europeias a demonstrar o interesse na apresentação de pequenos agrupamentos e companhias no âmbito da dança.