1986
Em 1986 começavam a sentir-se os primeiros efeitos do esforço realizado por Madalena Perdigão no sentido de trazer à Sala Polivalente pequenos agrupamentos e companhias de dança europeus e, logo em Janeiro, o Serviço ACARTE recebeu a coreógrafa Elsa Wolliaston.
Tendo Madalena Perdigão solicitado a Val Bourne, directora do festival Dance Umbrella, de Londres, uma lista de moradas e telefones de instituições e companhias de dança europeias, em 1985 enviou a estas entidades uma carta manifestando o interesse do ACARTE em conhecer e apresentar na sua sala espectáculos de pequenos agrupamentos de dança. Nestas cartas, como se verá mais em pormenor no epílogo, é possível entrever o esboçar da programação de dança do ACARTE¬¬¬ e a rápida entrada do Serviço numa rede europeia de estruturas especializadas em artes performativas.
Pelos programas de 1986 é igualmente possível compreender que também em 1985 o Serviço procedeu à criação de um Conselho Consultivo de Teatro, tantas e tão variadas propostas recebeu nesta área.
Em suma: pela programação de 1986 depreende-se a importância do trabalho de produção levado a cabo no ano anterior, trabalho este que tinha tido lugar já durante o funcionamento regular do Serviço, muito possivelmente estando a Exposição-Diálogo a decorrer, ou apenas terminada. E é de notar que foi enquanto esta exposição estarava a decorrer que teve lugar a assinatura do Tratado de Adesão à CEE .
Como adiante se explicitará, foi também em 1986 que se iniciou o processo, também ele fruto das cartas enviadas por Madalena Perdigão em 1985 e posteriormente objecto de debate pelo Conselho Consultivo de Teatro, que levou à criação dos Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa, acontecimento regular a partir de 1987.
E em no mesmo ano, como se deu conta, a Sala Polivalente começou – e ainda que lentamente – a acolher regularmente novas tendências na dança, tendo sempre atenção à formação e discussão, aspectos que frequentemente acompanhavam as apresentações por via de workshops, seminários, cursos ou palestras.
Inseriu-se neste âmbito a iniciativa Dança no CAM, que trouxe os coreógrafos Elsa Wolliaston, Claude Bromachon e Susanne Linke, naquela que foi a primeira de várias vindas destas coreógrafas alemãs e francesas ao ACARTE, e a Mostra de Dança Holandesa Contemporânea. Nesta, Madalena Perdigão manifestou explicitamente o seu desejo de que “o exemplo da Holanda – país geograficamente pequeno, como o nosso é – frutifique entre nós, conduzindo à revelação de novos valores na dança”. E, naquele que mais tarde haveria de dar lugar ao ciclo Dança no Anfiteatro ao Ar Livre, anualmente no mês de Julho, apresentou-se a Companhia de Dança de Lisboa, dirigida por Rui Horta (que teve a acompanhá-la a orquestra de Jazz do Hot Clube, numa das várias iniciativas relativas a Jazz que o ACARTE acolheu nesse ano), e a Companhia Nacional de Bailado do Teatro S. Carlos.
Mas o ano arrancou com uma muito contemporânea mostra de um formato de culto dos anos 80, o vídeoclipe, com filmes seleccionados e comentados por Miguel Esteves Cardoso, proposta do ACARTE para o ciclo O Musical, em organização do Serviço de Belas Artes e da Cinemateca.
Continuaram as iniciativas regulares como o Cinema de Animação – tanto a formação, de que se apresentaram os resultados finais do 1.º curso e se organizaram novos cursos intensivos, quanto a exibição, a cargo de Vasco Granja; ou, no âmbito da música, os Concertos à Hora do Almoço, agora na 3.ª série, bem como as Bandas de Música no Anfiteatro.
Ainda na música, o Jazz em Agosto 86 e o Ciclo de Nova Música Improvisada aprofundaram as polémicas encetadas pelo Jazz em Agosto 85. E manteve-se a colaboração estreita com Constança Capdeville, que prosseguiu o seu trabalho em torno do Teatro Musical promovendo o seminário O Teatro Musical e o Intérprete Hoje. Merecido destaque também para a apresentação do ciclo de música do mundo Viva Venezuela!.
A performance, cuja apresentação se iniciou com a Exposição Diálogo marcou novamente presença no ACARTE, agora num ciclo com participações exclusivamente nacionais.
Por último, marcaram o ano os ciclos O Fantástico na Arte Contemporânea, com coordenação de Maria Alzira Seixo da Faculdade de Letras da Universidade Lisboa, e O Retorno à Tragédia, em organização de Jorge Listopad e Orlando Neves, projecto que envolveu um amplo trabalho de pesquisa e se estendeu por vários meses, sendo neste contexto produzidos e encenados, por autores portugueses, uma série de espectáculos a partir de tragédias.