dança
O envio de uma carta a uma série de instituições europeias sugeridas por Val Bourne (directora e fundadora do Dance Umbrella, a quem Madalena Perdigão solicitou os contactos destas instituições), manifestando o interesse do ACARTE em conhecer e apresentar na sua sala espectáculos de pequenos agrupamentos de dança, será decisivo para que este Serviço se cruze com a recém-criada rede IETM e passe a acolher uma série de novas experiências, em particular no que à nova dança europeia diz respeito, mas não apenas. Foram enviadas cartas ao Kaaitheater, ao C.A.S.A.D.I, ao Théatre de La Bastille de Paris, ao Institut Néerlandais du Théâtre, ao Klapstuk Festival, ao Holland festival, à AKademie der Kunst de Berlim, ao HotTheatre e ao Utrecht Festival. Nelas é possivel ler:
“Lisbonne, le 19 Juillet 1985
Je suis redevable de votre adresse à Madame Val Bourne, de Dance Umbrella, London, qui m’a dit que vous seriez la personne indiquée pour me faire des suggestions concernant des groupes ou petites compagnies de dance.
En effet, la Fondation Calouste Gulbenkian est intéressée de présenter à Lisbonne des groupes ou petites compagnies de dance – en particulier pendant le mois de Janvier 86 – et aimerait recevoir des propositions de votre part. Les spectacles auront lieu au Centre d’Art Moderne, dans une salle bien équipée du point de vue technique et avec capacité pour deux cents spectateurs. La scène a 10 m de front par 10 m de profondeur.
Dans votre réponse, veuillez nous indiquer les dates disponibles des compagnies et leurs conditions de collaboration. Nous aimerions aussi recevoir documentation aussi complète que possible sur les compagnies proposées. ACARTE – Maria Madalena de Azeredo Perdigão – Directrice”
A partir do envio destas cartas, a programação de dança no ACARTE vai ter um aumento exponencial de apresentações de dança. De tal modo que comparando o que Madalena Perdigão escreve em 1986, no programa da Mostra de Dança Holandesa Contemporânea referindo:
“(…) E bom será que o exemplo da Holanda – pais geograficameme pequeno, como o nosso é – frutifique entre nós, conduzindo à revelação de novos valores na dança e a uma salutar diversificação de estilos coreográficos com o denominador comum histórico cultural que lhes advirá da sua raiz portuguesa.”
e o que José Sasportes escreverá em 1988, no programa do colóquio “Perspectivas da Dança nos Finais do Séc XX” em que afirma:
” (…) O momento em que a dança em Portugal atravessa o período mais próspero da sua historia, mas ainda com tanto para caminhar, é, talvez, uma boa ocasião para uma reflexão em conjunto sobre as suas possibilidades futuras e sobre o seu lugar no quadro da criação coreográfica contemporânea.”
dão a ver como, em dois anos, a cena da dança contemporânea em Portugal floresceu. O que é comprovado pela realização em 1989 da Primeira Mostra de Dança Contemporânea Portuguesa. Escreve Madalena Perdigão a este respeito:
“Dentro da sua politica cultural de carácter internacionalista e, em particular, europeísta, tem o ACARTE vindo a apresentar ao publico português um grande numero de grupos e companhias de dança, agrupando-os por vezes sob uma mesma bandeira nacional. A selecção dos grupos vem sendo feita com o objectivo de mostrar o que existe de novo em cada pais e de apresentar o lado experimental das diversas propostas artísticas. No entanto, pelo facto de ter uma vocação internacionalista, nem por isso o Acarte deixa de estar atento aos valores portugueses e pretende faze-lo também no domínio da dança. Dai a apresentação desta Mostra de Dança Portuguesa Contemporânea, necessariamente incompleta, a qual foi buscar companhias constituídas ad hoc ou não abrangidas pelos circuitos oficiais ou institucionais. Trata-se de dar oportunidade a experiencias que de outro modo poderiam ficar marginalizadas, trata-se de lazer sentir a estas pequenas companhias que estamos com elas, que compreendemos 0 seu esforço e que queremos auxilia-las a continuar, no caminho do experimentalismo e da inovação. Oxalá o publico corresponda as nossas expectativas, rodeando de interesse, de polémica, mas também de carinho, os bailarinos, iluminadores, músicos e coreógrafos que participam nesta primeira Mostra de Dança Portuguesa Contemporânea. Isso animar-nos-á a prosseguir no caminho começado com a criação dos Estúdios Coreográficos, ao tempo em que dirigíamos o Serviço de Musica da Fundação Calouste Gulbenkian, iniciativa felizmente retomada por este Serviço depois de alguns anos de interrupção e que tem contribuído de maneira notável para a revelação de novos valores no panorama coreográfico português. A Mostra que agora apresentamos e relativamente modesta, face aos potenciais valores do nosso meio artístico. Assumimo-la como um principio de algo que poderá constituir uma importante manifestação da nossa cultura no domínio da dança.
Dezembro 88
Maria Madalena de Azeredo Perdigão”