OS PRIMEIROS ENCONTROS ACARTE

 

 

 “Bastaria o interesse pela cultura portuguesa que o nosso ingresso na Europa das Comunidades despertou nos restantes países para se poder considerar esse ingresso como um factor positivo. Interesse a que temos de corresponder desdobrando o tapete e ostentando os nossos produtos, quer em Portugal quer no estrangeiro, e talvez de preferência adentro a portas, para que esses produtos sejam vistos no seu enquadramento próprio, histórico, geográfico e social. Corresponderemos também a esse interesse retribuindo-o o com sentimento igual relativamente às culturas dos outros países da Comunidade. E estas são a história, a justificação, a perspectiva dos Encontros ACARTE 87. Que não escolheram o caminho seguro das estruturas tradicionais, mas sim um circuito inovador, com características de experimentalismo e apostando no futuro. Disciplina fundamental o Teatro, arte entre todas a mais ligada ao berço da Europa, irremediavelmente entrelaçada com a Dança, sua irmã. (…) Assim, a reacção positiva ou negativa que os Encontros provocarem no meio artístico português constituirá um indício, embora mínimo, do que vai ser o nosso encaminhamento cultural. Sejamos então optimistas, como o é o nosso deputado ao Parlamento Europeu, Francisco Lucas Pires, ao pretender fazer de Lisboa, que é o maior expoente citadino da Europa do Mar, uma das capitais da cultura europeia. Porque não tentar?”

Maria Madalena de Azeredo Perdigão

 

 

IDEIAS DE EUROPA PARA IDEIAS DE TEATRO: OS ENCONTROS ACARTE NOVO TEATRO/DANÇA DA EUROPA

Em 1987 foram criados os Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa, um festival anual, em Setembro, que nos anos finais do Serviço, até à sua extinção, haveria de constituir um dos seus momentos de maior visibilidade. O que levaria à confusão Serviço ACARTE/Encontros ACARTE, como se o Serviço fosse apenas o festival, ou como se todo o Serviço fosse um festival. 

Qual a relação entre a criação dos Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa, em 1987 [EA87], e a entrada de Portugal para a Comunidade Económica Europeia [CEE], em 1986? Novo Teatro da Europa: ‘Novo’ em relação a quê? Haverá diferentes ideias de teatro para diferentes ideias de Europa, em diferentes tempos? Que modelos estéticos, filosóficos mas também económicos e existenciais estarão aqui em questão? A que ‘comunidades imaginadas’ se destinam, quem é o seu sujeito ideal?

Programa dos Encontros ACARTE 87

 

Este conjunto de questões apareceu no decurso da investigação nos arquivos do ACARTE, mais especificamente quando, ao consultar os dossiers de imprensa dos Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa 87, se acompanhou um debate longo em torno do que seria o teatro-dança, debate este em que são citadas uma série de referências estéticas fundamentais.

Como se estes Encontros com a projecção mediática que os rodeou, tivessem, por um lado, apresentado em Portugal o experimental antes do já estabelecido: o “Teatro/Dança da Europa” antes do “Teatro da Europa”; e, por outro, remetendo para influências e figuras fundadoras, deixassem no ar a questão: “Pina Bausch, Bob Wilson, Tadeusz Kantor, [Q]uando poderemos vê-los em primeira mão?” (Carlos Porto, Diário de Lisboa, 25-09-87).

Foi este debate, portanto, esta aparente décalage na recepção em Portugal de duas ou mesmo três gerações de teatro europeu que chamou a atenção para aquilo a que se chamou “ideias de teatro para ideias de Europa”. Pois não apenas o teatro Europeu do Pós II Guerra Mundial seria necessariamente diferente do teatro do Pós Maio de 68 e do Teatro/Dança dos Anos 80, mas também o território por eles imaginado seria naturalmente diferente, o que acarretaria, obviamente, alterações aos modos de produção e, consequentemente à estética dos espectáculos.

Trata-se, é claro, de com isto traçar grandes linhas e a estabelecer uma narrativa assente em generalizações, narrativa essa que terá sempre de ser complementada pelo estudo dos casos particulares, sendo cada caso um caso, mudando as estéticas dos encenadores e as políticas culturais ao longo do tempo e consoante os períodos históricos e havendo encenadores que os atravessaram a todos… no entanto, partilha-se com Christopher McCullough em Theatre and Europe (McCullough 1995) a opinião de que vale a pena, ao abordar a relação entre Teatro e Europa, interrogar os modos de imaginação do território que ao longo do tempo vão estando em acção: imaginação da nação, do continente (e de que continente, dado o contexto ser o da Guerra Fria) e do globo. McCulough faz pensar nas formas como a cultura é feita e como elas se relacionam com o sentimento de pertença a um todo europeu – sendo influenciadas por elas, influenciando-as, ajudando a construir esse sentimento de pertença.

Chama-se igualmente a atenção para o facto das principais fontes sobre a suposta décalage que as palavras de Carlos Porto fazem notar serem o arquivo de imprensa do ACARTE (e dentro dele, dos Encontros ACARTE 87, em particular) e os testemunhos orais recolhidos. Ou seja, é através destas fontes que esta décalage me chega, é por eles que ela é lida, o que não quer dizer que não possa ter havido uma série de iniciativas pontuais (ou mesmo regulares) onde este tipo de décalages terão sido temporariamente colmatadas, dizendo antes, em contrapartida, que o que não terá havido é uma iniciativa tão sistemática e bem divulgada como a dos Encontros ACARTE, capaz de se inscrever do mesmo modo.

 

II

Os Encontros ACARTE foram criados em 1987 sendo co-dirigidos por programadores de três instituições europeias, coisa pouco comum para a época: Madalena Perdigão, do Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian; George Brugmans, do Springdance Festival, de Utrecht, e Roberto Cimetta, do Inteatro de Polveriggi, em Itália.

A leitura dos textos do programa, bem como a consulta do arquivo geral do Serviço ACARTE ao longo desses anos, torna a relação da iniciativa com a entrada para a CEE muito clara:

«Roberto Cimetta e George Brugmans interrogaram[-se] sobre o que se passava em relação ao novo teatro, já que, desde há dez anos, se efectuam festivais em todos os países e ainda não tinham ouvido falar deste tipo de iniciativas no nosso país.[1] «A ideia, explicam-nos, partiu deles próprios, quando Portugal entrou na CEE. (…) “Pensámos que seria bom para todos haver uma troca de conhecimentos e decidimos organizar um encontro. Apresentámos o projecto à Gulbenkian e eles foram muito receptivos”.»[2].

 

Em entrevista, George Brugmans acrescentou informações sobre como apareceu a ideia de criar os Encontros ACARTE, contando que Madalena Perdigão terá, em 1985/1986 enviado uma carta a vários teatros e instituições da Europa, entre elas o Springdance Festival, manifestando o interesse do ACARTE em conhecer novas formas de teatro e dança. Segundo Brugmans sabia-se muito pouco, à época, sobre Portugal e menos ainda em termos de Artes Performativas. A ideia dos Encontros ACARTE teria então nascido numa conversa entre Brugmans e Cimetta numa viagem de comboio a caminho de um encontro do recém-criado IETM [Informal European Theatre Meeting] em Edimburgo:

 

A primeira vez que eu ouvi falar do ACARTE foi em 86 ou em 85. Ninguém sabia nada de Portugal, nem sequer estava na União Europeia, era para lá de Espanha… para quem trabalhava em Artes Performativas Portugal praticamente não existia.

Até que o ACARTE, a Madalena Perdigão, nos enviou uma carta, muitos de nós recebemos essa carta… Quando digo ‘nós’ quero dizer, esse foi o tempo, o início dos Anos 80, em que uma série de pequenos festivais de teatro avantgarde começaram a conhecer-se uns aos outros e a trabalhar em conjunto. (…) E então, eu recebi esta carta a dizer que Portugal dentro em breve iria passar a ser membro da União Europeia e que eles estavam interessados em saber o que se passava.

(…) Umas semanas depois deu-se o caso de eu estar no comboio de Londres para Edimburgo com o Roberto Cimetta, o director do festival Inteatro em Itália (…) e eu disse-lhe: ouve, Roberto, tu estás no sul da Europa e sabes imenso sobre teatro e um bocadinho sobre dança… eu estou no Norte e sei um bocadinho mais sobre dança… Porque é que não vamos lá ter com eles e lhes propomos um festival, pode ser que aceitem. E o Roberto achou que era boa ideia.

(…) E – e isto é muito importante – partiu tudo da necessidade de informação… que se foi interligar a uma plataforma que tinha acabado de começar na Europa, uma plataforma de jovens festivais… Algo que acabou por resultar no Informal European Theatre Meeting [IETM] mas que começou com doze ou quinze organizações mais pequenas: O Springdance, que estava mesmo no início, [o inteatro] de Polveriggi foi um dos primeiros, o Mickery theatre (…) começou mais ou menos como uma espécie de guerrilha de jovens festivais com vontade de dizer: hei, nós também existimos. Nós estamos a fazer uma coisa que é nova, por isso vamos juntar-nos e partilhar informação[3].

 

O IETM [Informal European Theatre Meeting] é uma rede de jovens festivais Europeus, à época não convencionais, que nasce no início dos Anos 80. Entre os seus primeiros membros contam-se, entre outros, o próprio George Brugmans, do Springdance, Roberto Cimetta, do Inteatro, o LIFT (London International Festival of Theatre), o Kaaitheatre de Bruxelas e, muito importante, Ritsaert Ten Cate, do Mickery Theater de Amsterdão, hoje considerado uma das portas de entrada da avant-garde americana na Europa (juntamente com o festival de teatro de Nancy). Como apontam autores como Mike Pearson (Pearson 2011)  e  Christopher McCullough (McCullough 1994), terá sido pelo Mickery, um espaço fundado numa quinta em Loenersloot nos arredores de Amsterdão em 1965, que alguns dos elementos que hão-de alterar radicalmente as convenções teatrais europeias terão sido difundidos na Europa, caso do uso total do espaço, a não existência de zonas fixas dedicadas a público e performers. Chega mesmo a apontar-se ao Mickery a criação de uma das primeiras black boxes da Europa. Acolhendo regularmente artistas da vanguarda Norte Americana, Inglesa e internacional como o Performance Group (encenado por Richard Schechner/ Elizabeth LeCompte), o Woster Group (de Elizabeth LeCompte), Stuart Sherman, Mabou Mines (encenado por Lee Breuer, JoAnne Akalaitis), o  Squat Theatre, o Elephant Theatre (encenado por Peter Halaz, Hungria), Needcompany (encenado por Jan Lawers), Ping Chong / Fiji company Company, Jan Fabre, entre outros… encontrando-se em estreita ligação com Ellen Stuart do La Mama Theatre de Nova Iorque, Ritsaert Ten Cate, figura compreensível à luz do internacionalismo da cidade de Amsterdão nos Anos 60, vanguardista e internacionalista convicto, adepto de um internacionalismo mais centrado na relação entre os indivíduos do que entre nações, será um dos fundadores do IETM, uma rede europeia de estruturas muitas das vezes inspiradas directa ou indirectamente pelo tipo de funcionamento do Mickery, como afirmou George Brugmans na mesma entrevista.

Em 1985, data da reunião de Edimburgo para a qual Brugmans e Cimetta se dirigiam quando tiveram a ideia de propor a realização dos primeiros Encontros ACARTE, o IETM contava já com quatro reuniões plenárias e encontrava-se em pleno crescimento. Pela frente havia igualmente a perspectiva de uma Europa comum a ser construída, com a assinatura do Acto Único Europeu, em 1986, um tratado que previa um “vasto programa para seis anos destinado a eliminar os entraves que se op[unham] ao livre fluxo de comércio na UE, criando assim o ‘Mercado Único’”[4]. Assim, depois de um primeiro alargamento em 1973 (Dinamarca, Irlanda e Reino Unido), um segundo alargamento em 1981 (Grécia), a entrada de Portugal e Espanha para a CEE em 1986 coincide com a entrada em vigor do Acto Único Europeu e com o arranque de uma série de políticas com vista a fomentar a cooperação não só económica mas também cultural e simbólica dentro de um território entendido agora não já como nacional mas como ‘Europeu’, sendo ‘Europeus’ os seus habitantes (Erasmus, Interrail, Cartão Jovem, Leonardo da Vinci, Jeux Sans Frontières, Festival Eurovisão da Canção). Os Encontros ACARTE  com a sua direcção tripartida, o seu financiamento supra nacional, a sua aposta nas colaborações e co-produções internacionais e o seu tipo de propostas estéticas e de público cosmopolita, relevam já de um entendimento da Europa pós Acto Único, em que a construção cultural entra finalmente na agenda de Bruxelas.

 

III

Para um melhor entendimento do que a expressão ‘Ideias de Teatro para Ideias de Europa’ possa sugerir, revisite-se então em traços largos alguns dos lugares e as formas de produção do teatro na Europa desde a reconstrução do Pós II Guerra Mundial e, dentro delas, o lugar que os festivais como lugar efectivo e simbólico de encontro ocupam nessa reconstrução.

Como Nicolas Ridout, Joe Keleher (Ridout, Keleher 2006) mas também Maria Delgado e Dan Rabellato (Delgado, Rabellato 2010) fazem notar, animada pela crença modernista no valor “inestimável da cultura como meio para as comunidades se reverem e reimaginarem, sarando assim traços traumáticos”, a criação dos festivais de Edimburgo e Avignon em 1947 está directamente ligada à necessidade de reconstrução europeia e à sua inscrição numa nova ordem mundial pautada pelo equilíbrio tenso da Guerra Fria. Os festivais de teatro europeus reunindo a comunidade em torno de um mesmo conjunto de valores reforçariam então um entendimento mínimo do que é ser europeu ajudando populações anteriormente em guerra a verem-se como parceiras num novo projecto cujo equivalente político e económico seria o Tratado de Roma e a estabilização das relações Franco-Alemãs, unidas num bloco maior, o do Oeste.

Estes são também os anos da criação dos Teatro Stabili (em Itália), ou do Théâtre des Nations e do Théâtre National Populaire – do teatro entendido como serviço público para uma comunidade local dentro de um Estado Nação; das companhias de autor bem enraizadas localmente, companhias essas que hão-de muitas vezes circular pela Europa como representantes do seu país natal (caso de Brecht, Stein, Weiss, Planchon…). Os eventos do Maio de 68 farão abanar estas instituições fazendo nascer o fenómeno ‘fringe’ e a contracultura em que festivais como o de Nancy ou de Rouen ou instituições como o Mickery se incluirão.

A uma vontade de reconstrução da cultura Europeia em termos, primeiro que tudo, nacionais corresponde, grosso modo, o investimento estatal em infraestruturas e equipamentos. Christopher McCulough chama-nos a este respeito a atenção para o facto de na Alemanha, entre 1948 e 1972 mais de 200 teatros terem sido recuperados, reconstruídos ou construídos de raíz. Em França será com o plano de revitalização do teatros nacional lançado por André Malraux em 1959 e, posteriormente, com a criação dos Centre Dramatiques Nationaux que tal empresa será levada a cabo.

Assim se a uma ideia de Europa constituída por nações parceiras equivale, em traços largos, uma ideia de grandes encenadores e teatros bem ancorados no seu território, a uma ideia de Europa constituída por pessoas que se relacionam entre si de acordo com afinidades pessoais e estéticas (ideia esta que se reproduz no pós Maio 68) correspondem uma série de experiências marginais (ou ‘fringe’, de que o teatro Mickery é um expoente); experiências marginais essas que, no início dos Anos 80 se organizam no Informal European Theatre Meeting. E se a princípio o IETM é uma pequena rede de festivais a contracorrente, cedo crescerá exponencialmente, contribuindo para transformar o alternativo e a vanguarda em mainstream, para o que contribuem as vontades políticas de construção cultural da Europa.

Em 1987, data da criação dos Encontros ACARTE, o IETM é ainda uma pequena rede de pequenos festivais e pequenas instituições mas encontra em Portugal uma pequena instituição, o ACARTE, alojada numa grande casa – a Fundação Calouste Gulbenkian – e com ela possibilidades de experimentação inusitadas dentro deste género de propostas. No entanto, e como bem aponta Carlos Porto, o seu tipo de programação não corresponde, de facto, ao de Avignon ou de Edimburgo, antes a uma outra ideia de teatro para uma outra ideia de Europa o que em Portugal, devido aos 48 de ditadura que afastam o país dos desenvolvimentos europeus do Pós II Guerra Mundial, assume contornos muito particulares.

É que a percepção do que é o Teatro, do que é a Europa e do que é ou possa ser o Contemporâneo (para resgatar os termos utilizados por Nicolas Ridout e Joe Keleher em Contemporary European Theatre) foi-se alterando desde o Pós II Guerra Mundial até hoje, coisa que se reflecte nos modos de imaginar e de fazer tanto as produções como os seus destinatários. O que as palavras de Carlos Porto fazem entender é que estas não são questões pacíficas nem passíveis de ser separadas dos seus contextos.

Estas são, evidentemente, linhas de análise feitas a traços largos, cuja operacionalidade será sempre provisória, carecendo de ser cruzadas com outras questões como seja uma análise dos modos de relação entre o IETM com outras redes de artes performativas ou modelos de práticas performativas (Théâtres d´Europe, circuito dos teatros estáveis, percurso dos grandes encenadores europeus do Pós II Guerra Mundial), e destas redes com um modelo de Europa cívica e cultural. Necessário será igualmente entender todas estas estruturas como não estanques mas comunicantes, permeáveis e sujeitas a hibridações várias, de acordo com os seus contextos.

[1] Diário de Notícias, 6/9/87.

[2] O Século, 10/09/87.

[3] Entrevista a George Brugmans, Amesterdão, 3 de Junho de 2011, tradução minha.

[4] Conforme está escrito no site oficial da União Europeia.

 

 

 

IDEAS OF EUROPE FOR IDEAS OF THEATRE: THE CREATION OF THE ACARTE  NEW THEATRE/DANCE OF EUROPE ENCOUNTERS

In 1987 the «Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa» [ACARTE Encounters – New Theatre Dance of Europe] were created: an annual festival held in September that was to become one of the Department’s highlights, to the extent that until the ACARTE’s extinction it was often confused and conflated with the ACARTE Encounters, as if the ACARTE was nothing but this festival, or nothing but a permanent festival.

What is the relation between the creation of the «Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa», in 1987 (EA87), and Portugal’s entry into the European Economic Community (EEC) in 1986? New European Theatre: but «new» com- pared to what? Are there different ideas of theatre for different ideas of Europe at different times? What aesthetic, philosophical but also economic and existential models are in play? What «imagined communities» do they address, who is their ideal subject?

The ACARTE Encounters were created in 1987 and were co-directed by programmers from three European institutions, which was unusual at the time: Madalena Perdigão, of the ACARTE Department of the FCG; George Brugmans, of the Springdance Festival (Utrecht), and Roberto Cimetta, of the Inteatro de Polveriggi (Italy). Reading through the programme notes and the ACARTE Department’s general archive over this period brings out quite clearly the link between the initiative and Portugal’s entry into the EEC:

Roberto Cimetta and George Brugmans asked themselves what was happening in terms of new theatre, since festivals have been taking place across all countries over the past ten years and yet this kind of initiative was unheard of in our country.[1]

«The idea, we were told, came from them, when Portugal entered the EEC.» […] «We thought it would be good for everyone to exchange information and we de- cided to organise a meeting. We presented the project to the Gulbenkian and they were very receptive.»[2]

According to Brugmans, at the time very little was known about Portugal, and even less about the field of Performing Arts in the country. The idea for the ACARTE Encounters emerged, then, from a conversation between Brugmans and Cimetta on a train trip on the way to a meeting of the newly created IETM [Informal European Theatre Meeting] in Edinburgh:

The first time I heard of the ACARTE was in 86 or 85. Nobody knew anything about Portugal, it wasn’t even in the European Union, it was on the other side of Spain… for those working in the Performing Arts Portugal hardly existed at all. And then the ACARTE, that is, Madalena Perdigão, sent us a letter, many of us received it… […] that was a time, the early 80s, when a series of small avant-garde theatre festivals began to get to know each other and to work together. […] And then I re- ceived this letter saying that Portugal would soon become a member of the Euro- pean Union and that they were keen to know what was going on.

[…] A few weeks later I was on the train from London to Edinburgh with Roberto Cimetta, the director of the Inteatro festival in Italy […] and I told him: listen Roberto, you are in southern Europe and you know a lot about theatre and a little bit about dance… I am in the north and I know a bit more about dance… Why don’t we reach out to them and propose a festival, they might welcome it. And Roberto thought that was a good idea.[…] And – this is very important – it all started from the need to get information… which then interconnected with a platform that had just started in Europe… Some- thing that eventually resulted in the Informal European Theatre Meeting [IETM] but which […] started more or less as a kind of guerrilla group of young festivals willing to say: hey, we exist too. We are doing something new, so let’s all get together and share information.

The IETM [Informal European Theatre Meeting] is a network of young European festivals, unconventional at the time, which began in the early 1980s. Its first members include George Brugmans of Springdance, Roberto Cimetta of Inteatro, the LIFT (London International Festival of Theatre), the Kaaitheatre in Brussels and, most importantly, Ritsaert Ten Cate of the Mickery Theater in Am- sterdam, nowadays considered one of the gateways for the American avant-garde in Europe, alongside the Nancy theatre festival. As authors such as Mike Pearson (Pearson 2011) and Christopher McCullough (McCullough 1994) point out, it was through the Mickery, a space founded by Ritsaert ten Cate on a farmhouse on the outskirts of Amsterdam in 1965, that some of the elements that would radically change European theatrical conventions spread throughout Europe, elements such as the total use of the space or the absence of areas designed specifically for audiences and performers. The Mickery is even credited with creating the first theatrical black box in Europe. Ritsaert Ten Cate should be understood within the framework of Amsterdam’s 1960s internationalism: a committed avant-gardist and internationalist (an internationalism more focused on relation between individuals than between nations, one should add), he was one of the founders of the IETM. The Mickery theatre would regularly host American, English and Asian avant-garde artists and troupes such as the Performance Group (directed by Richard Schechner/Elizabeth LeCompte), the Woster Group (by Elizabeth LeCompte), Stuart Sherman, Mabou Mines (directed by Lee Breuer, JoAnne Akalaitis), the Squat Theatre, the Elephant Theatre (directed by Peter Halaz, Hungary), the Need- company (directed by Jan Lawers), Ping Chong/ Fiji Company, Jan Fabre, among others. Closely connected with Ellen Stuart (of New York’s La Mama Theatre).

In 1985, the date of the Edinburgh meeting to which Brugmans and Cimetta were heading to when they had the idea of proposing the first ACARTE Encoun- ters, the IETM had already had four plenary meetings and was rapidly growing. Looming ahead, there was the prospect of a common Europe, with the signing of the Single European Act in 1986, a treaty that «provides the basis for a vast six-year programme aimed at sorting out the problems with the free-flow of trade across EU borders and thus creates the ‘Single Market’». Thus, after the first enlargement in 1973 (Denmark, Ireland and the United Kingdom), a second enlargement in 1981 (Greece), the entry of Portugal and Spain into the EEC in 1986 coincided with the Single European Act coming into force and with the launch of a series of policies aimed at fostering not only economic but also cultural and symbolic cooperation within a territory now perceived not as national but as «European», and the same applied to its inhabitants. The ACARTE Encounters, with their threefold leadership, their supranational financing, their commitment to international collaborations and co-productions and the kind of aesthetics they proposed and the cosmopolitan public they drew in, already betrays an idea of Europe that fol- lows from the Union Act, a Europe where culture had finally made it into the cen- tre of the agenda.

As Nicolas Ridout, Joe Keleher (Ridout and Keleher 2006) but also Maria Delgado and Dan Rabellato (Delgado and Rabellato 2010) point out, animated by the modernist belief in the «inestimable value of culture as a means for com- munities to perceive and reimagine themselves, thus healing traumatic elements», the creation of the Edinburgh and Avignon festivals in 1947 is directly tied to the need for European reconstruction and its inscription in a new world order marked by the tense balance of the Cold War. European theatre festivals, bringing a community together around a share set of values, would then reinforce a minimal understanding of what it means to be European, helping populations previously at war to see themselves as partners in a new project whose political and economic equivalent would be the Treaty of Rome and the stabilisation of Franco-German re- lations, united in a larger bloc, the West. These are also the years of the creation of the Teatro Stabili (in Italy), and the Théâtre des Nations and the Théâtre National Populaire – in other words, of theatre understood as a public service for a local com- munity within a nation-state; of auteur theatre companies rooted in their local communities, but which would often circulate throughout Europe as representa- tives of their home countries (such was the case with the companies headed by Brecht, Stein, Weiss, Planchon…). The May 68 events would unsettle these insti- tutions, giving rise to the «fringe» and counter-culture phenomena – in which we might include festivals such as Nancy or Rouen, or institutions such as the previ- ously mentioned Mickery theatre. The willingness to rebuild European culture in eminently national terms runs parallel, broadly speaking, to state investment in in- frastructure and cultural equipment. In this regard, Christopher McCulough points out that in Germany, between 1948 and 1972, more than 200 theatres were restored, rebuilt or built from scratch. A similar process was taking place in France through the national plan to revitalise theatres, launched by André Malraux in 1959, and through the creation of the Centres Dramatiques Nationaux, from 1946. In the mid-1980s, in the wake of the new french dance boom, there came the turn of the Centres Choréographiques Nationaux.

Thus, if an idea of a (postwar) Europe made up of partner nations is broadly equivalent to an idea of great directors and theatrical venues well anchored in their territories, an idea of Europe (post-1968) made up of people who relate to each other by way of personal and aesthetic affinities corresponds, in turn, to a se- ries of marginal (or «fringe») experiments (of which the Mickery theatre is a prime example). It is these marginal experiments which, in the early 1980s, come together in the Informal European Theatre Meeting. And while the IETM began as a small network of non-conformist festivals, it would soon grow exponentially, helping to move the «alternative» scene and the avant-garde into the mainstream, assisted by the political will to build a «cultural Europe». In 1987, when the ACARTE Encounters were created, the IETM is still a small network of small festivals and institutions, but in Portugal it found a small institution, the ACARTE, housed in a large one – the Calouste Gulbenkian Foundation – that brought with it a great potential for experimentation within this field. However, its programming line diverts from that of Avignon or Edinburgh. It embodies a different idea of theatre, geared towards a different idea of Europe – one that in Portugal, as a result of the 48 years of dictatorship that kept the country away from postwar European developments, takes on very unique contours. The perception of what the theatre is, what Europe is, and of what «the contemporary» is or can be (to go back to the terms used by Nicolas Ridout and Joe Keleher in Contemporary European Theatre) has changed from the postwar period to this day, and this shift was reflected in the ways of doing and imagining both the art- works themselves and their recipients.

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[1] Diário de Notícias, 6-9-87. O Século, 10-9-87.

[2] Interview with George Brugmans, Amsterdam, 3-6- 2011.

[3]«Pina Bausch, Bob Wilson, Tadeusz Kantor, When can we see them first-hand?», Carlos Porto (Diário de Lisboa, 25-9-87) asks, going as far as to suggest the creation of another festival, to run parallel to the ACARTE Encounters, where a series of shows (which he perceived as essential) could be presented.