Sobre
Continuam em 1988 os concertos de músicas do Mundo. No programa deste ciclo, Madalena Perdigão traça em retrospectiva a vocação internacionalista do Serviço:
VOZES DO MUNDO é talvez um título demasiado ambicioso para classificar um
cicio de onze concertos, em que figuram apenas três grupos de interpretes diferenciados. Mas e um título que aponta um caminho: o da abertura ao mundo, que demasiadas vezes somos tentados a circunscrever a Europa, ou a Portugal, quando não à nossa aldeia … O ACARTE tem procurado manter-se fiel a sua vocação internacionalista – que nem por o ser descuida o estímulo e 0 fortalecimento dos valores portugueses – e este cicio constitui mais uma prova do seu pendor extra-europeu, a acrescentar-se às Jornadas de Letras e Artes dos Países Africanos de Língua Portuguesa, a apresentação dos espectáculos de dança africana de Elsa Wolliaston, dos espectáculos de marionetas chinesas de Fujian, de dança japonesa por Eiko and Koma, de teatro infantil japonês Kaze-No-Ko, de dança argentina e brasileira contemporânea, de canções cumana, da Venezuela. Vozes do Mundo inclui um grupo vocal europeu, procedente da Grã-Bretanha, THE LIGHT BLUES, caracterizado pela versatilidade e virtuosismo com que aborda os mais diferentes géneros musicais – da musica erudita a folclórica, do Jazz as canções dos The Beatles: Inclui a seguir um grupo vocal – instrumental asiático, o grupo paquistanês de NUSRAT FATEH ALI KHAN, que vem trazer ao nosso conhecimento a expressão genuína dos cânticos religiosos Sufi, os Qawwali, com uma tradição que se reporta a mais de seiscentos anos, e pela voz de um dos maiores Intérpretes de todos os tempos. Finalmente o Ciclo Vozes do Mundo apresenta dois grupos vocais-instrumentais africanos, mais precisamente do Mali, em que os valores tradicionais se unem a pesquisas e influências de outras proveniências, culminando num som próprio e muito particular. São eles ALI FARKA TOURÉ e JALI MUSA JAWARA e os respectivos músicos. Possam estes exemplos da forma por que a voz humana é utilizada em diferentes continentes, dos resultados artísticos assim obtidos, possam eles constituir pontos de partida para novas experiências e novas linhas de pesquisa dos músicos portugueses. Possam também contribuir para o alargamento dos horizontes musicais e culturais do nosso público, de acordo com os objectivos do ACARTE.
Janeiro de 1988,
M.M.A.P”
Diz a imprensa a este respeito:
Oriunda da Venezuela, a Serenata Guayanesa actuou ontem à tarde no CAM da FG para um hilariante e entusiástico público: as crianças. […] Envergando o trajo nacional de gala […] Miguel Angel […]; Iván Perez Rossi […]; César Perez Rossi […] e Maurício Castro […] realizaram ontem dois espectáculos, um consagrado em especial à criançada e o outro aos restantes grupos etários. Se o primeiro foi um retumbante êxito, o segundo seguiu-lhe o exemplo. […] Trata-se de um agrupamento muito versátil, uma vez que agrada tão facilmente às crianças como aos jovens e aos adultos. Ao longo da sua respeitada experiência fizeram digressões pelos Estados Unidos, pelo Chile, Colômbia, Panamá, México, Jamaica, Argentina, Inglaterra, França, Itália, Alemanha Federal e Espanha, país onde actuaram recentemente no palácio da Fitur, Feira Internacional de Turismo. A esse propósito opinaram: “Os ‘stands’ sobre Portugal estavam muito bem concebidos, mesmo um primor. Um dos aspectos mais apreciados foi o folclore português”.” (Correio da Manhã, 5-2-1988)
Ficha Técnica
Grupo
ALI FARKA TOURE, AMADOU SISSE, DJELI MOUSSA DJIAWARA, FODE KOUYATE, MARIAMA DJIABATE, DJENE KAMARA, KALAFA KAMARA E ANN TUCKER