Sobre
O ano de 1987 começa com um ciclo de homenagem a Federico Garcia Lorca, que conta com a apresentação dos espectáculos “Fe-de-ri-co” da autoria de Constança Capdeville, e “O Amor de D. Perlimplim com Belisa no seu jardim” pelo jovem encenador Nuno Carinhas e de um colóquio sobre Lorca bem como concertos e mesas redondas.
Escreve Madalena Perdigão a esse respeito:
“Uma das mais fortes emoções teatrais que senti na minha juventude foi em 1948, o ano em que pela primeira vez se apresentou em Portugal uma peça de Federico Garcia Lorca, A CASA DE BERNARDA ALBA. Assisti ao espectáculo em Coimbra, no «galinheiro» do Teatro Avenida, e recordo ainda a expectativa de que se rodeou essa estreia e quão fundo marcaram a minha memória as actuações de Palmira Bastos, Maria Matos e Maria Barroso e a encenação de Amélia Rey-Colaço. Foi como o «negro relâmpago» de que fala Neruda a respeito de Lorca, algo que rasgou a escuridão e desvendou outro mundo, o mundo trágico e violento da arte do poeta andaluz. Suponho que será assim com toda a gente: um primeiro contacto, e fica-se rendido ao vigor, à sensibilidade, à autenticidade que ressuma a obra de Garcia Lorca. O fascínio do seu teatro estende-se a actores e encenadores, a intelectuais e estudantes, aos artistas plásticos, ao público em geral. É difícil encontrar outros autores estrangeiros do século XX mais traduzidos e mais representados entre nós. O Amor de D. Perlimplim com Belisa em Seu Jardim ilustra o que dizemos. Três vezes encenada em Portugal (em 1959, 1984 e 1985), esta peça suscitou agora o apaixonado interesse de Nuno Carinhas, quase recém-chegado à profissão de encenador. Houve a vontade de lhe dar uma oportunidade, a ele e aos jovens actores e criadores de que se rodeou. É também o Lorca das primeiras peças de teatro – ainda sem o peso dramático das suas peças posteriores, como «Bodas de Sangue», «Yerma», «A Casa de Bernarda Alba» – é o Lorca dos 30 anos que Dom Perlimplim revela. E espera-se que deste Encontro com Lorca nasça uma nova visão do seu universo poético e dramático e surjam novos estímulos para a interpretação e para a fruição da sua obra.
M.M.A.P”
E na imprensa pode ler-se:
“[…] a apresentação deste espectáculo constitui também acontecimento nacional, pois marca o aparecimento na cena teatral portuguesa de um encenador, Nuno Carinhas, que tal como Ricardo Pais nos inícios dos anos setenta em Londres, se estreia com esta pequena farsa em quatro actos […] Se a marca de primeira encenação se evidencia no cuidado posto em nada esquecer, a pluralidade significa e referência à patente no espectáculo, encontra a sua plena justificação numa voluntária integração intertextual que enuncia, na economia da encenação, o que de mais interessante a caracteriza, ou seja, a provocação e o risco, elementos muito bem vindos ao actual teatro português.” (Eugénia Vasques, Expresso, 10/01/87)
“Amor de Dom Perlimplim acabou, pois, num puro objecto estético, sacrificando o entendimento da narrativa […]. O objecto é bonito? Nuno Carinhas, a cenógrafa e figurinista Vera Castro, os outros, tudo fizeram para isso. Talvez demais.” (Jorge Listopad, jornal não identificado, arquivo do ACARTE)
“Faltou a Nuno Carinhas, que assim se estreia na encenação depois de nos ter criado espaços cénicos brilhantes, um maior investimento nas sensações, nos sentimentos, na análise por dentro das paixões tão irrefreáveis contidas neste texto. […] Plasticamente é muito bela esta encenação que nela tem marcadas as virtudes e defeitos da sua proveniência – um artista plástico.” (jornal não identificado, arquivo do ACARTE)
Ficha Técnica
Tradução
EUGÉNIO DE ANDRADE
Encenação
NUNO CARINHAS
Dramaturgia
NUNO CARINHAS E FERNANDO FARIA
Intérpretes
ANTÓNIO PIRES, ANAMAR, LUÍSA CRUZ, ISABEL ALARCÃO, LUÍS MADUREIRA, JOSÉ WALLENSTEIN,
Cenário e Figurinos
VERA CASTRO
Assistente de Encenação
FERNANDO FARIA
Assistente Musical
LUÍS MADUREIRA
Desenho de Luzes
PAULO GRAÇA
Aderecista
JOÃO CALVÁRIO
Fotografias
INÊS GONÇALVES
Penteados
VICTOR HUGO
Montagem
DAVID ALVES MENDES
Mestre de Guarda-Roupa
MANUELA GUERREIRO
Técnicos de luz
PAULO GRAÇA E JORGE GONÇALVES
Técnicos de Som
JORGE MARTINS E PEDRO ANTUNES
Maquinistas
RICARDO ROSA, ILÍDIO ARAÚJO E LUÍS SILVA
Direcção de Cena
HENRIQUE MARTINS
Direcção de Produção
EMÍLIA ROSA