Bonecos de Santo Aleixo

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Sobre

A apresentação dos bonecos de Santo Aleixo no ACARTE soma-se ao interesse do serviço na apresentação de teatro de Marionetas (que neste programa é apresentado em retrospectiva), interesse tanto maior quanto é por esta altura que se começam a redescobrir e a preservar os bonecos de Santo Aleixo enquanto património cultural português. Madalena Perdigão contextualiza:

 

“Que o património nacional não são só os monumentos, as igrejas, os teatros, a pintura e a literatura eruditas – todos os vão sabendo, hoje em dia. Património nacional são também os costumes e as formas de arte tradicionais, as expressões da sabedoria popular transmitidas de geração em geração. Recuperar o património nacional passa também, portanto, pela recuperação de expressões artísticas populares. A presente existência de os Bonecos de Santo Aleixo constitui exemplo vivo duma acção de recuperação do património nacional, cujo mérito importa realçar.
Fatigado Mestre Talhinhas, o grande animador dos Bonecos, durante anos, arrumados estes, poderia ter-se perdido esta forma de arte. Não fora a iniciativa da
Assembleia Distrital de Évora, o empenho do Centro Cultural de Évora, 0 sempre discreto mas eficaz auxilio do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian e 0 apoio da Secretaria de Estado da Cultura, não fora 0 concertado interesse destas diferentes entidades e talvez os Bonecos já não existissem.
Assim, tendo-se procedido ao levantamento do repertório e recriação das técnicas de manipulação com a inestimável assistência do Mestre Talhinhas, os Bonecos aí
estão, com todo o peso do seu significado histórico e social, a permitirem-nos um mergulho no imaginário do nosso povo. Mais. Beneficiando de um renovo de interesse pela arte das marionetas que se vem verificando um pouco por toda
a parte, os Bonecos de Santo Aleixo tem levado a sua arte além fronteiras.
Arte menor, concerteza, como o e a arte das marionetas, mas plena de vitalidade, propiciando a participação do publico no espectáculo e tão vincadamente portuguesa. O ACARTE, que já apresentou espectáculos de marionetas chinesas, inglesas, francesas e checoslovacas – além das companhias portuguesas Marionetas de Lisboa, que aqui fez a sua primeira apresentação publica e Marionetas de S. Lourenço – tem o maior gosto em proporcionar aos Bonecos de Santo Aleixo a possibilidade de mostrarem, ao publico de Lisboa, algumas pérolas do seu reportório.

 

Lisboa, Janeiro de 1988
M.M.A.P.”

 

Na imprensa pode ler-se:

 

Os Bonecos de Santo Aleixo estarão na sala polivalente do ACARTE, na Gulbenkian, em Lisboa, de 9 a 14 de Fevereiro, para a apresentação de uma série de espectáculos, a primeira que o grupo realiza nas instalações da Fundação. […] Conta um texto do Centro Cultural de Évora: “Há anos, os Bonecos de Santo Aleixo eram dois caixotes cheio de bonecos de cortiça, alguns paus arrumados a um canto, uma guitarra cheia de recordações, um tambor calado que já não chamava ninguém para um serão um pouco mais quente […]”. Mas, em 1979, com o apoio da Assembleia Distrital de Évora, as marionetas de Santo Aleixo passaram das mãos de António Talhinhas, seu criador, para o Centro Cultural de Évora. E foi o próprio mestre Talhinhas que orientou, em 1980, o levantamento do repertório e a fixação das técnicas de manipulação e elocução. […] É bem verdade, como diz um texto do ACARTE, que o património nacional não são só os monumentos, as igrejas, os teatros, a pintura e a literatura eruditas. Património nacional são também os costumes e as formas de arte nacionais, as expressões de sabedoria popular transmitidas de geração em geração – um exemplo são os Bonecos de Santo Aleixo. (O Diário, 28-1-1988)

 

Ainda vi o Baile dos Anjinhos e outros engraçados números dos Bonecos de Santo Aleixo, apresentados por mestre Talhinhas e seus familiares, inclusive o famoso Manuel Janeca, calceteiro de ofício em Estremoz. Faziam os espectáculos no Inverno, a partir da Primavera tinham outras preocupações sazonais… Espectáculos autênticas, directos, agressivos, algo confusos, sempre salvos in extremis, talvez com a ajuda dos aninhos… Hoje, ou melhor, na semana passada, os nossos pequenos alter ego, os bonecos, tiveram a honra de representar pacificamente, na Torre de Belém e na Acarte da FG, desta vez já orientados por actores de profissão, do Centro Cultural de Évora, que cuida desse património, como das meninas dos olhos. E é justo que assim seja.  (Diário de Notícias, 16-2-1988)

 

Mais uma vez, o ACARTE apresenta marionetas no CAM da Gulbenkian. Desta vez, são os Bonecos de Santo Aleixo, um exemplo de recuperação do património e das tradições populares alentejanas. […] Depois das marionetas de Lisboa, das de S. Lourenço e de outras companhias chegadas da China, da Inglaterra, da França e da Checoslováquia, o ACARTE regressa a este tipo de espectáculo com o habitual sucesso, de que a lotação esgotada de ontem pareceu já garantia. […] Longe vai o tempo em que um camponês de Santiago do Rio de Moinhos, António Talhinhas, animava de improviso os serões de Inverno das redondezas, à luz de uma candeia. Hoje, as sombras dos “manipuladores” do Centro Cultural de Évora pousam sobre as paredes modernas e os tectos altos do CAM. Destes contrastes estranhos, impensáveis há pouco mais de duas décadas, se faz a sobrevivência de algumas tradições populares. […] Mas Lisboa conhecia já essa “maravilhosa criação do imaginário popular alentejano” (como lhe chamou Mário Barradas). Em 1967, mestre Talhinhas, a sua família e Manuel Jaleca tinham apresentado as marionetas na Casa da Comédia. O sucesso foi inesquecível, os bonecos estavam “consagrados”. Antes que tomassem o caminho da imobilidade dos museus, o Centro Cultural de Évora decidiu que seria bem melhor mantê-los activos, procedendo ao levantamento do reportório e à criação das técnicas. Desde 1975, data da criação do Centro Cultural de Évora, que os responsáveis se preocuparam em manter a tradição dos Bonecos de Santo Aleixo. […] Actualmente, os bonecos são conhecidos no Japão, na Polónia, na Bélgica, na Suécia, na França. Todos estes países os convidaram recentemente para participar em festivais internacionais de marionetas. […] Apesar de os bonecos “falarem” agora para um público selecto e dado a (outras) culturas, apesar de o bilhete ser pago em vez de “esmolado”, no intervalo, por um dos membros da companhia, e apesar dos nomes agora ridicularizados serem os dos críticos presentes na sessão; apesar de tudo isso, quase ficamos à espera, no fim, dever desmontar a barraquinha fixa às paredes assépticas do CAM e de encontrar, ali à porta, a carroça ”estacionada” à espera dos mesmos títeres.” (Marina Tavares Dias, Diário Popular, 10-2-1988)

Ficha Técnica

Actores Manipuladores

ANA MEIRA, GIL SALGUEIRO NAVE, ISABEL BILOU, JOSÉ ALEGRIA, JOSÉ RUSSO, VÍTOR ZAMBUJO

Acompanhamento Musical

GIL SALGUEIRO NAVE

Pesquisa Histórica

ALEXANDRE PASSOS

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