Sobre

Na imprensa pode ler-se:

 

Foi com a estreia mundial de “Coeur de Lion”, do francês Jean-François Duroure, que se iniciaram os II Encontros Acarte 88 – Novo Teatro-Dança da Europa, na noite de ontem, no Grande Auditório da FCG. […] A realização dos II Encontros Acarte 88 tem como objectivo principal a divulgação dos novos modelos de bailado e do teatro de vanguarda assim como as suas características e soluções de representação estética, através do trabalho de artistas actuais, como é o caso do já referenciado jovem coreógrafo Duroure. (A Capital, 8-9-1988)

 

Uma das novidades do programa desta segunda edição [dos Encontros do novo teatro e dança europeus] reside na inclusão de várias co-produções Acarte, facto que ajudou a proporcionar a ocorrência, aqui em Lisboa, de duas estreias mundiais. […] Mas não pensem que a FG resolveu patrocinar o talento de um jovem desconhecido e inexperiente. Duroure tem-se empenhado a fundo na actividade criativa e, apesar da tenra idade, conta já com cinco anos de produções encomendadas e apresentadas por importantes companhias e festivais de dança. […] À medida que o tempo foi passando comecei a espantar-me com o meu comportamento. Estava irrequieta, cansada, nunca mais acontecia nada… Mas como era possível não estar emocionada com um espectáculo com tantos aspectos positivos incluindo, principalmente, a qualidade inegável do movimento de Duroure? […] Quando uma obra nos apresenta, à partida, um guião-base – como é o caso de Coração de Leão – é natural que tentemos estabelecer um paralelo entre as suas características formais e o suposto conteúdo. E se não conseguimos é natural que nos sintamos frustrados. […] À luz destas interpretações alguns aspectos da coreografia de Duroure revestiram-se de conotações para mim, na altura, perfeitamente insuspeitadas e passei então a penetrar na lógica das suas intenções. Aliás, mesmo que não fossem estas as suas intenções, pouco importa, encontrei finalmente uma lógica qualquer, que me satisfez. O que interessa frisar é que ela foi forjada depois de muitas dúvidas e algumas leituras, ou seja, tarde demais (Maria de Assis, Tempo, 15-9-1988)

 

Encantos e Desencantos da Dança Francesa Contemporânea
Apesar da sua ainda breve existência, os “Encontros Acarte” – feliz e altamente meritória iniciativa do Acarte, da FCG – ganharam já profundas raízes entre nós, particularmente entre um vasto público de jovens, artistas e intelectuais que, entusiasticamente, acorreu à edição destes encontros no ano passado e, não menos entusiasticamente, em poucos dias esgotou as lotações para todos os espectáculos da presente edição. Tal como no ano passado, estes “Encontros Acarte 88” são dedicado ao Novo Teatro-Dança da Europa embora algumas das companhias ou dos conjuntos que os integram nem sempre tenham a dança como uma das primordiais vias de expressão das suas estéticas; poderemos até dizer que alguns espectáculos destes encontros pouco (ou, até, nada) têm a ver com a dança. Seja como for não se pode negar o importante aspecto cultural, artístico e didáctico de que os “Encontros Acarte” se revestem, pois correspondem inteiramente àquilo que é o seu principal objectivo: “informar o público, examinar em que consiste a identidade europeia, sublinhar as semelhanças sem deixar de pôr em relevo as diferenças e suscitar a discussão”, como, no programa geral dos encontros, afirma MAP, directora do Acarte. E mais do que isso: estes encontros têm-nos revelado as novas estéticas e as novas linguagens que o teatro e a dança e, até, as artes plásticas e a literatura estão experimentando no resto da Europa. Esta acção de fornecer ao nosso público e aos nossos artistas (que não podem acompanhar a actividade cultural e artística do estrangeiro in loco) elementos da artes contemporânea e elementos de actualização parece-me ser o aspecto mais positivo dessas e doutras iniciativas do Acarte que assim vem ajudar a que se desfaça aquela fatalidade de andarmos sempre na cauda da Europa, que desde há muito tem sido uma constante da nossa vida cultural e artística. Pessoalmente poderei até afirmar – porque disso tenho provas concludentes – que os “Encontros Acarte 87” tiveram particular influência em muitos jovens artistas e estudantes portugueses pelas novas perspectivas que lhes abriram. […]
Uma estética sem tradição
Antes de tudo o mais convém recordar aqui alguns factos: as estéticas e os estilos de dança não clássica em França quase não têm ainda tradição e quando em França foram introduzidos esses estilos e essas estéticas depararam com o peso poderoso e esmagador de uma tradição de dança académico-clássica de quatro séculos; apesar de a França ser um país secularmente predestinado a ser berço, a receber e a desenvolver todos os movimentos estéticos de vanguarda (da pintura à literatura, da música ao teatro e ao cinema) a verdade é que as estéticas coreográficas modernistas tiveram ali dificuldades em se impor e ganhar raízes e note-se que o grande renovador e inovador da dança francesa foi Maurice Béjart, cuja obra de inovação e renovação é feita a partir da dança académico-clássica e não contra ela como o fizeram os teorizadores e doutrinadores do expressionismo germânico e da modern dance norte-americana […]. Se Coeur de Lion não me entusiasmou, tal como Pudique Acide-Extasis a verdade é que me proporcionou um belo espectáculo… Talvez porque, sobretudo, eu admiro os coreógrafos inteligentes e de bom goto, os coreógrafos para quem a violência, a brutalidade e o falso erotismo não são as únicas expressões da modernidade. São gostos, são feitios! Mas eu admiro a modernidade, a vanguarda, a juventude, sobretudo porque começo a ser velho.” (Tomás Ribas, A Capital, 15-9-1988)

Ficha Técnica

Co-produção

COMPAGNIE JEAN-FRANÇOIS DUROURE E ACARTE