Sobre
Num país em acelerado processo de urbanização, o ACARTE organiza um colóquio, acompanhado por um ciclo de actividades (poesia, música, actividades no Centro de Arte Infantil), sobre o tema o “Imaginário da Cidade – cidade real, cidade imaginária”. Muitas vezes estes colóquios correspondiam à resposta positiva por parte de M.M.A.P a propostas e sugestões que lhe eram apresentadas por parte de críticos ou académicos. É de notar que o colóquio “O imaginário da cidade” comportou a apresentação de Fado na FCG, uma música ainda em muito considerada popular. Vejamos a este respeito a imprensa:
“Prossegue no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian o colóquio […] subordinado ao tema “Cidade Real/Cidade Imaginária”. […] Como manifestação completa complementar foi inaugurada, no salão de exposições temporárias, uma mostra de pintura, “ O Imaginário da Cidade”. Madalena de Azeredo Perdigão diz-nos: “Quando Yvette Centeno me falou do seu projecto de organizar um colóquio sobre o “Imaginário da Cidade”, pensámos ambas em alargar o projecto às artes plásticas, à música e à poesia. Pensámos também que seria necessário circunscrever o tema do Colóquio, pelo menos no respeitante a algumas dessas actividades complementares, à cidade de Lisboa […]” (Eduardo Guerra Carneiro, Diário Popular, 14-10-1985)
Sobre o colóquio em si, onde as tensões da época Reagan se fazem sentir, pode ler-se:
“José Angel Cilleruelo, poeta catalão, de Barcelona, Maria Irene Ramalho de Sousa Santos, da Faculdade de Letras de Coimbra, e Alberto Pimenta, com formação universitária, mas poeta por excelência, foram os últimos intervenientes no colóquio da Gulbenkian sobre o Imaginário das Cidades. Diga-se, desde já: a comunicação do autor do “Labirintodonte” e de “A Visita do Papa”, aguardada com certa expectativa, ultrapassou mesmo o que se esperava do poeta. A intervenção de Alberto Pimenta, com uma linguagem fácil e coloquial, prendeu a atenta assistência do auditório do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian que, no final, o aplaudiu demoradamente. […] Da intervenção de Maria Irene Ramalho destacamos […]: “ Na mensagem que dirigiu aos portugueses em 10 de Junho de 1984, Reagan comparou os povos de Portugal e dos Estados Unidos quanto à grandeza dos seus destinos respectivos: Portugal cumpriu-se (e aqui Reagan, ingenuamente, se afasta de Fernando Pessoa) ao descobrir o Novo Mundo; a nação americana cumpre-se, cumprir-se-á, na assumpção do seu destino de eleição e de missão no mundo.” Maria Irene Ramalho lembrou depois que na sua recente visita a Portugal, de novo Reagan nos ofereceu o confronto dos nossos destinos, “surgindo Portugal, 10 anos depois do 25 de Abril, ao que parece com a ajuda da Senhora de Fátima como uma espécie de testemunho democrático da eterna missão da América no Mundo”. […]” (Eduardo Guerra Carneiro, Diário Popular, 14-10-1985)
Rui Cardoso, do Diário Popular resume:
“A cidade está doente e a cura não está à vista. […] É nisto que fico a pensar depois de assistir ao colóquio da Gulbenkian sobre o imaginário das cidades. […] No entanto, as coisas mudaram. A vida nas metrópoles cada vez se afasta mais dos modelos sonhados pelos alquimistas e pelos iluminados. O “stress”, a agressividade, a poluição, a sobreocupação de todos os espaços tendem a tirar todo o gozo ao viver urbano. Entretanto, gerou-se um mecanismo perverso que contraria todas as tentativas de ”renascimento das cidades”. A grande metrópole transformou-se num espécie de animal parasita que suga todos os recursos do resto do território. […] A área metropolitana de Lisboa corresponde a cerca de cinco por cento do território mas alberga quase um quarto da população, as sedes sociais da maior parte das empresas, e a maior parte do crédito e do investimento. […] Crescendo, a metrópole torna-se mais cara e mais ingovernável. Será preciso drenar mais recursos das zonas pobres para a manter viva. […]” (Rui Cardoso, Diário Popular, 14-10-1985)
Ficha Técnica
Coordenação
YVETTE KACE CENTENO
Orientadores das Sessões
YVETTE KACE CENTENO, MARIA LEONOR CARVALHÃO BUESCU, CLAUDE-GILBERT DUBOIS E STEPHEN RECKERT