Sobre
O Teatro encontra no ACARTE a ocasião para superar algumas das suas lacunas históricas e de levar à cena os clássicos, neste caso a representação de Hamlet que não era encenado em Portugal há mais de 50 anos. O ciclo Hamlet foi acompanhado de um colóquio e de concertos de música antiga.
Diz-nos a imprensa a este respeito:
Um cuidado conjunto de realizações (mesas-redondas, exposições, conferências, apresentações fílmicas, recitais, etc) envolve este Hamlet da ACARTE, transformando-o num dos principais acontecimentos culturais do ano. (Fernando Midões, Diário Popular, 27-5-87)
Madalena Perdigão explica a pertinência da iniciativa:
Centenário da primeira apresentação de HAMLET em Portugal, ocorrida em Janeiro de 1887; aniversário da morte de Shakespeare, em 23 de Abril de 1616; aniversário provável, também, do nascimento do poeta-dramaturgo, em dia de S. Jorge de 1564 – este dia 23 de Abril de 1987 era bem a data predestinada para a estreia do novo HAMLET português. Com a humildade necessária a quem se aproxima de uma obra de arte genuína, mas procurando assumir a dignidade exigida pela sua grandeza, este HAMLET pretende tão só colocar ao alcance do maior número a riqueza literário-dramática da peça, a personalidade plurifacetada do protagonista e o fascínio que uma e outra têm exercido sobre sucessivas gerações de estudiosos
Contrariamente ao que aconteceu em tantas iniciativas anteriores do ACARTE, não
foi aqui a ideia do risco e a obrigatoriedade de correr perigos que nos atraíram.
Pensámos, sim, que valia a pena congregar esforços para trazer ao convívio do público uma obra prima da literatura mundial, partindo de algumas premissas seguras, tanto quanto a segurança é possível em coisas de arte: a tradução dum poeta como é Sophia de Mello Breyner; a dramaturgia dum especialista em HAMLET da categoria do falecido Prof. Fernando de Mello Moser; a encenação de Carlos Avilez, imbuída dos ensinamentos daquele Professor e estuante do poder criador deste homem de teatro, amadurecido por dez anos perpassados sobre o seu primitivo projecto de HAMLET. Assim, e depois de ouvido o Conselho Consultivo de Teatro, o edifício construiu-se com a adjunção dos restantes artistas criadores, dos actores e consultores e ainda com a colaboração do pessoal administrativo e técnico do ACARTE – um quadro mínimo que, com grande devoção e competência, conseguiu levar a cabo, num tempo record, a produção desta tão complexa obra.
Esperamos que será uma interpretação válida da peça de Shakespeare, a que vamos ver. Discutível, com certeza, mas baseada em opções tomadas conscientemente e depois de uma reflexão sobre as várias opções possíveis, à luz de numerosos estudos publicados. Uma interpretação global válida de HAMLET, eis o que nos propusemos. Nem paradigmática, nem única, nem muito menos eterna, até porque, se eternas são as obras de arte, nenhuma interpretação, de nenhuma obra de arte, poderá sê-lo jamais.
Abril 1987
M.M.A.P.
Ficha Técnica
Participação
MARIA MADALENA DE AZEREDO PERDIGÃO, JOÃO ALMEIDA FLÔR, PETER BRINSON, GEOFFREY ASHTON, FEDELE D'AMICO, RUI VIEIRA NERY, MARIA JOÃO DA ROCHA AFONSO, LUÍSA ALVES, MARIA HELENA DE PAIVA CORREIA, ÁLVARO PINA, MARIA HELENA SERÔDIO, MARIA LEONOR MACHADO DE SOUSA, VASCO GRAÇA MOURA, EURICO FIGUEIREDO, LUIZ FRANCISCO REBELLO, JOSÉ CARLOS DIAS CORDEIRO, RAÚL ROSADO FERNANDES, JOAQUIM ROMERO DE MAGALHÃES