Sobre
Na imprensa ler-se-á:
A Companhia de Dança de Lisboa tem por objectivo a descentralização e divulgação do bailado, colocando, agora, como outro objectivo a procura de novas formas que lhe possibilitem uma língua própria. […] nos dias 7, 8 e 9 de Abril decorrerá um importante colóquio sobre “Perspectivas da Dança nos finais do século XX”, no qual coreógrafos e críticos/teóricos portugueses terão interlocutores de excepção, sendo de esperar que a dinâmica de reflexão em comum possa suscitar um debate frutuoso. (Correio da Manhã, 31-3-1988)
A Companhia de Dança de Lisboa inaugurou o ciclo ‘Perspectivas da Dança nos Finais do Século XX’:
DOIS TRABALHOS MUITO DIFERENTES
O programa que a Companhia de Dança de Lisboa trouxe para a abertura do debate sobre tendências e perspectivas da dança neste fim de século compreende duas coreografias de Mark Haim: “Sopa do Dia” e “Sete Situações à Volta da Mesa”. […] “Sete Situações à Volta da Mesa” é um exercício rítmico com reminiscências da criação do “Bolero” de Ravel, por Maurice Béjart, estreado em 1985. […] “Sopa do Dia” é um bailado de “dança-teatro” com intenção polémica. Há um objecto para o bailado e esse não é o movimento harmonioso dos dançarinos. Isso é pretexto para o exercício crítico sobre a banalidade do quotidiano. Um quotidiano que é o da civilização mediática profetizada por Mcluhuan. A “Galáxia Marconi” é um imenso tecido electrónico lançado sobre toda a “aldeia planetária”. Ele ocupou o lugar do sistema nervoso humano. Aos neurónios substituíram-se as conexões transistorizadas dos computadores. O bailado assenta num texto e desenvolve-se num barroquismo de formas, que entram e saem da cena para mimar uma excursão turística, uma estadia de fim-de-semana ou o banal auditório televisivo. O tom panfletário do texto – é iniludivelmente acentuado por um interpretação enfática e caricaturizada de Clara Andermatt (no papel da public relations). […] A seguir, o Ballet Gulbenkian apresenta na 6ª feira, às 21 e 30, no Grande Auditório o seu reclamado espectáculo “Presley ao Piano”, uma coreografia de Olga Roriz, feita em colaboração com Ricardo Pais.” (O Diário, 6-4-1988)
“Uma certa pesquisa transparece em determinados aspectos e achados da linguagem gestual e da expressão corporal dos bailarinos. Ritmos modernos e incidências de cariz expressionista combinam-se ou alternam-se. Estas algumas impressões que deixou a Companhia de Dança de Lisboa na sua actuação de ontem no CAM.
A Companhia de Dança de Lisboa, que conta já cerca de quatro anos no seu activo, tem-se mostrado fiel a duas preocupações dominantes. Por um lado, o propósito de descentralizar, procurando sensibilizar e atrair novos públicos, percorrendo as zonas mais diversas do país (para lá das actuações no estrangeiro) e efectuando espectáculos em locais e meios muito diferentes. Por outro lado, o culto de uma linha experimental que se traduz na busca de novas formas e linguagens. Mas importa realçar um sopro de juvenilidade que se relaciona não apenas com a idade dos bailarinos mas especialmente com a euforia de movimento que anima as realizações. A modernidade que impera na orientação deste grupo assenta tanto no carácter do fundo sonoro utilizado, como nas alusões ao quotidiano, à vulgaridade de situações. E a verdade é que se sentiu já uma apreciável homogeneidade no estilo alcançado nas realizações da Companhia de Dança de Lisboa, a despeito de os seus componentes provirem de escolas e ideários artísticos diferentes. […] estas algumas impressões que me deixou a Companhia de Dança de Lisboa na sua actuação de ontem na Sala Polivalente do CAM.(Diário Popular, 7-4-1988)
Ficha Técnica
Coreografia
MARK HAIM