Sobre

A respeito da participação portuguesa nas conversas e mesas-redondas dos encontros ACARTE escreverá Carlos Porto:

 

ausências – um aspecto em que os Encontros ACARTE falharam, sem que lhes possamos assacar quaisquer culpas, foi o de interessar a gente do teatro português incluindo dramaturgos, que esteve quase totalmente ausente, não só dos espectáculos, onde apareceram, pelo menos alguns actores, mas sobretudo nas conferencias, mesas redondas, debates. Não tinham nada a aprender com os profissionais estrangeiros, os nossos profissionais? Mesmo reconhecendo as dificuldades que grande numero de artistas e técnicos do teatro português, têm para estar presentes com alguma regularidade, o problema, quer-me parecer situa-se noutra área, a da recusa de intervenção dos portugueses na áreas teóricas que lhes dizem respeito.

O progresso de um povo avalia-se também pela capacidade que demonstra em gerir produtivamente os instrumentos tecnológicos de que dispõe. Somos um povo, vê-se dolorosamente atrasado.

Outra ausência: a de funcionários e representantes da SEC.

Novo teatro, teatro jovem, dança teatral- qualquer designação servia mal para classificar espectáculos híbridos, pouco criativos, que não manifestavam a coragem de assumir um projecto alternativo.

Balanço, pois, positivo, embora com reticencias. Positivo sobretudo em termos genéricos, como formulação e realização de um conjunto de iniciativas que se congregaram e mutuamente se enriqueceram.

Espaço – espaços – já se escreveu, mas não é demais repeti-lo: os Encontros tinham um trunfo infalível, jogaram-no sem medo – ganharam. O trunfo era, evidentemente, o conjunto de espaços que constituem o complexo Gulbenkian/CAM e que, pela primeira vez, foram aproveitados descontraidamente, como convinha.

Futuro – Não parece difícil calcular o futuro dos Encontros ACARTE: a sua continuação parece garantida pelo evidente êxito de organização, êxito de critica. Será justo, no entanto, perguntar se não haverá necessidade de criar, paralelamente a este e na impossibilidade de alterar este, um outro festival que permita o conhecimento de outras companhias e de outros caminhos do teatro
[…] António Augusto Barros exprimiu nestes termos: “depois de uma longa espera o teatro português sustentara o desejo de poder ver, à semelhança das capitais europeias, os grandes grupos e os grandes criadores do teatro contemporâneo: Stein, Chéreau ou Vitez, Bob Wilson, Forman, Kantor ou Gruber e um etc. muito grande. É uma grave lacuna que precisamos colmatar[…]”

O que aconteceu foi que o publico de Tondela assumiu o espectáculo como um ritual serio, o publico de Lisboa, grande parte dele, apreciou o espectáculo como um mero divertimento.

Segunda mão – a propósito de alguns espectáculos falou-se em artistas e criações que por eles teriam passado, falou-se por exemplo, de Pina Bausch, de Bob Wilson, de Tadeusz Kantor, de outros. Quando poderemos vê-los em primeira mão?

Os Encontros ACARTE 87 já lá vão; no entanto, o seu rastro ainda não desapareceu nem pode desaparecer tão cedo. Resta agora que os seus responsáveis meditem nos resultados obtidos, nas criticas que foram feitas, na necessidade de tomar em consideração a realidade em que vivemos onde existem ruptura no que se refere ao nosso conhecimento do teatro contemporâneo que é necessário ter em conta.

(Carlos Porto, Diário de Lisboa, 25-09-87)

Ficha Técnica

"Les relations entre le théâtre et l'audiovisuel en Europe"

BERNARD FAIVRE D'ARCIER

"The fate of British avant-garde"

NEIL WALLACE

"Théâtre d'objets, théâtre pour jeune public vers un autre théâtre de l'Europe"

BERNARD RAFFALLI

"Progressive transition of the theatre: New sensibility, new perceptions"

CARLO INFANTE

"The condition of young theatre in Europe"

JAN MIDDENDORP

"Rencontre du théâtre en Europe"

PHILIPPE TIRY

"Teatro em Portugal"

EUGÉNIA VASQUES