Sobre

Na imprensa pode ler-se:

Para o espectáculo de amanhã [Dia Mundial da Música], escreveram os autores: “Abordar o universo de Erik Satie parece simples e aliciante. E no entanto, qualquer passo que se dê tem resultados desconcertantes. Tão desconcertante como o era provavelmente o próprio Satie para aqueles que o conheceram. Quando algo parece superficial, afinal é profundo. Quando algo parece risonho e cheio de humor, afinal é melancólico. E é uma certa melancolia que nos fica ao ter elaborado este espectáculo. […] Tentamos torná-la [a única peça de teatro que Satie escreveu, LE PIÈGE DE MEDUSE] ainda mais absurda, interpretando-a com um só actor que se move numa engrenagem de relógio pateta, falando afinal das patetices da vida de todos nós. Peça que em Portugal estava esquecida e que nos diverte ser os primeiros a mostrar aqui. (Diário de Lisboa, 30-9-1989)

 

“É importante que tão grande trabalho [espectáculo do Dia Mundial da Música] se não limite a uma única interpretação, ainda que tudo tenha carácter experimental. Fico à espera de nova sessão com Erik Satie como toda a gente” da mesma forma que tenho estado a aguardar – até agora em vão – a oportunidade de voltar a presenciar o Stabat Mater que Constança Capdeville escreveu para encerramento do Colóquio sobre “O Religioso e a Cultura”, apresentado na Acarte, em fins de Abril último. (O Diário, 7-10-1989)

 

Constança Capdeville: “Pensei ser bailarina. Acabei por tirar um curso de piano e de composição”. […] “Hoje qualquer pessoa que faz umas momices chama a isso teatro musical. Ora eu tenho demasiado respeito por esse género de trabalho para usar a expressão de ânimo leve. Creio que o teatro musical é uma arte total. Não no sentido de trazer para o palco o cinema, o teatro e a música, mas no de captar as formas, as forças, a energia destas artes todas em conjunto. Aliás, fazer arte é isso: captar energia e descarregá-la”. […] “O Satie pertencia a uma associação, Rosa Cruz, que estudava a força da mente, a unidade do homem com o cosmos. Assustador, não acha? Mas muito fascinante. É tudo muito fascinante”.

 

Quando Constança Capdeville nos dissera escolher como itinerário o espaço de um palco, surgiu-nos de imediato a imagem tradicional de um grande teatro de novecentos, deserto, cadeiras de veludo, doirados nas talhas ornamentais […]. A realidade ali era porém bem diversa. A total ausência de elementos de decoração fazia com que aquela sala parecesse mais uma câmara asséptica do que com ajustado enquadramento à criação da surrealidade de um espectáculo. No entanto e por momentos, as palavras de Constança, as suas evocações, haviam transformado esse esquematismo formal num espaço íntimo percorrido pelo estremecimento do mistério, do inexplicável. […] Uma longa fila de pessoas aguardava o momento de entrar no restaurante do CAM, quando nos despedimos de Constança Capdeville. (Maria José Mauperrin, A Revista, Arquivo do ACARTE)

 

CONSTANÇA CAPDEVILLE E MANUEL CINTRA

BANDA QUINTA DO ANJO