Sobre
Com a segunda edição do ciclo Vozes do Mundo Madalena Perdigão reafirma o pendor extra-europeu do ACARTE:
Recordamos, no preambulo do programa do 1.° Cicio VOZES DO MUNDO, realizado em Janeiro do ano findo, o pendor extra-europeu do ACARTE e a sua vocação internacionalista, que não colidem nem contradizem o intento de contribuir para a fortificação do ideal europeu e a atenção dada aos valores portugueses, igualmente características do Serviço. Com este 2.° Cicio, sob a mesma designação, o ACARTE abre-se, mais e mais, a todos e a tudo, salvaguardados que estejam a autenticidade e a criatividade dos projectos. […] Mas que ninguém se inquiete, portugueses ou estrangeiros, com a miscigenação de culturas. A cultura sairá mais enriquecida, mais valorizada, sem perder a sua diversidade. Como afirmou, com razão, lonesco recentemente (em «Le Petit Journal dês Grandes Expositions», a propósito da Exposição de Pintura de Vieira da Silva no Grand Palais, em Paris, de 24 de Setembro a 21 de Novembro de 1988), nunca ninguém se liberta das suas raízes.
Lisboa, 10 de Fevereiro de 1989
M.M.A.P.”
Na imprensa pode ler-se;
Vozes do Mundo, 2º ciclo, teve representações da Mauritânia (9 a 12 de Fevereiro) e da Tailândia (16 a 19 de Fevereiro) no CAM/FG, continuando a iniciativa do Acarte. Agora que em Portugal já se estuda universitariamente a etnomusicologia e o Yearbook for Traditional Music […] acaba de editar In Search of a Lost World: Na Overview of documentation and research on the Traditional Music of Portugal […], mais se impõe o conhecimento prático das músicas tradicionais exóticas […] Como escreveu M.M.A.P. […], “mas que ninguém se inquiete, portugueses ou estrangeiros, com a miscigenação de culturas. A cultura sairá enriquecida, mais valorizada, sem perder a diversidade”. A África devia interessar-nos particularmente quanto aos PALOP onde se faz sentir a influência da música portuguesa. […] Pena é que se electrifiquem os instrumentos, em casos eu não os de criações modernas citadinas. (José Blanc de Portugal, Diário de Notícias, 26-3-1989)
Não sei por que obras deste mundo confunde-se o que diz a palavra “drama” com o que explicita essa outra chamada “acção”. São coisas, talvez, de uma certa tradição que sobrepõe o escrito e o escriturado sobre a expressividade imediata, buscando na programação encenadora o que falta de “bichinho” neste Ocidente que ainda se vê de fraque. Ontem à noite estreou em Lisboa, na Sala Polivalente do CAM, um colectivo musical da Tailândia que escolheu a via não-dramática para as suas interpretações da tradição – os cantores fazem ouvir um texto memorizado mas a inflexão tonal do que dizem é suporte para a improvisação dos instrumentos e até das suas próprias atitudes. Assim, mostram-se espontâneos, vivos, naturais, saudavelmente reactivos, nada retóricos e, fazendo dos corpos a ilustração do canto, presenteiam-nos com uma música que serve, acima de tudo, para sorrir. Pois é: os seis Pu Thai não são nada como os nossos doutores de solfejo. Apesar de inserido num ciclo do serviço Acarte do CAM dedicado às ”Vozes do Mundo”, com a intenção de divulgar os patrimónios músico-culturais do planeta, não deixei de imaginar este grupo proveniente da província de Nakhon Phanon, extremo nordeste da Tailândia, no contexto de uma iniciativa que vai para um par de anos o mesmo Acarte abandonou: os ciclos de música improvisada […] que tiveram como defeito único formizarem fórmulas e esquecerem que a própria ideia de improvisação se fundamenta em músicas como esta da Tailândia […]. Em vez disso, porém, temos as “vozes do Mundo”, com os riscos inerentes (e não sei se previstos pelos seus organizadores) de folclorização, valorizando-se simplesmente o que as músicas tradicionais e patrimoniais têm de exótico. (Rui Eduardo Paes, Diário de Lisboa, 17-3-1989)
Na Europa, continente da cultura clássica, a moda musical são os sons étnicos africanos. As sonoridades ancestrais, imutáveis, estão agora a seduzir meio mundo. Para a eficaz comercialização do produto, adapta-se a música às novas tecnologias dos estúdios de gravação e saem produtos como Mori Kanté ou, mais perto das suas origens, Fela Kuti. No passado sábado, o CAM, da FG, foi eco deste novo modismo. Com o seguimento do ciclo “Vozes do Mundo II”, organizado pelo serviço Acarte, foi apresentada um pouco da musicada Mauritânia no seu estado mais puro. (Cristina Gomes, Êxito, 16-3-1989)
A presente atenção do Ocidente às músicas étnicas do planeta, que em Portugal não deixa também de ser uma evidência, parece ser algo mais do que uma moda passageira. Vários factores nos levarão a isso: a própria estagnação das músicas do lado de cá, a nível conceptual e de soluções, o cansaço do mercado face aos modelos que são ofertados e, no fundo de tudo isto, o surgimento de uma nova consciência universal e a tentativa de ligar outra vez à terra. Só que o sistema comercial capitalista dita sempre as suas regras e nenhum gosto pelos “exotismos” mais puros pode ficar impune – no lado de lá, espertos, andam a produzir música “tradicional” pra exportação, com arranjos ao agrado de europeus e americanos e introdução de instrumentos ocidentais. (Rui Eduardo Paes, Diário de Lisboa, 11-3-1989)
DIMI MINT, ABBA KHALIFA, AULD EIDE, ZEYROUZ MINT, SEYMALI GARMI, MINT ABBA