Sobre

O ciclo Retorno à Tragédia não poderia deixar de incluir a encenação de Frei Luís de Sousa, como bem aponta Madalena Perdigão no programa do espectáculo, em encenação de Jorge Listopad e com a participação da novíssima Alexandra Lencastre.

 

Quando Jorge Listopad me falou pela primeira vez no Retomo à Tragédia, compreendi desde logo que o projecto tinha nascido à sombra e por força do Frei Luís de Sousa. Projecto ambicioso, o Retomo tendia congregar no seu âmbito diversas disciplinas, como a dança e a música, apostava em documentar-se através duma exposição e propunha-se reflectir, coloquiando, sobre temas relacionados com a Tragédia. Mas o nó do projecto, o seu fulcro, era bem o Frei Luís de Sousa, com o apelo irresistível da sua dramaticidade. Era também a vertigem do risco, tão caro ao ACARTE, que o inscreveu no seu programa, ao iniciar actividades. Vamos correr riscos, vamos cometer erros. Vamos permitir que outros corram riscos e cometam erros. Aqui, com artistas da craveira de Jorge Listopad e dos seus colaboradores, o risco e o erro são negligenciáveis, reduzem-se à medida do humano natural. Que o Frei Luís de Sousa inaugure, portanto, em bem, o ciclo Retorno à Tragédia e que ressalte mais uma vez o brilho da obra-prima de Garrett.

 

Abril, 1986
M.M.A.P

 

E diz a imprensa a esse respeito:

 

“Alexandra Lencastre, no papel de Maria, aparece em trajo de esgrima, numa clara alusão ao sebastianismo. […] No entanto, fica do espectáculo de Jorge Listopad a noção de um caminho desbravado e de numerosas vias por descobrir e explorar. […] Resta apenas fazer votos para que ao Retorno à Tragédia se suceda um Retorno à Comédia, seguindo em frente. Que o CAM da Gulbenkian continue a girar como autêntica máquina do tempo. […] (Maria Helena Dá Mesquita, O Diário, 8-6-1986)

 

“Nuno Carinhas compreendeu bastante bem os dois níveis em que se situava o espaço desta peça […]. Nesta encenação [de Frei Luís de Sousa], os figurinos, uma estilização dos da época, ponte entre o passado e o presente, figuram como roupa que muito nos diz sobre o carácter de quem a veste. […] Há que falar ainda da música dos Telectu, elemento importante na criação de uma progressão dramática, mas também no erguer de um necessário distanciamento, autêntica eficaz música de cena. Na interpretação, houve que pedir a actores formados na escola naturalista uma contenção invulgar, uma depuração dos efeitos dramáticos, um despojamento espartano, uma outra forma de, em 1986, transmitir a tragédia. […] Alexandra Lencastre é uma verdadeira revelação, uma Maria transbordante de vida, verdadeiro símbolo de uma portugalidade ameaçada, dicção perfeita, belo timbre de voz, raro domínio do espaço, compreensão da ambivalência do personagem, fragilidade/arrebatamento que descobrimos maravilhados. […] (Tito Lívio, A Capital, 16-6-1986)

 

 

E sobre a música pode ler-se:

 

“Mas, se a encenação de Listopad no CAM vale como exemplo de teatralização inteligente de elementos musico-teatrais, a recente nova produção do Rigoletto no S. Carlos limita-se a reeditar todos os vícios tradicionais da ópera italiana, tal como eles já remontavam à época de Garret. […]” (Diário de Lisboa, 24-6-1986)

Ficha Técnica

Encenação e Dramaturgia

JORGE LISTOPAD

Cenários e Figurinos

NUNO CARINHAS

Música

TELECTU

Assistente de Encenação

MANUEL COELHO

Desenho de Luzes

PAULO GRAÇA

Professor de Esgrima

MESTRE JOÃO VINHA

Intérpretes

SINDE FILIPE, CARMEN DOLORES, ALEXANDRA LENCASTRE, FILIPE FERRER, CARLOS WALLENSTEIN, BAPTISTA FERNANDES