Sobre

Diz-nos a imprensa a este respeito:

Não é difícil detectar-se uma alteração, não se sabe se meramente superficial e provisória, do reportório do teatro estrangeiro apresentado em Portugal. Mesmo sem tomarmos em conta a recuperação do teatro de Tenesse Williams, que ficámos a dever ao Teatro Hoje, nem a revelação dessa obra-prima do teatro inglês recente, que á a Triologia da Guerra, de Edward Bond, do Teatro da Cornucópia, esquecendo mesmo um outro autor britânico, Alan Bennet, que o Teatro Estúdio de Lisboa apresentou pela primeira vez em Portugal com a peça Habeas Corpus, assim como dois cultores do Teatro do Quotidiano, o alemão-ocidental HeinrichnHenkel, com a peça Olavo e Alberto, espectáculo do CDAG, e Doublages, de Jean-Paul Wenzel, espectáculo do ACARTE, sem termos em conta, dizíamos, essa teoria de espectáculos recentes, a alteração referida surge explicitada em peças de dramaturgos norte-americanos das mais recentes gerações: David Mamet, com Perversões, no Clube Estefânia […], Sam Shepard, com Possessos de Amor, espectáculo dos Comediantes do Porto, Neil Simon, com Os Recrutas, espectáculo da Comuna. A apresentação destes autores representa uma actualização do reportório estrangeiro do nosso teatro a ter em conta. (Diário de Lisboa, 8-4-1989)

 

Basta pensar na peça de Christian Giudicielli (Pequeno Rebanho, Não Desesperes) recentemente representada na Casa da Comédia, ou na peça de Denise Schalom (Ela Não Sabia Sonhar) representada em 1985 no Nacional, para se ter uma ideia do mar em que navegam estes dramaturgos de França. Uma ligação directa aos temas do quotidiano, mas, ao mesmo tempo, uma recusa da estrutura dramática convencional que o teatro naturalista e realista em princípio exigem: são as principais características. E uma outra muito importante, um facto comum às três peças referidas, é o terem um elenco muito limitado. Duas actrizes chegam e sobram. […] A cenografia que esta dramaturgia exige, devido à sua estrutura fragmentária, é sempre difícil de conceber e permite aos cenógrafos trabalharem um tanto à margem do texto. As cadeiras gigantescas com uma janela a servir de encosto (ou um encosto que serve de janela), cadeiras cujo assento se levanta e se transforma em toucador, cadeiras com gavetas, cadeiras com portas de correr, cadeiras que não são cadeiras (tal como não era cachimbo o cachimbo de Magritte), estas cadeiras seriam um cenário adaptável ao Fausto, Fernando, Fragmentos, da mesma forma que o dispositivo cénico do Fausto podia servir “tant bien que mal” esta peça. Isto é: a estética do cenógrafo andas nestes dias muito independente, regula-se o mais possível pelo arbitrário. (Manuel João Gomes, Europeu, 14-4-1989)

 

[…] ao ver uma peça […] penso também no porquê […], aquele que fez escolher isto e não aquilo. […] A potencial qualidade é explicada inevitavelmente de uma maneira arbitrária. A idade e a nacionalidade do autor passam a ser categorias de valorização artística. O desconhecido deve ser conhecido. Os originais devem ser representados. Os novos devem ter uma oportunidade. […] Em Portugal, e com as devidas proporções em todo o resto do mundo, poucas são as companhias ou teatros que podem fazer uma escolha reflectida, programada e erudita. 95 por cento dos espectáculos que vemos devem-se mais a vontades e determinações dos responsáveis que querem fazer, do que a programações de instituições que podem fazer. Que eu goste ou não do resultado daquelas vontades e determinações é outro problema. […] de Doublages só fica na memória um cenário que cumpre uma promessa de inquietação e o esforçado trabalho de duas actrizes em troca de nada […]. Mas tudo isto não é muito importante. O importante é que abrimos os jornais, e em Lisboa não há sequer uma dúzia de espectáculos em cena. […] O importante é perceber que o nível de qualidade que queremos e necessitamos só se conseguirá através da quantidade. E concordemos que, para termos bons espectáculos, precisamos de muitos espectáculos.” (Carlos Quevedo, O Independente, 14-4-1989)

 

 

ENCENAÇÃO

Carlos Pimenta

CENOGRAFIA, FIGURINOS E LUZ

Philippe Arlaud

MÚSICA

Paulo Brandão

INTÉRPRETES

Júlia Correia e Clara Joana