Sobre
Na imprensa pode ler-se:
Acartelândia
É agora que isto começa. Os Encontros Acarte 88 funcionam claramente como prólogo da actividade cultural lisboeta. Embora não seja a minha uma observação muito subtil, que bom seria se isto que começou agora, pela confortável inércia, conservasse a mesma expectativa e tensão daqui até ao próximo Verão. Com um bocadinho mais de espaço entre estreia e estreia, é claro. Senão seria uma canseira. Dita a minha alegria pelo início destes encontros, que me permito chamar-lhes também mais profundamente festival, passo a fazer breves considerações prévias. Por mais diferentes que sejam os espectáculos que presenciem, todos têm o estigma da proximidade física – o espaço onde se representam – do temporal – ontem vi isto, hoje vejo aquilo, amanhã verei o outro – e testemonial – o público é praticamente o mesmo. […] Manuela de Freitas, excelentemente dirigida e protegida desde a sua entrada – uma das mais cativantes que me foi dado presenciar – até o seu final, abertura do Quarteto, faz da sua Media uma interpretação que eu lhe agradeço e prometo não esquecer. Os figurinos e cenários de Titina Mselli funcionam excelentemente. Sorri com o Burberry de Medeia. Divertido. Com Quarteto, que começa com o fim da Medeia não senti a mesma admiração. O fascínio converteu-se em tédio. […] Os actores portugueses são mais. São actores, bailarinos, acrobatas. (Carlos Quevedo, O Independente, 16-9-1988)
O Teatro dos Encontros: Três Peças a Não Perder
MATERIAL MEDEIA e Quarteto de Heiner Muller, marcam o tão esperado e glosado “regresso de Jorge Silva Melo ao teatro. E só temos a lamentar que este espectáculo não esteja mais tempo em cena. É um trabalho de grande qualidade, talvez o melhor de toda a época. São dois espectáculos num só ou um espectáculo dividido em duas partes. Material Medeia é um solo desempenhado por Manuela de Freitas a partir de um texto fascinante […].
Quase Abstracto
Medeia encontra uma dimensão moderna sem perder os seus referentes clássicos. Ou seja, a personagem, da maneira como é desenhada, aparece agora, aqui, e reafirma-se uma vez mais e modernidade da mitologia grega. Quando Medeia morre dá-se o momento de passagem para Quarteto. E este é um dos momentos mais espectaculares de toda a peça. O telão, por detrás de Medeia, parte-se e é projectado para o fundo de cena, num ruído estridente. As luzes apagam-se imediatamente e quando voltam bate uma porta do lado direito. Medeia desapareceu e está aberta uma fenda no telão por onde vemos a marquesa de Merteuil e Valmont imóveis, num cenário lindo, esmagador. Que dizer deste Quarteto? É um trabalho de teatro puríssimo, com um texto fantástico, dois óptimos actores, com uma encenação, mais uma vez, extremamente sóbria. […] Glicinia Quartin e Jorge Silva Melo fazem este Quarteto com uma excelente contra-cena, e, escusado será dizê-lo para quem conhece estes dois actores, com um domínio, uma contenção e uma finura verdadeiramente admiráveis. […] Há pouco texto. Os actores fazem um trabalho de semi-malabaristas, semi-saltimbancos. Figuras vestidas de escuro, que se perdem, que se afirmam, que nos conquistam e nos fascinam. O espectáculo acabou e rebentaram os aplausos. E foi bom. Do grupo de actores temos de fazer uma referência especial a Duarte Bamlaro Ruas, que tem um desempenho notável, muito bom, e que reúne uma série de características que poderão bem fazer dele um dos tais “casos sérios” do teatro. Este actor tem tudo o que é preciso para fazer uma carreira fulminante, assim haja directores e trabalho. Tiago Porteiro é outro actor que sobressai deste conjunto, com uma energia e uma generosidade em palco que resultam num desempenho de grande qualidade. Luís Castro também tem uma interpretação de excelente nível, confirmando, aliás, o que já esperávamos. (Tempo, 15-9-1988)
Pérolas, lágrimas, unhas
Os que estão interessados no teatro em Portugal saudaram o regresso do filho pródigo, Jorge Silva Melo, às lides, quanto mais com os textos de Heiner Müller, um dos grandes dramaturgos deste fim de século que mantém nos motivos culturais e míticos, e, no verbo, arquétipo e antitípico, a matéria-prima do objecto teatral. (…) a pouca forma e assimilação de Glicínia Quartim fizeram de Quarteto um espectáculo longo, provisório, num discurso exorcista subjectivo, enxertado noutro discurso, ambíguo, o do autor. (Jorge Listopad, Jornal de Letras, 26-9-1988)
Ficha Técnica
Produção
ACARTE
Encenação
JORGE SILVA MELO
Textos
HEINER MÜLLER
Cenografia e Figurinos
TITINA MASELLI
Adereços e Assistência de Cenografia
JOÃO CALVÁRIO
Maquilhagem
MARGARIDA MIRANDA
Luzes
PAULO GRAÇA
Produtor
ANTÓNIO MACEDO
Colaboração de Encenação
MANUEL MOZOS