Sobre

Nadir, de Alain Populaire pelo Théâtre Impopulaire será apresentado no ACARTE. No seu programa, onde em epígrafe aparecem palavras de Jerzi Grotowski, Alain Populaire discute os novos caminhos que o teatro da altura tem pela frente.

 

 

ESTÉTICA DO THÉÂTRE IMPOPULAIRE

 

O crítico Philippe CONRATH definiu o pós-modernismo pela conjugação de três critérios: o minimalismo, a ambiguidade e a emoção. Dificilmente conseguiríamos caracterizar melhor a actividade do Teatro Impopular. Minimalista, ela consegue sê-lo pela economia dos meios utilizados, pelo rigor, pelo despojamento do seu trabalho. Ambígua, pela ausência deliberada de qualquer leitura, narrativa do espectáculo ou personagens inequívocos, pela recusa do significante. Emotiva, porque visa especificamente a interioridade do espectador, no que ela possa ter de mais intenso, de mais profundo, de mais íntimo: porque ela nada impõe ao público, antes se abre à sensibilidade de cada um. Trata-se, de facto, de uma verdadeira poética do teatro, que, como todas as poéticas, quer sejam literárias, gráficas ou do espectáculo, não descrevem nada, .mas evocam algo que ressai do mistério do mundo e do mistério da vida. Neste aspecto, a expressão artística do Teatro Impopular tende a aproximar-se da música, tanto nas suas estruturas como no seu impacto. .

A.P

 

 

 

TEATRO-DANÇA: A ZONA DE AMBIGUIDADE

 

Um acto de criação nada tem a ver

nem com o conforto exterior. nem

com a delicadeza humana convencionaI.

Ele exige um máximo de silêncio

e um mínimo de palavras.

Jerzi Grotowski

 

 

Se tivéssemos de traçar um limite (artificial como todos os limites) entre o teatro tradicional e o teatro de ruptura, este encontrar-se-ia certamente na recusa do segundo em aceitar qualquer dependência relativamente à literatura. O teatro de ruptura deixou de dar primazia ao texto. Exprime-se de uma forma autónoma, através de meios próprios que se concentram em redor do jogo do intérprete e da estrutura dramatúrgica. Desta forma, dotados de talento idêntico, um Botho Strauss inscreve-se na linha tradicional, enquanto que grupos como a Akadémia Rukhu ou o Sankai Juku operam em ruptura. Na dança existe uma clivagem comparável; consiste na introdução do jogo dramático na coreografia. Deste modo, a dança já não acaba no rosto, mas engloba-o; já não se contenta em mover os corpos, ela dá vida aos bailarinos. Numa disciplina outrora orientada totalmente para a exteriorização, a interioridade tende ao ocupar um lugar preponderante. Como consequência, constata-se uma diminuição importante no papel ocupado pela música, até mesmo a sua desaparição. A dança também não é a ilustração de uma outra arte. Era inevitável que, nestas condições, a dança, o teatro e mesmo as artes plásticas se agrupassem numa zona ambígua, que representa o que se faz hoje de mais inovador e prometedor no plano internacional Pina BAUSH, Ko MOROBUSCHI, Bob WILSON, Tadeusz KANTOR – para citar apenas os precursores – são casos representativos deste fenómeno da interdisciplinaridade. Esta representa uma evolução a longo prazo e a ter profundas consequências (muito mais que uma tendência passageira nas artes performativas), que jamais deixará de se desenvolver.

A.P.

Ficha Técnica

Criação e direcção artística do Théãtre Impopulaire

ALAIN POPULAIRE

Intérpretes

ISABELLE DUMONT, CLAUDE SORIN

Figurinos

COLETTE HUCHARD

Produção

THÉÂTRE IMPOPULAIRE "AVEC L'AIDE DU MINISTÈRE DE LA COMMUNAUTÉ FRANÇAISE DE BELGIQUE

Direcção administrativa

MICHÈLE BRACONNIER

Régie

MICHEL SUPPES

Apoio

COMMISSARIAT GÉNÉRAL AUX RELATIONS INTERNATIONALES DE LA COMMUNAUTÉ FRANÇAISE DE BELGIQUE

Tradução

M. FERNANDA PORTELA