Sobre

Em Março 1985, o ACARTE acolheu Eclipse de Sol, o Exercício Final do Curso de Iniciação Teatral do Instituto de Formação Investigação e Criação Teatral (IFICT), dirigido por Adolfo Gutkin. Esta iniciativa, apoiada pelo Serviço de Belas Artes da FCG, foi o resultado do cruzamento de um programa de bolsas de formação em estudos teatrais para os recém-formados Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa com os princípios pedagógicos do IFICT, já que não exista “em Portugal uma [outra] escola ou curso de teatro que acudisse à especificidade dos problemas que tais alunos, por sua índole e cultura, colocavam em termos de pedagogia”

 

No Verão de 1982, em contactos com o governo da República Popular de Angola, surgiu a possibilidade de a Fundação Gulbenkian estreitar os termos da sua cooperação com aquele pais, concedendo bolsas para estudos teatrais. Aquele país encara, no campo do teatro, a formação em devido tempo de uma COMPANHIA NACIONAL DE TEATRO a exprimir-se basilarmente na sua língua oficial, o português. Verificou-se depois que Moçambique e a Guiné, pelo menos, consideram, a prazo, projecto semelhante.

O Serviço para a Cooperação com os Novos Estados Africanos da Fundação Gulbenkian concedeu bolsas a jovens angolanos e dirigiu convites aos governos dos outros países de expressão oficial portuguesa, que enviaram os seus estudantes.

À partida, apresentavam-se a este projecto de cooperação diversas vantagens, nomeadamente um prolongado passado com pontos de contacto e uma língua comum ou, melhor, que aqueles países desejam como sua expressão oficial. Mas perfilavam-se também dificuldades, entre as quais avultava o facto de não existir em Portugal uma escola ou curso de teatro que acudisse à especificidade dos problemas que tais alunos, por sua índole e cultura, colocavam em termos de pedagogia.

Aconteceu, por mero acaso, que esta iniciativa se cruzava, naquele momento, com um projecto delineado e definido cerca de um ano antes, o IFICT -Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral a que, considerados os méritos, a Fundação deu imediato apoio. O Estado prometeu-lhe contributo basilar para a sua manutenção e desenvolvimento, através das Ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Cultura.

Logo no fim de 1982, criou-se um Curso de Iniciação Teatral para os referidos bolseiros africanos, no âmbito do IFlCT em formação e dirigido por Adolfo Gutkin. ECLIPSE DE SOL é o efeito de um trabalho continuado de natureza pedagógica que não incidiu particularmente sobre a criação deste espectáculo, o qual no entanto revela o espírito que reinou ao longo do Curso, timbrado pela compreensão e respeito mútuos das diferentes culturas que se confrontavam e pela aberta discussão de todos os temas que se apresentaram, naturalmente nos parâmetros das matérias ministradas.

A organização do Curso de Iniciação Teatral foi da responsabilidade do Serviço de Belas-Artes.

 

Lisboa, Fevereiro de 1985

 

A corroborar a falta de preparação para abordar este tipo de propostas e mesmo uma certa atitude de exotização de um Outro, não obstante várias décadas (se não séculos) de convivência, considerado estranho e incompreensível, , diz-nos a crítica, pela voz de Carlos Porto, reagindo muito positivamente àquilo que identificou como sendo uma ‘energia’: “Perante este espectáculo a primeira reacção é tímida – ele fala-nos de uma cultura que conhecemos pouco. Traz para um palco tradicional tradições outras que têm a ver com outros espaços, com outros relacionamentos com o público, com outra forma de ser, mais próxima da vida do que do espectáculo tal como por aqui o conceituamos. Esta primeira visão do exercício final dos alunos do CIT de Adolfo Gutkin é, no entanto, rapidamente varrida pela energia […] que o espectáculo levanta. E de repente estamos postos perante esta realidade compósita: eis um espectáculo que participa do teatro, da dança, da música, da poesia, sem sacrificar qualquer destas expressões. O Eclipse de Sol consegue o que é muito raro: criar qualquer coisa que tendo a ver com tudo isto é outra coisa sem ser a mera soma disso. […]” (Carlos Porto, Diário de Lisboa, 25-3-1985)

Ficha Técnica

Direcção

ADOLFO GÜTKIN

Textos

ONÉSIMO SILVEIRA, JOSÉ CRAVEIRINHA, ANTÓNIO JACINTO, CAMÕES, BOCAGE, ANA MENEZES

Actores

AYRES. VERÍSSIMO DO SACRAMENTO MAJOR, MARGARIDA NETO RODRIGUES COELHO, CARLOS ADRIANO NEVES DELGADO, ANTÓNIO FRANCISCO DE OLIVEIRA, CARLOS ALBERTO CASTELLANO DIAS, DOMINGOS LOURENÇO CARLOS, DANIEL JOSÉ DA SILVA FRANCISCO, JOSÉ MARIA DA GRAÇA, SEBASTIÃO ROBERTO FIGUEIRA, MARIA MARGARIDA MARQUES GUERREIRO, MARIA ISABEL SIMÕES FERNANDES, MARIA MARGARIDA PINTO MARINHO DA SILVA, MÁRIO RIJI BRAGA RODRIGUES CARNEIRO, PEDRO MANUEL OLIVEIRA DA SILVA, MARIA CRISTINA ROSADO GONÇALVES, EDUARDO MANUEL VAZ DE CAMPOS MARTINS, PAULO FILIPE GOUVEIA MONTEIRO