Sobre

O ciclo “Retorno à Tragédia” termina com O Fim, de António Patrício, em encenação de Jorge Listopad e cenografia e figurinos de Nuno Carinhas. Diz Madalena Perdigão a esse respeito:

 

O FIM

 

O FIM, terceiro espectáculo do ciclo “Retorno à Tragédia”, traz-nos mais um autor português, António Patrício, como que a querer provar aos incrédulos a existência de um sólido teatro nacional. Um dos mais belos, mais mágicos, mais fortes textos dramáticos portugueses, como afirma Jorge Listopad, O Fim constitui a pedra de toque do ciclo. Depois de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, e a seguir à antologia de tragédias portuguesas anteriores ao século XIX, aquela peça vem provar se, sim ou não, existe tragédia em Portugal. A multiplicidade de manifestações previstas no ciclo obriga a ginástica mental e fornece pistas para uma reflexão profunda sobre o que somos e donde vimos. Daí se partirá para o que vamos ser, numa tentativa de adivinhar o futuro sem fatalismos trágicos, antes construindo-o com as nossas próprias mãos.

 

Lisboa, Junho de 1986
M.M.A.P.

 

E na imprensa, onde Tito Lívio elogia a direcção dos actores, pode ler-se:

 

“Escrita em 1909, quando a monarquia minada por todos os lados, corrompida por um sentimento popular que se levantara e exprimira contra as cedências feitas perante a Inglaterra, a velha e pérfida Albion, secular “aliada” combatida pelos republicanos a cuja causa haviam aderido muitos e bons homens. O Fim tentava exprimir a tragédia de um país curvado perante as potências estrangeiras. Deixando, no entanto, entrever o raiar de uma nova aurora, ainda que tivesse de manter-se, por ora, o verniz do respeito pela velha instituição que era a realeza. Peça simbolista, poética, profética também, é espantoso ver como, nesta encenação (muito mais perto de nós e afeiçoada do que a primeira realizada por Listopad, na Casa da Comédia, em 1971, outra época, a decadência de um outro regime, uma outra “realeza”), ela mostra-se tão actual, sobretudo, depois de um 25 de Abril utópico em que muitos entreviam uma nova revolução francesa, período do Terror incluído.

O Fim é um espectáculo para se ver lúcida e inteligentemente e sem dúvida, com Mãe Coragem e Seus Filhos, de Brecht, encenada por João Lourenço, um dos grandes espectáculos desta época, uma prova de que o teatro português continua vivo e de boa saúde…”(Tito Lívio, jornal não identificado, arquivo do ACARTE)

 

Ficha Técnica

De

ANTÓNIO PATRÍCIO

Encenação e Dramaturgia

JORGE LISTOPAD

Cenários e Figurinos

NUNO CARINHAS

Direcção Musical

PAULO BRANDÃO

Assistente de Encenação

JEAN PIERRE TAILHADE

Desenho de Luzes

PAULO GRAÇA

Intérpretes

MARIA AMÉLIA MATTA, CARMEN DOLORES, FILIPE FERRER, CARLOS WALLENSTEIN, JOSÉ WALLENSTEIN, ISABEL ALARCÃO, LUÍS SILVA, RICARDO ROSA