Sobre

Escreve Madalena Perdigão a propósito desta proposta:

 

A história do aspirador que quer ser mortal e a outra história, entrosada na primeira. do lagarto cristalizado em resina do copal, ou em âmbar. como depois se pensou, tem de que seduzir as imaginações. Transpor essas historias – ou melhor, esses dramas – em espectáculo, traze-las à cena constituía um desafio tentador. mas
difícil de aceitar. Desafio tanto maior quanta era certo haver a considerar diversos suportes para a obra de arte a criar: vídeo, filme animado, musica, teatro. E a tecnologia envolvida no espectáculo não apenas como suporte, mas como elemento actuante. […]
Dezembro 1987
M.M.A.P.”

 

Na imprensa sucedem-se críticas mais ou menos entusiasmadas e discute-se o ‘multimédia’:

 

“Na Sala Polivalente do CAM estreou-se uma nova produção do ACARTE: O Lagarto do Âmbar, trabalho dirigido por Alberto Lopes a partir de um argumento de Maria Estela Guedes. Definido como espectáculo multimédia, tratar-se-ia de integrar “numa totalidade significante um conjunto de suportes díspares”, propondo “uma actualização da ideia de teatro, de um teatro próprio da época em que vivemos.”. A seu tempo, Wagner, prosseguindo a utopia de uma obra de arte total, Gesamtkunstwerk (esperemos que nenhuma gralha venha estropiar o texto) procurava no teatro a completa fusão das artes; pelo contrário, a vocação das experiências multimédia seria a de manter a autonomia e a especificidade de cada uma das linguagens chamadas a participar na criação do espectáculo: a intersecção dos diversos planos apelaria ao espectador como construtor de uma leitura pessoal, sempre provisória. Ao contrário do efeito wagneriano de acumulação, mesmo de saturação, o espectáculo funcionaria aqui através de efeitos minimais, discretos. Mas, paradoxalmente, a necessidade de manter a especificidade, mesmo a autonomia, de cada um dos componentes, exige um trabalho final de estrutura, de organização, extremamente atento, coerente, milimétrico. Foi o que desde logo me parece ter falhado no espectáculo em referência. […] O Lagarto do Âmbar parece-me assim um daqueles projectos em que a multiplicidade de ideias iniciais se dilui ou desarticula na realização cénica, deixando-nos uma perplexidade não produtiva: a aventura morre de tédio.” (José Valentim Lemos, Diário de Notícias, 19-1-1988)

 

“Algumas considerações suscitadas por “O Lagarto do Âmbar”, que acabo de ver na Sala Polivalente da ACARTE (FG). Primeira: o público português de Teatro é, por certo, o público mais masoquista do globo. Assiste até ao fim, paulatina e civilizadamente, a espectáculos incríveis e insuportáveis sem que um único espectador diga NÃO e saia automaticamente porta fora. […] Quarta: se o Teatro pós-modernista é isto, e vier a ser assim, adeus Teatro que eu me aparto de ti, divorciando-me de milénios de entendimento e de prazer. […] Ou seja, “O Lagarto do Âmbar” […] é uma mistificação, é um falso contributo, por exemplo, para o processo em curso que tem por objecto as sinapses possíveis entre o Teatro e o vídeo. […]” (Fernando Midões, Diário Popular, 27-1-1988)

 

“O espectáculo com que o ACARTE abre a sua temporada teatral enquadra-se nos objectivos de experimentação e questionação artística que são a natureza mesmo daquele serviço dirigido por Madalena Perdigão. (…) A verdade é que uma reflexão prévia está patente nos textos do programa (da autoria de A. Lopes e Maria Estela Guedes). Mas o produto redunda numa especulação fechada, de onde ressalta uma “pautação” técnica (e tecnológica “quantum satis”) que exclui a interacção criativa, selvagem, que no teatro escapa vitoriosamente à apropriação tecnológica e até sistematizante (que o digam os semioticistas!). O tempo é de repensar. Certo. Mas se ao actor, ao autor, ao encenador não cabe já o exclusivo da produção de sentido, a quem cabe agora? Ao somatório de habilidades tecnológicas? […]” (Eugénia Vasques, Expresso, 23-1-1988)

 

“Um espectáculo com uma história insólita – um aspirador quer ser humano e tanto se esforça que consegue – contada de uma forma também insólita – por actores e uma televisão que é também um personagem – estreou-se na FG, em Lisboa. Trata-se de “O Lagarto do Âmbar” e constitui uma inovação no que respeita a teatro pois, pela primeira vez, diferentes meios de comunicação intervêm não como cenário, mas como actores, dialogando com actores de carne e osso. […] Afirmando-se como uma pessoa “farta de rotinas, com um grande desejo de mudança”, nomeadamente de uma “mudança estética”, Maria Estela Guedes diz que a inspiração para “O Lagarto do Âmbar” lhe surgiu quando, há pouco tempo, comprou um aspirador. […]” (O Dia, 21-1-1988)

 

“[…] Sabemos que espectáculos como este são inevitáveis em períodos de mutações tecnológicas como o que vivemos. Pergunta-se, no entanto, será obrigatória a tecnologia matar a imaginação? Basta lembrarmo-nos de Almada. Por outras palavras, há incompatibilidade entre novo e talento? Mas o Conselho Consultivo do ACARTE, diz-se no programa, aprovou o projecto, isto é, entendeu que o ACARTE devia gastar dinheiro com isto, o ACARTE abriu os cordões à bolsa – e pronto. Eles é que sabem, não é?” (Carlos Porto, Diário de Lisboa, 21-1-1988)

 

Ficha Técnica

Argumento

MARIA ESTELA GUEDES

Direcção e Música Original

ALBERTO LOPES

Cenários e Direcção Plástica

XANA

Realização e Montagem de Vídeo

RUI CASTELO LOPES

Mestre de Movimento

ALEXANDRE SOUSA

Figurinos

EDUARDA ABBONDANZA

Desenho Animado

JOSÉ LEITÃO

Desenho de luzes

PAULO GRAÇA

Transformação do aspirador Nino

JOÃO CALVÁRIO

Professora de Voz

MARIA DO ROSÁRIO COELHO

Caracterização

ANA ESCADA

Assistente de Direcção

LUCINDA LOUREIRO

Assistente de Direcção Plástica

MARTA WENGOROVIUS

Personagens e Intérpretes

ÂNGELA PINTO, MARIA JOSE CAMECELHA, JOÃO GROSSO, JOÃO ANJOS, LUCINDA LOUREIRO, ALEXANDRE SOUSA

Direcção de Cena

HENRIQUE MARTINS

Pré-produção

JOÃO GROSSO

Produção Musical

ALBERTO LOPES

Assistente de Produção

MANUELA NABAIS

Direcção de Produção

EMÍLIA ROSA

Apoios:

RADIOTELEVISÃO PORTUGUESA, RÁDIO CORREIO DA MANHÃ, CAIUS MUSIC, INSITUTO DE ARTE E MOVIMENTO GEORGE STOBBARDS