Sobre
Na imprensa pode ler-se:
Ninguém estava à espera, mesmo sabendo dos talentos comprovados de Rui Horta. Um novo espectáculo nasceu, ontem, na Polivalente do CAM, em mais uma iniciativa do serviço Acarte: chama-se “Linha” e decorrerá até dia 15 em Lisboa e de 20 a 22 no Porto, ocupando o palco do Teatro Carlos Alberto. Produção integralmente portuguesa, o bailado tem como pontos grandes a música de Luís Cília, concebida entre a computação e o “sampling”, e uma coreografia que concilia de modo curioso as fidelidades minimalistas implícitas e uma expressividade abundante, intensiva, violenta mesmo, com muito de aleatório. Horta excedeu-se, passou uma página e conquistou uma vitória, com esta estreia. Mesmo tendo em conta que o jovem coreógrafo não fez mais do que “citar” duas linguagens estabelecidas na dança contemporânea, a forma como as associa tem resultados desconcertantes. Utilizando como única peça de cenário uma estrutura metálica que funciona como carril de comboio, escada, janela ou trapézio, a dança que Rui Horta concebeu é um jogo de estruturações e desestruturações de movimentos, a um ritmo e sequência por vezes difíceis de acompanhar. Paradigmática de tudo o que dançam Paulo Ribeiro, Clara Andermatt, Carlota Lagido, Inês Bernardo e Francisco Camacho é uma de várias “situações” em que fica significada a recusa da gestualidade mecânica e serial, pela sugestão de disfunções, bloqueios e inversões de vontade. O espectador retém, no entanto, que a ruptura de uma determinada ordem é a invenção de outra diversa, até ao paroxismo e à desarticulação dos corpos, com a perda completa de qualquer sentido. […] Mas esse é precisamente o risco de uma dança como esta, pensada e praticada na margem do exercício físico puro e da performatividade mais elementar. Os bailarinos vestem-se (de Isabel Trovão, é bom que se assinale), têm estaturas muito diferentes e “estilos” distintos: se por momentos desempenham os mesmos passos, é mais usual interpretarem, cada um por si, os seus discursos pessoais, que só não se viram para um estado catatónico porque no conjunto consegue-se uma estranha harmonia múltiplas e sucessivas. Torna-se impossível ver tudo de uma só vez: os corpos fogem sempre aos enquadramentos parados, é preciso que o olhar passeie, procure, hesite, em suma, que seja um olhar “nervoso”. […] O ano começou da melhor maneira para a dança portuguesa contemporânea: 1989, ano barroco.” (Rui Eduardo Paes, Diário de Lisboa, 7-1-1989)
“Prosseguindo na sua acção artística, cultural e pedagógica de divulgação das mais actuais e vanguardistas expressões que, neste momento, em todo o mundo ocidental, caracterizam a dança e das procuras experimentalistas que, apoiando-se em novos recursos técnicos, tentam inserir a dança nas coordenadas estéticas do nosso tempo, o Serviço Acarte, da FCG, procura revelar-nos agora alguns aspectos da dança de vanguarda em Portugal, organizando uma Mostrada Dança Portuguesa […] Bem sabemos que a selecção de agrupamentos para uma mostra deste tipo teria de ser, fatalmente, incompleta […] O que sabemos – e já que se seleccionaram “companhias constituídas ad-hoc” – é da existência de alguns jovens bailarinos portugueses, na sua maioria integrados em “circuitos oficiais ou institucionais” onde ainda não tiveram a chance de lhes darem uma oportunidade para criação coreográfica […] por isso entendemos a prudência do Acarte –é perigoso e difícil (pode, até, ser negativo) apostar-se em quem ainda não deu provas das suas virtualidades […] já demonstrámos o nosso apreço sincero pelas actividades e carreira artísticas de Rui Horta –pessoalmente cremos, dizíamos, que Rui Horta é uma personalidade saudavelmente ambiciosa, empreendedora e plena de juventude – entre nós, quase que um “franco-atirador” da dança e do espectáculo – do que propriamente como coreógrafo profunda e inteiramente original […] No entanto, estamos na presença da melhor, da mais conseguida e da mais equilibrada obra coreográfica de Rui Horta. […] “Linha”, uma obra parente próxima daquilo que Pauline Koner, grande e prestigiada bailarina, coreógrafa mestra norte-americana da “modern dance”, designa por “dança intrínseca”. (Tomaz Ribas, A Capital, 16-1-1989)
Ficha Técnica
Coreografia
RUI HORTA
Música Original
LUÍS CÍLIA
Figurinos
ISABEL TROVÃO
Luzes
PAULO GRAÇA
Execução do Cenário
VASCO SANTOS
Bailarinos
PAULO RIBEIRO, CLARA ANDERMATT, CARLOTA LAGIDO, INÊS BERNARDO, FRANCISCO CAMACHO