Sobre

Continuando uma acção no âmbito do Jazz em que o ano de 1986 será pródigo, como se pode ler no programa da iniciativa, a terceira edição do Jazz em Agosto contará com “quatro programas diferentes repetidos duas vezes , num total de oito concertos , e as mesmas, senão melhores condições de luz e de som”, tendo igualmente um workshop por Paul Motian, destinado a jovens músicos.

 

O interesse do ACARTE pela música de jazz manifestou-se logo no seu primeiro ano de actividade , através da realização do Jazz em Agosto – uma iniciativa que, ao longo de quatro quartas-feiras, encheu aos fins de tarde o Anfiteatro de Ar Livre de um publico jovem e entusiasta. Os intérpretes, nesse Agosto de 1984, eram também jovens e também entusiastas , todos eles músicos portugueses, e havia o aliciante de se estrear naquela oportunidade um novo agrupamento, o Sexteto de Jazz de Lisboa. O Hot Clube de Portugal deu uma preciosa ajuda ao acontecimento. No ano seguinte, por ocasião do Jazz em Agosto 85, verificou-se um salto qualitativo e quantitativo: houve seis concertos em lugar de quatro e recorreu-se a colaboração de alguns reputados músicos estrangeiros. A presença portuguesa esteve confiada a uma formação nascida para o efeito, o António Pinho Vargas Ensemble, sendo Rui Neves o especialista consultor. Os concertos realizaram-se a noite, também no Anfiteatro de Ar Livre, num cenário natural belamente iluminado, com som cuidado e lotações esgotadas. Em 1986 o interesse do ACARTE pela musica de jazz evidenciou-se a vários níveis. Foi primeiro o Curso de Interpretes e de Direcção de Big Band, organizado em colaboração com o Taller de Musics, de Barcelona e orientado pelo contrabaixista português José Eduardo. Depois o convite dirigido ao Hot Clube de Portugal para constituir uma orquestra destinada a participar ao vivo nos espectáculos da Companhia de Dança de Lisboa. Finalmente, o Jazz em Agosto 86, que se deseja represente um progresso relativamente a 85, com quatro programas diferentes repetidos duas vezes , num total de oito concertos , e as mesmas, senão melhores condições de luz e de som. Os artistas são todos eles de boa craveira internacional , merecendo especial registo, por razoes afectivas, a colaboração de Paul Motian, de ascendência arménia, e de Saheb Sarbib, de origem portuguesa. Estarão representadas nos concertos varias tendências estéticas do actual jazz, a fim de atender a diversificação de gostos e num propósito de informação. Haverá ainda – e esta será uma acção inédita relativamente as anteriores edições de Jazz em Agosto – um workshop por Paul Motian, destinado a jovens músicos. Assim, a Fundação Calouste Gulbenkian espera poder contribuir para o alargamento de horizontes culturais dos portugueses.
M.M.A. P.”

 

Na imprensa sentem-se os ecos da polémica do ano anterior:

 

“ A extraordinária acção da FG em prol da cultura em Portugal não pode ser posta em causa por ninguém. Acção que não se tem limitado a divulgar, mas que procurou também assumir um papel pedagógico, combatendo o conservantismo que há muito tempo se instalara entre nós. Por isso mesmo, a Fundação optou desde sempre por uma atitude de abertura e de vanguarda e franqueou as suas portas a todas as correntes de arte moderna e contemporânea. Que a Fundação não ama o Jazz parece por demais evidente. […] Em 86 esta orientação [de não revelar ao público os grandes nomes do jazz, mas muitas outras coisas] manteve-se com nova edição de “Jazz em Agosto”, e parece estar em vias de se consolidar agora em Outubro, com o ciclo ”Nova Música Improvisada”. Sem ter ainda oferecido ao público exemplos do verdadeiro jazz, a Fundação pretende passar-lhe por cima e embarcar directamente nas tentativas de criação duma “música nova” que tem o jazz de vanguarda, entre outros géneros, como ponto de partida. […]” (António José Veloso, O Dia, 22-9-1986)