Sobre

Na imprensa pode ler-se:

 

SOLO/DUO: BRAVO!
Os aplausos rebentam na sala: “bravo! Clap, clap, clap. Merveilleuse! Clap, clap, clap. Encore!”… a actriz inclina-se em vénias redobradas para agradecer. Os aplausos continuam sempre, cada vez mais fortes: “Encore! Clap, clap, clap. Encore!” A actriz prossegue nas cortesias, adivinha-se alguma surpresa por tão calorosa ovação; ainda assim ela agradece sempre, sublime, “ravissante”, triunfadora, apoteótica até: Ingrid Kuijpers e Karina Holla em Solo/Duo, na Mostra de Teatro Holandês no espaço ACARTE.

O público espreita divertido e silencioso. Ingris Kuijpers aplaude ainda, Karina Holla, a actriz, segue numa caricatura, vibrante da diva. Este é um excerto que escolhemos de Solo/Duo, uma proposta interessantíssima de duas actrizes excelentes. […] Mais uma vez tivemos oportunidade de assistir a uma mostra de Teatro estrangeiro, e só lamentamos que este tipo de iniciativas seja tão esporádico entre nós e não por qualquer espécie de síndrome de provincianismo do tipo “ ver o que e faz lá fora para actualizar o que se tem feito por cá”. Ou seja, ter oportunidade de contactar com o trabalho seja ele qual for, de outros países com experiências diferentes, “backgrounds” diferentes, é sempre um estímulo. E porque não uma sede de inspiração eventualmente para outros trabalhos? Mas existe uma razão que faz destas mostras um espaço especial para o confronto de ideias, e esta será um certo descomprometimento do público face aos trabalhos apresentados que me parece ser importante sublinhar. Assim, no caso de Solo/Duo, por exemplo, e se no lugar de duas holandesas desconhecidas tivéssemos um par de actrizes da nossa praça, estou em crer que pelo menos três convencionais chamadas ao palco teriam feito, em vez de duas como foi o caso. Na apreciação do espectáculo não entram em jogo considerações do género: “pois, mas ela até ganhou o prémio da melhor interpretação feminina em mil novecentos e troca o passo!” ou qualquer outra consideração do género que, no fundo, só prejudica a avaliação dos trabalhos e eventualmente, dos seus méritos. Trazendo grupos desconhecidos do grande público, antes de mais nada possibilita-lhe esta visão desprendida dos referenciais que normalmente condicionam a apreciação que se faz aos trabalhos nacionais que pelos vistos não terá assim tanta razão de ser.” (Lúcia Sigalho, Tempo, 28-4-1988)

 

 

Libertando o teatro da lógica convencional, derrubando muitos dos cânones teatrais da geração anterior, os responsáveis do moderno teatro da Holanda conseguiram a libertação que tornou possível o experimento, que vê o absurdo metafísico no centro da nossa existência. E é o caso do “Solo/Duo”, o terceiro programa desta Mostra, em que duas mulheres escarnecem de todas as regras do teatro, numa competição de actuações/improvisações, que se vão tornando cada vez mais absurdas, ridículas e cómicas. (Augusto Fraga, O Século, 28-4-1988)

 

Dos quatro espectáculos, não pude ver o último, o que lamento por ser bastante prometedor. Dos três vistos, o terceiro (“Solo/Duo”) não me interessou, mas os dois restantes compensaram-me. […] Jim van der Woude apresentou um espectáculo com o título “Prato do Dia”, um solo praticamente sem palavras, uma experiência notável de trabalho de actor, mas também um trabalho sensacional a nível da tecnologia (luzes, som) utilizada, tanto mais surpreendente que à primeira vista parece tratar-se de um espectáculo pobre, no sentido grotowskiano da expressão. […] Quanto a “Solo/Duo”, com Karina Holla e Ingrid Kuijpers, este sim é que me pareceu não querer ultrapassar o nível do espectáculo elementar, das formas pré-teatrais. As duas actrizes, possivelmente dotadas, limitaram-se a um jogo de demonstração vocal, corporal, que passa é certo pela intenção satírica, pela auto-ironia, mas nunca abandona a margem do conformismo; limita-se a ser uma proposta que se mostra incapaz de atingir o espectador com um mínimo de energia teatral. […] Quer o gozo fácil e vistoso, sem complicações, a relação teatral que não exija qualquer capacidade de conceptualização […]. Qualquer filosofia. Quer o que lhe parece ser muito (pós) moderno. Não quer textos grandes ou pequenos, não quer histórias, situações, dramas, formas que o obriguem a pensar. É um público (jovem!) a caminho da alienação, obviamente. (Carlos Porto, Diário de Lisboa, 29-4-1988)

 

Ficha Técnica

Concepção

KARINA HOLLA

Direcção

RENSE ROYARDS

Música

JOSÉ LEAL

Intérpretes

KARINA HOLLA E INGRID KUIJPERS