Sobre
No centenário do nascimento de Nijinsky, o ACARTE organiza a iniciativa “Solos de Homenagem a Nijinsky”, onde Vera Mantero apresenta o solo “Uma Rosa de Músculos” e Daniel Larrieu o solo “Pour l’Instant”.
No programa da iniciativa pode ler-se:
Nijinsky
Herdeiro de cinco gerações de bailarinos; conhecido e amigo de grandes personalidades
do mundo das artes, na época do seu apogeu; ídolo dos públicos de diversos
países; criador de obras que marcaram o início de uma nova era nos domínios
da hist6ria da musica e da dança; estrela dos Ballets Russos de Diaghilev – Nijinsky
foi 0 maior bailarino do seu tempo, se e que não 0 maior de todos os tempos.
Sempre com 0 estigma de estrangeirado, devido as suas origens polacas, com uma
vida íntima tumultuosa e agitada, este Clown de Dieu pagou no final da carreira, com
a loucura, os excessos que tinha cometido e as marcas do seu passado. Defendido por Diaghilev com argumentos de ordem estetizante, contrapondo-os as
razões éticas com que os críticos ingleses procuravam atacar as suas coreografias, Nijinsky oscilou na vida entre ser pássaro e ser homem. Os seus celebrados saltos
faziam-no’ crer uma ave. O homem estava presente na linguagem gestual, na sublimação da sexualidade.
A este grande bailarino e coreógrafo se aplicam os belos versos de Mario de Sá Carneiro:
Um pouco mais de sol – e fora brasa
Um pouco mais de azul – e fora além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa … ,
Se ao menos eu permanecesse aquém .. .
M. M. A. P.
Novembro 1989
No inicio deste século dois grupos originários de Continentes diferentes vão associar a Dança ao Movimento das rupturas estáticas com que se iniciou a Europa das Artes do séc. xx. O primeiro grupo provinha da América do Norte e era constituído por Loie Fuller, Isadora Duncan, Ruth St. Denis e a canadiana Maud Allan, que sucessivamente foram chegando a Europa, e que de Paris a S. Petersburgo, com as coreografias que executavam, na maioria das vezes a solo, introduziram uma ruptura estética na Historia da Dança. Foi o primeiro modernismo nesta Arte. Um segundo modernismo nasceu em S. Petersburgo nos anos de 1907. Foi impulsionado por alguns dos espectadores das bailarinas americanas, reunidos a volta de Serge Diaghilev, o criador dos Ballets Russes. No entanto, o mais moderno dos Ballets Russes foi o bailarino e coreografo Vaslav Fomitch Nijinsky. Os dois modernismos na Dança impuseram-se através de uma radicalização no interior desta Arte. […]
ANTONIO PINTO RIBEIRO
Outubro de 1989
E diz-nos a imprensa:
Lisboa – O Serviço ACARTE da FCG vai comemorar o centenário do nascimento do bailarino Vaslav Nijinsky com espectáculos de dança a realizar nos dias 17, 18 e 19 deste mês. […] O primeiro solo é dançado por Michel Kelemenis […]. Plasticamente belo nas suas danças, Kelemenis é um bailarino perfeccionista. Cuida os detalhes mínimos nos seus passos, o movimento processando-se com a precisão de um maauinismo de relojoaria. […] Por sua vez, “Uma Rosa de Músculos” é o nome da peça expressamente criada por Vera Mantero para esta homenagem a Nijinsky […]. Daniel Larrieu, que vai apresentar nestes “Solos a Nijinsky” o Vídeo/dança intitulado “Waterproof” é o actual director da companhia de Bailado “L’Astracan”. Neste seu trabalho, prossegue com o seu humor e a sua elegância, a que associa uma visão muito pessoal da tragédia do que designa como “…animal ferido”.” (Diário de Notícias, 9-11-1989)
Os encontros ACARTE são, anualmente, o mais notório e popular acontecimento promovido por aquele sector da Gulbenkian, mas alguns dos mais inovadores programas vão surgindo discretamente ao longo do ano. É o caso do próximo espectáculo Solos a Nijinsky, com estreia na sexta-feira, e de um ciclo dedicado à dança espanhola mais recente que surgirá a seguir. Nijinsky nasceu a 28 de Fevereiro de 1889 e o centenário foi este ano diversamente comemorado; a 10 de Junho, o EXPRESSO deu conta da reunião de oito dos mais notórios jovens coreógrafos e bailarinos franceses num espectáculo inteiramente preenchido por solos de homenagem ao mítico bailarino e coreógrafo russo. Desse programa, as duas propostas mais interessantes, as de Michel Kelemenis e Daniel Larrieu,vão agora poder ver-se em Lisboa, juntamente com a estreia de Uma Rosa de Músculos, uma peça criada por Vera Mantero propositadamente para este espetáculo (produção do ACARTE). […] Vera Mantero é actualmente uma das jovens bailarinas e coreógrafas mais prometedoras, tendo-se nomeadamente destacado no último Estúdio Experimental do Ballet Gulbenkian. […] (Expresso, 11-11-1989)
[…] Há poucos anos – menos por incultura do que por recusa de referências ou provocação –, Nijinsky estava quase votado ao esquecimento. Agora, no centenário do seu nascimento, um pouco por todo o mundo, coreógrafos, debutantes ou já consagrados, celebram os 100 anos daquele que, pelas suas formas continuamente evanescentes, pela abolição da graciosidade das curvas e do gesto redondo e pela predisposição corporal para o virtuosismo, introduziu o modernismo na dança de raízes europeias. […] (Ana Marques Gastão, Diário de Notícias, 17-11-1989)
Atento à fenomenologia da dança, a que se refere ao passado, ao presente e, porventura, ao futuro, o ACARTE veio agora recordar os cem anos passados sobre o nascimento de Nijinsky, uma das mais fascinantes personalidades do bailado do nosso século. […] Foi, pois, este artista de nascimento polaco e feito na famosa escola de dança russa, o que a Gulbenkian (ou antes, o Acarte, pela mão da ilustre, ilustre porque é culta e realizadora, M.A.P.) homenageou, na Sala Polivalente […]. No solo de homenagem ao coreógrafo-bailarino, Michel Kelemenis dá-nos, na linguagem muito actual da dança contemporânea, uma glosa cujo mote é o Après-Midi d’un Faune, aqui sobre música descritiva de Gilles Grand (não sincronizada com os movimentos mas suficientemente expressiva para nos dar, por exemplo, o arranhar da terra). […] Vera Mantero coreografou e dançou Uma Rosa de Músculos […] Muito carregadas [a música e a coreografia] de legenda entre a pausa, o silêncio e a emoção, as linhas rectas do vocabulário não quebram o clima de ligeiro vigor. […] Três mensagens diferentes, três gramáticas de linguagem e escrita diferentes nos propõe este espectáculo cheio de frescor, de qualidade, de oportunidade e de um apuramento que traz a marca Acarte. […] (Manuela de Azevedo, Diário de Notícias, 22-11-1989)
[…] A Portugal chegaram, em 17, 18 e 19 de Novembro dois desses eleitos franceses –Michel Kelemenis e Daniel Larrieu – que, juntamente com o trabalho da portuguesa Vera Mantero, dançaram os seus “Solos a Nijinsky” na Sala Polivalente do CAM. Como no início do século, juntam-se valores que são, de algum modo, a génese de uma nova linguagem. E embora estes anos não funcionem como aqueles, falaremos certamente, no futuro, daquele ou doutro encontro privilegiado onde lá estavam “todos”. […] Como Gaugin, Nijinsky procura a sua “instância originária” nos baixos-relevos egípcios e nos vasos gregos que retratam os ritos, danças e cerimónias do corpo que irá “inventar”. Substitui a busca clássica do corpo ideal pelo que há de anguloso na postura. É sensual. Abre as mãos, flecte osjoelhos, vira os pés para dentro e projecta o corpo numa tela imaginária onde passa o filme de um novo mover, incompreendido na época e considerado escandaloso. Era a libertação e a consagração avant la lettre de Nijinsky coreógrafo. […] Não se tratou de uma pretensão, ou de um esforço mimético, os solos que os três coreógrafos apresentaram em homenagem a Nijinsky. Tratou-se antes dos ecos, das opções resultantes de diferentes sensibilidades. […] Vera Mantero dançou a sua coreografia Uma Rosa de Músculos, a sua peça de homenagem a Nijinsky, onde coube a sugestão de alguns movimentos seus emoldurados por luz branca. […] (Cristina Peres, Blitz, 5-12-1989)
UMA ROSA DE MÙSCULOS
Coreografia e Interpretação
VERA MANTERO
Música
BRUNO D'ALMEIDA
Figurino
CARLOTA LAGIDO
Luz
RUI FERNANDES
Produção
ACARTE
FAUNE FOMITCH
Coreografia e Interpretação
MICHEL KELEMENIS
Música
GILLES GRAND
Concepção Musical
CANOPE
Assistente na Coreografia
PRISCILLA DANTON
Figurino
DOMINIQUE FABREGUE
Confeccionado
DOMINIQUE FABREGUE E AGNÈS BOUSQUET
Luz
BIENNALE INTERNATLONALE DE LA DANSE DE LYON E THÉÂTRE DE L'AGORA D'EVRY
Solo criado para a
NOITE DE GALA DA BLENNALE INTERNATLONALE DE LA DANSE DE LYON - 1988
POUR L'INSTANT
Coreografia e Interpretação
DANIEL LARRIEU
Luz
FRANÇOISE MICHEL
Figurino
MARGAR~T STRECHOUT (HOMENAGEM A SYLVIE SKINAZI)
Música
IGOR STRAVINSKY
Realização
JEAN-JACQUES PALIX E EVE COUTURIER