Sobre

A propósito de Linha do Horizonte de Lourdes Castro e Manuel Zimbro, a primeira performance no âmbito da Exposição-Diálogo, catalogada enquanto teatro, as opiniões dividem-se:

 

“Raros percursos criativos testemunham uma tão grande coerência interna como o de Lourdes Castro […]. Poderá falar-se na utilização de um achado se através deste chegarmos ao “ready-made” e daí a uma atitude dadá que está presente em Lourdes Castro como esteve nos novos realistas dos anos 60 em que se afirmou, e como se reactualiza também de vários modos nestes anos 80. […] Poder-se-ia, inserindo o espectáculo na sequência já formada pelos de M. Kagel e Jan Fabre, interrogar qual é o lugar de Lourdes Castro (e Manuel Zimbro, co-autor) nesta amostragem de criações contemporâneas que fazem da inexistência de fronteiras entre géneros uma marca decisiva, e do excesso, da violência e das referências culturais a via de regresso a emoções originárias. Esse lugar é, primeiro, o da radical diversidade actual dos produtos em circulação, negando de forma que se espera decisiva uma crença positivista da ultrapassagem dos efeitos ou do isolamento progressivo dos elementos. Nessa diversidade se inscreve tanto uma obra como a de Jan Fabre que explicitamente refere as que lhe servem de necessário fundamento, como a de Lourdes Castro onde são as imagens de um quotidiano familiar e não as de um universo cultural que constroem o discurso. Diria, aliás, que o colocar-se como presente e o não justificar-se como história se configura como manifestação de uma diferença particularmente sugestiva. […] Conquista-se assim uma dignidade plena do ver (como noutros retornos ao suporte bidimensional do quadro), num percurso pela acção. Visão em acto, portanto já não marcada por qualquer fatal transgressão que práticas da crueldade antes encenaram. Apenas ver, sem máculas e sem medo.” (Expresso, 5-4-1985)

 

“Não deixa de ter interesse a técnica utilizada por Lourdes de Castro e Manuel Zimbro neste Teatro de Sombras […]. Trata-se, pois, de uma experiência agradável que se segue sem custo. Mas não é mais do que isso, e isso é pouco. Parece-me que não há correspondência entre uma técnica curiosa, que talvez possa ser mais produtiva, como quando vemos imagens desdobradas, ou a cor é utilizada de maneira funcional, e aquilo que, em sombra, vemos. É certo que o teatro de sombras normalmente não vai mais longe do que isso. Neste caso, no entanto, talvez fosse possível uma busca mais profunda das potencialidades dos meios utilizados em ordem ao aproveitamento de um imaginário que aqui parece ausente. […]” (Diário de Notícias, 11-4-1985)

 

Ficha Técnica

Sombra

LOURDES CASTRO

Luz

MANUEL ZIMBRO