Sobre

A Mostra de Dança Holandesa Contemporânea, realizada de 4 a 16 de Novembro de 1986, constituiu uma revelação para o publico português. A surpresa inicial sucedeu-se uma adesão entusiástica da assistência, que em todos os espectáculos superlotou a Sala Polivalente e aplaudiu eloquentemente as companhias então apresentadas: Bart Stuyf & Company, Intro-Dans, Harry de Wit-Shusaku Takeuchi-Isabelle Guillaume e Dansgroep Kristina de Chatel. A surpresa justificava-se. A Holanda e um pequeno pais, geograficamente falando, a sua actualidade cultural e em geral mal conhecida entre nos e no domínio da dança, receio-o bem, para além das grandes companhias e dos coreógrafos mundialmente famosos, poucos teriam ouvido falar do borbulhar de pequenos grupos com características experimentais e inovadoras. Foi uma revelação, portanto, que aguçou o apetite para se saber mais do panorama artístico holandês, sobretudo em aspectos de modernidade.
A presente MOSTRA DE TEATRO HOLANDES responde a essa inteligente e justificada curiosidade. Movendo-se numa região em que as fronteiras do teatro tradicional se esbatem, puramente teatro de imagens ou predominantemente visual, recorrendo a combinação com outras disciplinas – designadamente marionetas e uma mímica que pouco tem a ver com a de Marcel Marceau – vão apresentar-se nesta Mostra quatro companhias demonstrativas da criatividade e da originalidade do teatro holandês contemporâneo. Não houve a pretensão de ilustrar exaustiva ou sequer pontualmente o panorama teatral holandês, que alias é considerado como um dos mais variados da Europa. Houve, sim, a preocupação de demonstrar a existência na Holanda de um teatro de características especificas, que pode abrir novas pistas e fazer descobrir novos horizontes ao jovem teatro português. O que não poderá acontecer sem apoios. A riqueza do actual teatro holandês resulta duma politica teatral de mais de 20 anos, que engloba a concessão de subsídios por autoridades locais (governos municipais e provinciais) e pelo Ministério da Cultura.
Outras facilidades, como a transformação de fabricas, de escolas e de igrejas em espaços teatrais, atribuições de meios técnicos e administrativos profissionais e o auxilio a jovens directores, por exemplo, contribuíram também
para o florescimento do teatro holandês. Há também a importante intervenção do Conselho das Artes, que pressionou as companhias dependentes do dinheiro estatal no sentido de renovarem o seu repertório. Last but not least, existe o Instituto Neerlandês de Teatro, cuja acção junto das companhias e do público em geral se tem revelado do maior interesse e sem cuja colaboração não poderíamos ter apresentado, nem a Mostra de Dança Holandesa Contemporânea, em 1986, nem a presente Mostra de Teatro Holandês. Os resultados da politica teatral que vimos falando estão à vista: cerca de 1500 espectáculos novos por ano, num total de produções que inclui os grupos semi-profissionais locais. Bem entendido, não temos que copiar senão o que é bom. Devemos descobrir os nossos próprios e específicos caminhos de progresso. Mas uma reflexão sobre os exemplos dos outros ajuda sempre. Que esta Mostra de Teatro Holandês contribua para alargar os horizontes dessa necessária reflexão por parte de todos: entidades oficiais e particulares, actores, directores e publico – não apenas o que se diz amante de teatro, mas também aquela grande massa que se interessa pelos problemas da nossa cultura.

 

M.M.A.P.
Lisboa, 19 de Março de 1988

Ficha Técnica

Concepção e Manipulação

HENK E ANS BOERWINKEL