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Wolf Vostell apresentará na Exposição-Diálogo duas performances,  Concerto Fluxus e Jardim Das Delícias (Fluxus Opera).

A participação de Wolf Vostell na Exposição-Diálogo deu ocasião a um dos momentos mais polémicos desta iniciativa, a famosa “Guerra das Alfaces” segundo Jorge Lima Barreto, um happening em toda a acepção da palavra:

 

[…] O que distinguirá um happening, fundamentalmente, duma performance é que o happening desencadeia da parte dos assistentes uma participação activa no acontecimento estético e a performance desenvolve um fluxo de operatividades exclusivas do performer ou dos performers. O “Jardim das Delícias foi um happening em toda a acção da palavra.[…]

 (Jorge Lima Barreto, Jornal de Letras, 23-4-1985)

 

Vejamos a este respeito uma descrição do que se passou, segundo o Jornal Tempo num artigo de José Blanc Portugal intitulado ‘Wolf Vostell entre latinos’:

 

Na véspera, o irreverente Marquês de Sade das artes plásticas do século XX mimoseara uma assembleia heterogénea quanto baste com dispêndios energéticos de tudo um pouco; portas de automóveis, grunhidos minimais repetitivos, géneros alimentares arremessados às oito divindades da opulência. Este sábado promete, porém, outro modo de fascinar, de seu nome, O Jardim das Delícias […]. Entro. Entramos. À medida que nos vamos escoando pela estreita escada, cada um de nós recebe uma almofada cor-de-laranja. A sala está segmentada por meia dúzia de mesas de madeira, entre as quais se anicha a pequena multidão (talvez duas centenas de gentes?) e as suas almofadas cor-de-laranja. Sobre as mesas estão uns bons quilos de alfaces e uns frasquinhos de vidro (fixem bem estes frasquinhos; ainda voltaremos a falar deles) com azeite ou/e vinagre. […] Passados cerca de vinte minutos de espera, principia a dança. Primeira alface arremessada e que acerta em cheio na pinha de um dos honoráveis espectadores. Vostell que, por fim, se revela? Não. Apenas os malabarismos primeiros de outros tantos membros ilustres da assembleia. Que querem?, ninguém pode esperar eternamente sem um ou dois divertimentos à mão de semear. Passados cinco minutos a orgia degenera. Alfaces pelos ares, barricadas feitas de mesas e colegas, e (atenção) frasquinhos (e eis que surgem, finalmente, os anunciados frasquinhos) mimoseando estilhaços de vidro aqui e ali. Uma verdadeira carnificina. Uma pândega. Eis, porém, que as luzes se acendem […] e Vostell desce as escadas com cara de poucos amigos. Primeiras reacções: ó Vostell, ganda performance, se isto foi a estreia, imagina as repetições, com gente a trazer bolas de bowling de casa! Qual! Vostell está pior que uma barata! Que não percebemos nada, que devíamos ter ficado sentadinhos, no segredo dos deuses, a ouvir música e que – benza-o-Deus – as alfaces eram para comer! E para provar o que dizia, trás!, não esteve com meias medidas: sacou logo de uma e toca a lanchar à frente daquela corja de latinos tão caluniados. E pronto, mais uma vez. O jardim das delícias tornou-se um escândalo. À saída, comentários ensaístas de meia dúzia de figurinos: “ É um horror, as pessoas andam a recalcar violência e depôs quando podem…”. Eu cá não tenho nada a dizer. Passei uma excelente performance. E teve piada ver que a presença de Vostell não foi acolhida como a de um Deus de outras paragens. E teve piada participar na prova de que os anos oitenta necessitam de outro tipo de acontecimentos, do que o espectáculo rigidamente previsto. […] apesar das palavras irascíveis e paternalistas, Vostell bem se riu pelo cantinho do olho, que outra coisa não seria de esperar. […]

(Tempo, 11-4-1985)