sobre

Se em Novembro de 1986 o ACARTE organizara uma Mostra de Dança Holandesa, em 1987 a iniciativa chamar-se-á ‘Aspectos da Dança Contemporânea’, estendendo-se a outros continentes que não o Europeu, e continuando a contar com workshops destinados a bailarinos (desta feita com Stephen Petronio e Eiko e Koma). No programa da iniciativa pode ler-se:

 

Após uma certa predominância da Dança Europeia Contemporânea, decidiu o ACARTE abrir o leque das suas manifestações neste domínio, abrangendo também Artistas e Companhias de outros Continentes. O Ciclo de Dança que vai ser apresentado de 31 de Outubro a 22 de Novembro de 1987, inclui, assim, uma Companhia de Dança Argentina, outra Norte-Americana, um Grupo de Bailarinos Japoneses residentes em Nova Iorque e uma Companhia de Dança Europeia.
Por coincidência ou talvez não, o despoletar de um interesse latente por novas formas da dança acompanhou o aparecimento do ACARTE na cena artística portuguesa. Correspondendo a esse interesse, o ACARTE tem apresentado em Portugal vários grupos e companhias de dança escolhidos, designadamente, entre aqueles que se dedicam ao experimentalismo e à inovação.
Esta política conduziu a uma predominância inicial de grupos europeus, onde se pensou poder encontrar mais vitalidade e maior diversidade, um pouco esgotada como se afigurava estar a capacidade criativa da modern dance de raiz americana.
Seria contudo errado, por empobrecedor, querer cingir à Europa a acção do Serviço neste domínio, até porque o ACARTE desde sempre afirmou a sua vocação para uma abertura cultural extra-europeia. Aí temos portanto quatro pequenas Companhias, oriundas da Argentina, dos Estados Unidos da América, do Japão e da Grã-Bretanha, a evidenciarem uma saudável diversificação de estilos e de técnicas. Novas formas de comunicação com o público, desafio dos padrões estéticos tradicionais, um sentimento de libertação relativamente a modelos opressivos constituem as características comuns dessas Companhias, cuja apresentação entre nós contribuirá certamente para um alargamento dos horizontes estéticos dos espectadores e para uma maior fruição da dança. Sem esquecer o muito que os jovens bailarinos e coreógrafos portugueses poderão beneficiar dos contactos assim proporcionados, descobrindo pistas e fortalecendo caminhos para os seus próprios trabalhos.

 

Lisboa, Outubro de 1987
M.M.A.P

 

A imprensa dá conta do acontecimento:

 

 

“Aspectos da Dança Contemporânea”, promovido pelo ACARTE (o enfant gaté da Fundação Calouste Gulbenkian) […]. Só farei votos, porém, para que após os nossos 47 anos de censura e 12 de liberdade de expressão, o teatro não inverta o sentido do aforismo popular, porque, aqui, não é o silêncio que é de ouro mas a palavra. Dizia Curvo Semedo, rival do grande Bocage, que “a fala foi dada ao homem, rei de todos os animais“. (DN, 29/11/87)

 

 

Após uma certa predominância da dança Europeia Contemporânea, decidiu o ACARTE abrir o leque das suas manifestações neste domínio, abrangendo também artistas e Companhias de outros Continentes. (O Dia, 30/10/87)