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Em 1988, José Sasportes organiza no ACARTE o Colóquio Perspectivas da Dança em finais do Séc. XX. A complementa-lo a apresentação de espectáculos pela Companhia de Dança de Lisboa (em ante-estreia) e pelo Ballet Gulbenkian (com a estreia de Presley ao Piano de Olga Roriz/Ricardo Pais).

Em coincidência com este colóquio [“Perspectivas da Dança nos finais do século XX”] haverá uma ante-estreia pela Companhia de Dança d Lisboa (dias 4 e 6 de Abril), na Sala Polivalente e uma estreia absoluta pelo Ballet Gulbenkian, no Grande Auditório

No programa da iniciativa José Sasportes sustentará que este é “o momento em que a dança em Portugal atravessa o período mais prospero da sua historia, ainda [que] com [muito] para caminhar”. E escreve Madalena Perdigão:

 

Não há sim sem não. Este bela titulo do quadro de António Dacosta, incluído, na exposição que com tão justificado êxito se encontra patente ao publico na Fundação Calouste Gulbenkian, não poderá certamente constituir lema ou conclusão do Colóquio sobre Perspectivas da Dança nos Finais do Século XX. Sim a uma linguagem da dança procedente da dinâmica dos gestos e do movimento? Não? Ou não apenas isso? Sim a uma linguagem da dança com raízes na literatura? Ou quase afim do teatro? Ou tão fortemente imbuída da musica que esta prevalece? Ou ainda mesclada de vídeo e de tecnologias várias? As respostas, me parece e sem querer antecipar-me as conclusões do Colóquio, não serão sim ou não. Mas que reconfortante saber que críticos. teóricos, professores, coreógrafos, da mais alta competência, vão reflectir em conjunto sobre estes e outros problemas da criação e do ensino da dança. E que gratificante conhecer a partida que parte portuguesa estará bem representada e que poderá contribuir para 0 esclarecimento e o progresso de algumas das quest6es sobre a mesa. Nestes dois últimos casos – o da reflexão em conjunto e o da contribuição portuguesa – aqui, sim, a resposta é mesmo afirmativa (Mestre Dacosta que nos perdoe) e não existe lugar para o não.

 

Lisboa, 3 de Março de 1988
Maria Madalena de Azeredo Perdigão

 

O momento em que a dança em Portugal atravessa o período mais próspero da sua historia, mas ainda com tanto para caminhar, é, talvez, uma boa ocasião para uma reflexão em conjunto sobre as suas possibilidades futuras e sobre o seu lugar no quadro da criação coreográfica contemporânea. Dai a oportunidade de organizar este Colóquio sobre Perspectivas da dança nos finais do século XX, concebido como um ponto de encontro e de confronto entre várias experiencias da dança europeia e americana. Panorama necessariamente incompleto, tem contudo uma amplitude rara e poderá ajudar a colmatar algumas lacunas da nossa informação sobre um fim de século em que a criação coreográfica se mostra activíssima e em constante renovação. Para não se perder o impulso de que a dança em Portugal tem beneficiado nos últimos anos, e indispensável poder acompanhar este ritmo. O Colóquio alterna intervenções de carácter genérico com análises especificas da situação da dança em diversos países. Para cada país, entendeu-se que, para além de um crítico, deveria também dar-se a palavra a um coreografo por ele escolhido para ilustrar as tendências recentes da criação nesse pais. Procurou-se, assim, uma síntese entre o pensamento teórico e a razão pratica para melhor se adivinharem as linhas da evolução futura. Não é anómalo que 0 caso português seja chamado a ribalta com primazia. Os coreógrafos e os organizadores portugueses terão interlocutores de excepção e é de esperar que a dinâmica da reflexão em comum possa suscitar um debate frutuoso. Quanto mais atento e exigente se mostrar o publico, mais profundo será o seu estimulo a qualidade e a inovação. Estes últimos anos do século XX são a nossa primeira oportunidade de contar, coreograficamente falando. Antes do arranque, comparemos as nossas forças com quem nos acompanha na mesma aventura.

 

Lisboa, Fevereiro 1988
José Sasportes

 

E ler-se-á na imprensa:

 

Críticos, teóricos, professores, coreógrafos, nacionais e estrangeiros vão debater hoje e amanhã as perspectivas da dança nos finais do século XX, no âmbito de um colóquio organizado em Lisboa pela FG. Este Colóquio ocorre numa altura em que a dança atravessa, em Portugal, “o período mais próspero da sua história”, como refere José Sasportes. (O Século, 8-4-1988)

 

O Colóquio “Perspectivas da Dança nos Finais do Século XX” que decorreu […] com grande afluência de um público tão jovem quanto interessado e que trouxe até nós algumas interessantes personalidades estrangeiras ([..] incluiu no seu programa geral dois espectáculos de dança: um, a cargo da Companhia de Dança de Lisboa e outro, a cargo do Ballet Gulbenkian […] embora nos pareça que foi injusto não ter incluído nesse programa, igualmente, o Dança-Grupo, um agrupamento que por todas as razões bem merecia tal inclusão e que, de certo modo e em alguns aspectos, melhor se coadunava com os aspectos estéticos da dança de hoje que durante o colóquio foram analisados e discutidos. (Tomás Ribas, 20-4-1988)

 

 

Ficha Técnica

Participantes no Colóquio

CARLOS PONTES LEÇA, MARCELLE MICHEL, KARINE SAPORTA, JAN MURRAY, RICHARD ALSTON, MARK HAIM, JORGE SALAVISA, GIL MENDO, RUI HORTA, VANSLOV, BORIS EIFMAN, INE RIETSTAP, ED WUBBE, WANDA RIBEIRO DA SILVA, ANTÓNIO PINTO RIBEIRO, ROGER SALAS, NORBERT SERVOS, ROSAMUND GILMORE, MARGARIDA ABREU, ARMANDO JORGE, MARINELLA GUATERINI, FABRIZIO MONTEVERDE, TOMÁS RIBAS, VASCO WALLEMKAMP, OLGA RORIZ, RICARDO PAIS, SUSAN FOSTER, VICTORIA MARKS, JEAN PIERRE VAN AELBROUCK, MARIANNE VON KEERKHOVEN