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Já na sua 5ª série, os Concertos à Hora do Almoço prosseguem. Na imprensa a iniciativa será amplamente discutida.

 

Entretanto, começa amanhã, na sala polivalente do Museu de Arte Moderna, numa iniciativa do ACARTE, uma nova série de “concertos à hora do almoço” (às 13 horas, com entrada livre). O primeiro programa é dedicado a Satie, John Cage e Maurício Kagel. Subordinado à epígrafe “Jovem Teatro Música”, será interpretado por Paula Pires de Matos, Adriano Aguiar, Clara Canelhas Correia, António Manuel Neves da Silva e Luís Madureira, sob a direcção de Constança Capdeville. A série prossegue na terça-feira, com um programa constituído por peças com clarinete, nomeadamente de Lutoslawski e de Schubert (a conhecida e belíssima canção, para voz, clarinete e piano, op. 129, intitulada “O pastor no rochedo”). Interpretam-no Graziela Lá (soprano), Gabriela Canavilhas (piano) e Francico Ribeiro (clarinete). (M.V.C., Diário de Lisboa, 27-5-1988)

 

Uma abundante ementa musical vai preencher a nova série (a quinta) de “Concertos à Hora do Almoço”, promovida pelo ACARTE […]. A série tem início hoje, às 13 horas, com a actuação do grupo Jovem Música. Este grupo surgiu de um seminário sobre “O teatro musical e o intérprete hoje”, realizado em Fevereiro de 1987. Entre os jovens intérpretes que participaram, houve alguns que sentiram a necessidade de repensar o concerto tradicional. O seminário pretendia justamente chamar a atenção para a utilidade de determinados aspectos do teatro musical, como a interdisciplinaridade. Os alunos ficaram conscientes de que se impunha uma nova atitude perante os problemas da execução/interpretação e da relação intérprete/intérprete. Obras de vários compositores irão ser tocadas. De Erik Satie (1866/1925), ouvir-se-ão canções e peças para piano. […] John Cage, músico, filósofo e musicógrafo, é o autor de The Wonderful World of Eighteen Springs para voz e piano fechado, escrita em 1942 sobre texto de Joyce. O programa terminará com uma obra de Maurício Kagel, argentino radicado na Alemanha, que tem por título Ungius Incarnatus Est. […] O Miso Ensemble interpretará obras dos seus dois elementos, Paula Azeguima (flautista) e Miguel Azeguime (percussão). (Diário de Notícias, 28-5-1988)

 

“Com muitas das suas obras estreadas pelo Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e com a criação da sua própria ”companhia” músico-teatral – chamemos assim ao “Colecviva” – Constança Capdeville, compositora, tem desempenhado um dos papéis fulcrais no desbravar de caminhos para a definição de um “nosso” teatro musical. O mesmo pode dizer-se quanto ao se labor de pedagoga, sendo Constança Capdeville, como desde há dois anos é, a criadora e orientadora dos Seminários sobre teatro musical (realização do Serviço ACARTE da Gulbenkian), dinâmica para prosseguir e (como a própria anuncia) aprofundar-se. O segundo destes Seminários (realizado no ano passado) originou um pequeno e estimulante espectáculo de fim de curso, público, mas na altura conhecido quase só dos mais alertados. Logo ficou no ar a ideia de o mostrar em diferentes condições – dado o testemunho que constitui.  (E.J., O Diário, 28-5-1988)

 

Outro acontecimento que importaria comentar mais detidamente foi o “concerto à hora do almoço” realizado na terça-feira passada no CAM (organização do ACARTE). Para além de Carla Seixas, pianista de sólida formação já bem conhecida no nosso meio, o concerto revelou dois jovens artistas de grande qualidade e com enormes potencialidades de desenvolvimento: Pedro Wallenstein (contrabaixo) e Lúcia Lemos (soprano). Vai longe o tempo em que o contrabaixo era um instrumento “secundário”, um instrumento a bem dizer menos nobre que o violino, a violeta ou o violoncelo. Um dos fenómenos sociológicos mais interessantes produzidos pela evolução da música europeia deste século, tem sido precisamente a emancipação de todos os instrumentos, a subversão das hierarquias, as novas solicitações de carácter artístico, intelectual e técnico colocadas a instrumentos que, como o contrabaixo, raramente eram chamados a um papel solista. Isso significa a exigência de personalidades artísticas coma estatura de verdadeiros concertistas e não há dúvida que Pedro Wallenstein promete afirmar-se como tal. (Mário Vieira de Carvalho, Diário Popular, 17-6-1988)

 

“Será útil antes de tudo o esclarecer porquê eu a entrevistar o “Miso Ensemble”. Nunca tinha assistido a um concerto ou espectáculo deles – concerto? espectáculo? e aqui começa já a ambiguidade do “Miso Ensemble” que é um dos seus aspectos mais fascinantes – mas já tinha ouvido falar deste duo de flauta e percussão que interpreta Messiaen ou música de “jazz”, que compõe obras onde o mundo da música europeia contemporânea se encontra com tradições extra-europeias, que constrói instrumentos. Ao ouvi-los pela primeira vez, fiquei maravilhada. Porquê? Porque o caminho do “Miso Ensemble” é quanto a mim um dos mais difíceis, quando vivemos num mundo onde tudo se encontra ainda compartimentado e etiquetado. É a isso mesmo que eles escapam e com uma grande qualidade. Quando se tem como eu a experiência do grupo que é o “Colecviva” pensa-se que mesmo àqueles que tem responsabilidade na gestão da nossa vida cultural, um grupo como o “Miso Ensemble” (como o “Colecviva”) deve causar imensa confusão. E é bom aproximarem-se aqueles que realizam um trabalho cuja ambiguidade não é senão a recusa das compartimentações numa época em que, na arte, cada vez se sente mais que tudo, deve poder conviver harmoniosamente. E estou aqui, por isso, a interrogar o “Miso Ensemble”, ou seja, a Paula e o Miguel Azeguime.
 – Como é que isto despertou? Como começou este caminho tão difícil e tão bonito?
– O “Miso Ensemble” reflecte claramente as vivências musicais que nós dois conhecemos: depois da formação de base clássica e tradicional o grande interesse que sempre tivemos pelo “jazz” e sobretudo pela improvisação e que foi de certa maneira o elo que ligou as várias linguagens musicais por que fomos passando. Participámos de alguns grupos, fomos nós próprios os fundadores de outros…

[…] – Suponho que agora podemos abrir uma excepção para o ACARTE – Animação, Criação Artística e Educação pela Arte, no CAM, que tem aberto todas as portas a todas as manifestações que julga possam esclarecer o público. Raras vezes conheci uma pessoa que arrisque tanto a dirigir um Serviço, que é de uma responsabilidade tremenda, como a Dr.ª Madalena Perdigão. Somos devedores de nos permitir experimentar e mostrar o que sabemos e podemos fazer. E não há dúvida de que foi graças ao ACARTE que se criou um novo público, musical e não só.
– E essa actuação tem influência sobre outras entidades, levando-as a acreditar em possibilidades de que antes duvidavam ou que desconheciam. Este tipo de actividade está aliás a influenciar autarquias e centros culturais pelo país fora. São os casos do centro Cultural de Évora, da Casa da Cultura das Caldas da Rainha, do Fórum de Viseu, do Centro Cultural do Alto Minho, do Orfeão de Leiria e da própria Secretaria de Estado da Cultura ao nível de delegações regionais. E descobrimos na Guarda o “Aquilo”, que mantém um grupo de teatro amador, edita cadernos de poesia e é dirigido pelo animador cultural do Faoj, que propõe à Câmara Municipal programas para espectáculos. É interessantíssimo saber que esse animador não espera por propostas para organizar os seus programas: ele acompanha a vida cultural e toma a iniciativa de procurara os artistas. […] Tal como a ACARTE, em paralelo com a apresentação de espectáculo, vem desenvolvendo uma importante actividade de formação, assim também nós temos, na nossa actividade, uma pequena componente formativa. […] Tudo isto leva-nos a pensar que em Portugal há coisas a mudarem e como resultado do trabalho que têm desenvolvido precisamente uma Constança Capdeville, um Jorge Peixinho…

[…] Lembramo-nos de o Jorge Peixinho, no final de um concerto nosso, nos vir felicitar e dizer-nos: “Vocês são gente com imensa sorte, porque fizeram um concerto com uma sala cheia, com um público que gostou – quando eu, há vinte anos, fazia concertos com salas vazias, levava com latas e outros objectos em cima e eventualmente, por razões não propriamente musicais, ainda ia parar à PIDE depois do concerto”. Ora hoje começa a haver um potencial de gente que só está à espera da criação das estruturas que lhe permitam pôr cá fora um trabalho que já vem do fundo.
– E agora falemos do vosso programa nos “Concertos à hora do Almoço” na semana que vem e no dia da “Festa Europeia da Música”, dia para o qual, por incumbência do Serviço de Animação, eu vos indiquei expressamente.
– … E dia que é o do solstício de Verão. Quando há três anos começámos, a ideia não era de constituirmos um duo. Mas com outros músicos só fizemos dois ou três concertos. E isso porque financeiramente um grupo maior não era viável. É muito mais fácil fazer concertos que exigem “cachet” só para dois músicos.
– … O “Colecviva” que o diga!
– E depois é difícil encontrar músicos que adiram a um projecto de corpo e alma.
– O “Colecviva” que o diga!
– Tornamo-nos portanto um duo pela força das circunstâncias. Hoje, no entanto, a situação está assimilada. […]
– Há encontros que só se podiam dar neste momento. E estão a dar-se. (Entrevista por Constança Capdeville, O Diário, 18-6-1988)

 

“Integrado na quinta série dos “Concertos à Hora do Almoço” promovidos pelo ACARTE, realiza-se […], um espectáculo com o grupo típico “O Cancioneiro de Águeda”. “O Cancioneiro de Águeda” é um museu vivo em movimento, que tem levado a todos os recantos do País e ao estrangeiro as nossas danças tradicionais, ocupando um lugar único no folclore português. (O Primeiro de Janeiro, 21-6-1988)

Ficha Técnica

Intérpretes Vários

* OS PROGRAMAS DE CADA EVENTO, CADA CONCERTO ESPECÍFICO, NÃO FORAM CARREGADOS.

Concertos à Hora do Almoço

JOVEM TEATRO MÚSICA

Concertos à Hora do Almoço

GRAZIELA LÉ, GABRIELA CANAVILHAS, FRANCISCO RIBEIRO

Concertos à Hora do Almoço

CAMERATA VOCAL DE LISBOA

Concertos à Hora do Almoço

GLÁUCIA LEAL

Concertos à Hora do Almoço

DORA INFANTE, JOSÉ MESQUITA

Concertos à Hora do Almoço

MARIA MANUELA COSTA, NUNO BARROSO

Concertos à Hora do Almoço

LÚCIA LEMOS, PEDRO WALLENSTEIN, CARLA SEIXAS

Concertos à Hora do Almoço

PAULA MONIZ, JOÃO MIGUEL LOURENÇO, ANTÓNIO HUNGRIA ROSA

Concertos à Hora do Almoço

MISO ENSEMBLE

Concertos à Hora do Almoço

FERNANDO FONTES