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Depois do sucesso dos Encontros Acarte 1987 a iniciativa continua agora com os Encontros Acarte 1988, pelo mesmo grupo de directores.
Como se pode ler no Programa desta edição, “os segundos ENCONTROS ACARTE diferem dos primeiros em vários aspectos: maior peso da presença portuguesa, que se cifra na apresentação de três companhias diferentes, duas das quais expressamente constituídas para o efeito; alargamento do leque de disciplinas, as quais abrangem, além do teatro, da dança e do teatro musical, também as artes plásticas e o vídeo; duas criações mundiais, sendo uma no campo da dança (pela Companhia francesa de Jean-François Duroure) e outra no campo do teatro (pela Companhia portuguesa dirigida pelo encenador italiano Giorgio Barberio Corsetti); maior numero de produções e co-produções ACARTE, uma delas com parceiros internacionais”.

Madalena Perdigão refere 1992 como ano chave na construção Europeia:

 

Afirmava-se no programa do Serviço ACARTE, gizado aquando da sua criação , em Abril-Maio de 1984, que este seguiria uma «política de carácter internacionalista, como convém a um país vocacionado para a abertura ao mundo, a qual não adopta conceitos de nacionalismo estéril embora esteja profundamente atenta aos valores portugueses». Decorridos quatro anos, tal política confirma-se como sendo extremamente válida, podendo dizer-se que 0 progresso histórico do Pais exige a internacionalização da sua vida cultural.

A visão universal do homem, do Goethe, segundo a qual o Bom, o Nobre, o Belo não estão ligados a nenhuma província, a nenhum país, aparece como verdade insofismável nos nossos tempos. A colaboração internacional, para além de ser desejável, torna-se indispensável no que respeita a realização de projectos culturais de envergadura. O nosso Pais detém trunfos poderosos para caminhar nessa senda: 0 bom relacionamento dos portugueses com povos de todas as raças e de todos os credos, a sua facilidade de adaptarão aos diversos condicionalismos e circunstâncias, a compreensão e respeito que manifestam por civilizações diferentes da sua, tudo isso e espontâneo e natural no nosso povo e conduz a uma atitude de abertura face aos outros países. A internacionalização da vida cultural portuguesa não só não implica perca de identidade, como também não impede e antes recomenda a sua europeização. Com os olhos postos em 1992, ano-chave da criação de uma Europa sem fronteiras, importa assegurar o renascimento cultural do Pais e a sua integração plena nessa mesma Europa.

«Portugal pertence genética, cultural e geograficamente a Europa cujos valores civilizacionais são em grande parte os nossos, que viu em nós a ponta de lança de uma disseminação por outros mundos e que grande parte da nossa comunidade nacional escolheu como o local da sua actividade criadora., conforme refere Rui Moura Ramos in “Objectivo 92/No caminho da sociedade aberta., do Grupo de Ofir” concluindo que se impõe o estreitamento das relações com todos os países que compõem este espaço e, designadamente, com a Europa Comunitária. A realização dos ENCONTROS ACARTE 87 – NOVO TEATRO/DANÇA DA EUROPA estava já imbuída destes princípios, que agora se confirmam em 1988, na segunda edição da iniciativa. Com um leve aceno no sentido do Leste europeu – que se espera desenvolver no futuro – mediante a apresentação de uma Companhia francesa cujo titular, o coreógrafo Josef Nadj, e húngaro, como húngaros são vários elementos da Companhia. Estamos assim a caracterizar desde já os ENCONTROS ACARTE 88, cujo projecto visa suprir deficiências de informação e de comunicação com o exterior e aspira a obter, no futuro, projecção internacional, como modo de compensar a condição periférica do País.

Os ENCONTROS pretendem informar o publico, examinar em que consiste a identidade cultural europeia, sublinhar as semelhanças sem deixar de pôr em relevo as diferenças e suscitar a discussão.

A sua realização mereceu o apoio da Comissão das Comunidades Europeias, aliás na linha do respectivo programa para o «Relançamento da Acção Cultural na Comunidade Europeia, destinado ao período 1988-1992 no qual aquela entidade se propõe apoiar a promoção cultural nas regiões europeias, encorajando os acontecimentos culturais de carácter europeu.

Os ENCONTROS ACARTE 88, tal como aconteceu com os do ano findo, regem-se por critérios de qualidade, de criatividade e de modernidade. Oferecem-nos a possibilidade – que Isabel Maria Vila Nova reivindica para a exposição «Lisbonne Aujourd’hui», agora patente ao publico no Musée de Toulon – de nos questionarmos sobre os aspectos de uma modernidade que se interroga, que interroga as outras e cujas respostas ultrapassam as nossas questões. Só nesta interrogação recíproca, parece se poder inscrever uma tentativa de interpretação ou a intentada

de assim desenvolver, mais a inquietude das nossas ignorâncias de que a segurança dos nossos saberes.

Os segundos ENCONTROS ACARTE diferem dos primeiros em vários aspectos:

 

– maior peso da presença portuguesa, que se cifra na apresentação de três companhias diferentes, duas das quais expressamente constituídas

para o efeito;

– alargamento do leque de disciplinas, as quais abrangem, além do teatro, da dança e do teatro musical, também as artes plásticas e o vídeo;

– duas criações mundiais, sendo uma no campo da dança (pela Companhia francesa de Jean-François Duroure) e outra no campo do teatro (pela Companhia portuguesa dirigida pelo encenador italiano Giorgio Barberio Corsetti);

– maior numero de produções e co-produções ACARTE, uma delas com parceiros internacionais, o que nos parece particularmente de realçar.

 

Esperamos que a este salto qualitativo dos ENCONTROS 87 para os de 88 corresponda uma ainda maior e mais entusiástica reacção do público, designadamente dos jovens, principais destinatários destas iniciativas.

Possam os espectáculos, as conferencias e os concertos programados enriquecer a nossa sensibilidade e a nossa imaginação através de novas experiencias artísticas. Possam os ENCONTROS ACARTE 88 proporcionar a muitos uma vivencia cultural plurifacetada, estimulante e aberta.

 

Estoril, Agosto de 1988

Maria Madalena de Azeredo Perdigão

 

E escrevem George Brugmans e Roberto Cimetta:

 

Os segundos ENCONTROS ACARTE: o segundo encontro do novo teatro e dança europeus em Lisboa.

 

Um convívio renovado de artistas, profissionais, e é claro do publico, pois uma das nossas melhores recordações do ano que passou foi o enorme e caloroso entusiasmo e interesse dos espectadores. O novo teatro e dança trazidos a Lisboa para os primeiros ENCONTROS foram, de diversas maneiras, aspectos da nossa cultura contemporânea, sendo as suas origens definidas local ou regionalmente, mas o seu panorama internacional, tal como a sua linguagem. Musica, artes

visuais, movimento, literatura, tudo surgiu em obras plenas de significado profundo.

Foi então expresso o desejo de que um tal ENCONTRO, uma justaposição de teatro e dança de Portugal e do resto da Europa, apresentados em manifestações mais ou menos estabelecidas, conduzisse a colaboração de facto. Congratulamo-nos por poder declarar que o processo de cooperação artística já se iniciou. Giorgio Barberio Corsetti, cujo teatro surrealista e poético abriu com enorme sucesso o festival do ano passado, regressa de novo a Lisboa, para criar um espectáculo aqui, com actores,

bailarinos e músicos portugueses. Os ENCONTROS ACARTE 1988 centram-se no teatro-danca, nas diversas manifestações de Hoffmann, Marin, Duroure e Nadj; e no teatro visual e plástico representado pelo Plan K, Remondi e Caporossi, Station House Opera e de Wit. Reinhild Hoffmann, juntamente com Pina Bausch e Susanne Linke, é uma das três grandes coreografas da Alemanha contemporânea. A aproximação altamente dramática e expressionista que Hoffmann faz em relação à dança produziu uma obra relevante, de que Callas é um dos pontos altos.

Maguy Marin e uma das coreógrafas mais reputadas de Franca. Faz também uso nas suas criações de impulsos dramáticos e visuais. A sua adaptação de Beckett May B, tornou-se urm moderno clássico. Traz a Lisboa a sua ultima obra. Nascido na Jugoslávia, residente durante largos anos na Hungria, Josef Nadj vive e trabalha actualmente em Paris. 0 seu primeiro trabalho Canard Pekinois e algo de melancolico e surrealista, em que se tornam bem evidentes as raízes de Nadj – a Europa de Leste. Um dos mais jovens e talentosos core6grafos franceses, Jean-Francois Duroure, apresentara em Lisboa a estreia mundial da sua Ultima criação.

Co-produzida pela Fundação Gulbenkian, abrira o Festival. A companhia belga Plan K obteve aclamação a nível mundial. A sua peca If Pyramids Were Square combina todas as formas de arte de uma maneira altamente intrigante e recreativa. Tal como Plan K, os italianos Remondi e Caporossi e a Station House Opera do Reino Unido pertencem aos grupos vanguardistas dos anos setenta, sendo companhias que pesquisaram os limites do teatro, tanto quanto ao seu conteúdo como a sua forma.

E depois Harry de Wit da Holanda, renovara o seu contacto com Lisboa e o seu publico. A solo, apresentara um dos seus espectáculos musicais mais fortes e mais marcantes. Close Distance, que será recriado especialmente para ser apresentado na garagem subterrânea da Fundação Gulbenkian. Com a direcção de Jorge Silva Melo de obras de Heiner Muller – um dos escritores teatrais vivos mais interessantes da Europa -, e a sua adaptação de Édipo-Rei pela COMUNA, 0 programa completo, no seu equilíbrio, reflecte muito bem os objectivos do Festival. Continuando o sucesso do ano passado, este equilíbrio deixa em aberto a expectativa de onze dias de prazer em assistir, de permuta e de convergência de ideias.

 

George Brugmans

Roberto Cimetta