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O Teatro encontra no ACARTE a ocasião para superar algumas das suas lacunas históricas e de levar à cena os clássicos, neste caso a representação de Hamlet que não era encenado em Portugal há mais de 50 anos. O ciclo HAMLET foi acompanhado de um colóquio e de concertos de música antiga.

Madalena Perdigão explica a pertinência da iniciativa:

 

Centenário da primeira apresentação de HAMLET em Portugal, ocorrida em Janeiro de 1887; aniversário da morte de Shakespeare, em 23 de Abril de 1616; aniversário provável, também, do nascimento do poeta-dramaturgo, em dia de S. Jorge de 1564 – este dia 23 de Abril de 1987 era bem a data predestinada para a estreia do novo HAMLET português. Com a humildade necessária a quem se aproxima de uma obra de arte genuína, mas procurando assumir a dignidade exigida pela sua grandeza, este HAMLET pretende tão só colocar ao alcance do maior número a riqueza literário-dramática da peça, a personalidade plurifacetada do protagonista e o fascínio que uma e outra têm exercido sobre sucessivas gerações de estudiosos
Contrariamente ao que aconteceu em tantas iniciativas anteriores do ACARTE, não
foi aqui a ideia do risco e a obrigatoriedade de correr perigos que nos atraíram.
Pensámos, sim, que valia a pena congregar esforços para trazer ao convívio do público uma obra prima da literatura mundial, partindo de algumas premissas seguras, tanto quanto a segurança é possível em coisas de arte: a tradução dum poeta como é Sophia de Mello Breyner; a dramaturgia dum especialista em HAMLET da categoria do falecido Prof. Fernando de Mello Moser; a encenação de Carlos Avilez, imbuída dos ensinamentos daquele Professor e estuante do poder criador deste homem de teatro, amadurecido por dez anos perpassados sobre o seu primitivo projecto de HAMLET. Assim, e depois de ouvido o Conselho Consultivo de Teatro, o edifício construiu-se com a adjunção dos restantes artistas criadores, dos actores e consultores e ainda com a colaboração do pessoal administrativo e técnico do ACARTE – um quadro mínimo que, com grande devoção e competência, conseguiu levar a cabo, num tempo record, a produção desta tão complexa obra.
Esperamos que será uma interpretação válida da peça de Shakespeare, a que vamos ver. Discutível, com certeza, mas baseada em opções tomadas conscientemente e depois de uma reflexão sobre as várias opções possíveis, à luz de numerosos estudos publicados. Uma interpretação global válida de HAMLET, eis o que nos propusemos. Nem paradigmática, nem única, nem muito menos eterna, até porque, se eternas são as obras de arte, nenhuma interpretação, de nenhuma obra de arte, poderá sê-lo jamais.
Abril 1987
M.M.A.P.