sobre
O trabalho de apresentação de dança contemporânea não apenas europeia por parte do ACARTE continua, desta vez com a apresentação de uma mostra de Dança Brasileira Contemporânea. Escreve Madalena Perdigão:
A Mostra de Dança Brasileira Contemporânea pretende complementar o conhecimento, por parte do público português, das actuais correntes da arte e da
cultura brasileiras. Têm vindo ate nos e com alguma frequência, artistas brasileiros do âmbito da chamada musica ligeira e popular, somos diariamente abrangidos pelas telenovelas brasileiras na televisão portuguesa, as escolas de samba foram já apresentadas entre nos, embora não certamente no seu máximo esplendor. Falta mostrar, parece-nos, a outra face do Brasil: a musica e a dança eruditas, o seu melhor teatro. A presente Mostra não tem outra ambição que não seja contribuir para um melhor conhecimento desses aspectos da arte brasileira no domínio da dança-teatro. Entende-se a si própria como um primeiro passo para alcançar tal objectivo, esperando que possa ser seguida por outras manifestações , eventualmente da iniciativa de outras instituições. A dança brasileira que vamos apreciar tem raízes e motivos tradicionais e é perpassada por experiencias europeias que os seus criadores e interpretes tiveram a oportunidade de viver. Do encontro dessas diferentes vertentes resultam expressões artísticas originais que importa conhecer. Assim se contribuirá para estreitamente das relações culturais entre os nossos países, tornando mais fortes os laços afectivos que unem os dois povos irmãos.
Janeiro 1988
M.M.A.P.
E na imprensa pode ler-se:
É um Brasil diferente, este que se dará a conhecer aos portugueses em Lisboa e também no teatro Carlos Alberto, no Porto. Nada de samba, carnaval, telenovela ou futebol. É o Brasil desconhecido, o da dança contemporânea, uma expressão artística que luta por sobreviver no lado de lá do Atlântico e que vem até nós mostrar o que vale. Ismael Ivo, 32 anos, é o expoente mais conhecido desse movimento. E também o mais representativo da contestação – ele deixou o Brasil para poder melhor expressar a sua arte, fugir à censura, ao racismo. […] Ismael mostra claramente os seus objectivos. “O que quero é comunicar com as pessoas, mostrar-lhes as origens africanas da cultura brasileira, mas também transpor essas raízes para o mundo actual, fazer uma ponte de ligação entre a cultura primitiva e as formas de arte contemporânea”. São vários objectivos ao mesmo tempo, mas que ele parece dominar. A experiência de seis anos trabalhando nos Estados Unidos e Europa, onde acabou por se fixar há ano e meio, deu a Ismael Ivo conhecimento suficiente para encarar cada espectáculo como um desafio novo onde ele, apesar de tudo, será sempre o condutor da acção. A transformação do palco tradicional num espaço mais aberto, por exemplo, é desde logo um desafio ao próprio espectador. […] Ismael Ivo reside em Berlim, onde está montada a sua própria organização, mas dirige uma famosa “workshop” em Viena. […] O espectáculo de dança de Ismael Ivo é diferente. No fundo, como ele reconhece, é a voz do corpo que ela faz expressar […] “Mas o objectivo dos meus espectáculos não é receber aplausos. Não quero um público que se sente na poltrona, veja a dança, bata palmas e vá embora sem nada. Quero que as pessoas levem dentro de si uma semente de confusão, de dúvida, de interrogação sobre si mesmas, a vida e o mundo”. É a sua formação em psicologia que funciona aqui. Da mesma forma que é a sua negritude que o empurra para o palco com sons anti-apartheid em fundo, sem medo de ser rotulado de subversivo ou comunista. (O Jornal, 26-2-1988)
ISMAEL IVO INAUGURA CICLO DOS NOVÍSSIMOS
Ainda é cedo para analisar o alcance e validade destas propostas que ontem começaram a apresentar-se. Para já, pode saudar-se a iniciativa, que nas palavras da directora do ACARTE quer “mostrar a outra face do Brasil: a música e a dança eruditas, o seu melhor teatro”, num contraponto à difusão da telenovela e dos cantores da música ligeira. Um contraponto necessário para esbater o comercialismo e a banalidade de algumas das propostas televisivas e do show business.” (António Melo, O Diário, 27-2-1988)
Dando continuidade a um projecto cultural e artístico cujo principal objectivo é revelar aos artistas e ao público portugueses os mais recentes caminhos estéticos, técnicos e doutrinários da dança mundial, projecto que desde a temporada passada já nos revelou um importante número de agrupamentos estrangeiros de características experimentalistas e vanguardistas, o ACARTE […] está a realizar até meados deste mês uma “Mostra de Dança Brasileira Contemporânea”. (Tomás Ribas, A Capital, 3-3-1988)
Graças ao ACARTE, criado e dirigido com excepcional dinamismo pela Dr.ª MAP, e sempre de acordo com um louvável sentido prospectivo, temos podido tomar contacto com realizações da mais diversa ordem e de inegável interesse. É o caso desta mostra de Dança Brasileira em curso. (Maria Helena de Freitas, Jornal de Letras, 4-3-1988)
Tem estado a despertar o maior interesse da crítica e do público a “Mostra de Dança Brasileira Contemporânea”, promovida pelo ACARTE da FG. (O Dia, 10-3-1988)
Quando o Porto, que é a segunda cidade do País, vive “esfomeado” de dança e de música que valha a pena, o que não se passa por esse Pais fora? […] A Mostra de Dança Brasileira, que a Gulbenkian trouxe a Portugal, tem uma extensão no Porto. […] (O Diário, 11-3-1988)
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