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Na imprensa pode ler-se:
As histórias eram simples, sem pretensões de erudição. O pretexto era “O culto medieval do Espírito Santo e o futuro”, tema incluído no colóquio “O Sagrado e as Culturas, organizado pelo ACARTE da FG. […] São os portugueses um dos temas predilectos deste “mestre” de sabor antigo, que junta os discípulos à sua volta para o escutarem: “Escutam-me, porque talvez andem vazios, mas pode ser que um dia se cansem…”, dizia. E aos portugueses, já que o escutam, não se coíbe de dar alguns conselhos: “Nenhum português e nenhum espanhol quer ser normalizado, ao contrário da CEE que está a a normalizar as maçãs e as laranjas. Por isso aconselho os portugueses e os espanhóis a serem anormais”. […] “Há duas qualidades que os portugueses têm: a primeira é a capatazia – onde os portugueses chegam, juntam-se em grupo e arranjam um capataz. A segunda é a capacidade de ir ao biscate”. Abolidas as fronteiras da CEE, facto que muitos anseiam, teremos “uns milhões, só com o bilhete de identidade, a ir aos biscates”.
Nota má
Sala cheia, a do CAM da FG. De tal modo, que não cabia nela mais ninguém e muita gente ficou fora, para ouvir Agostinho da Silva – como sucedera já, aliás, no primeiro dia do colóquio “O Sagrado e as Culturas”. Nota má, portanto. Porque um tema como este, e uma personagem como Agostinho da Silva, mereciam mais espaço. Talvez os organizadores tenham tido medo. Mas com a “amostra” do primeiro dia, era de prever a enchente de ontem. Remediada a situação, com a instalação de aparelhagem sonora no átrio da entrada do Centro, nem por isso as condições foram as melhores: ouvia-se mal em muitos sítios e muita gente vagueava à procura de melhor posição. (António Marujo, Diário de Lisboa, 20-4-1989)
Anteontem à noite teve lugar o fenómeno cultural que são as conferências do professor Agostinho da Silva. Numa sala apinhada, com dezenas de pessoas a “beberem”, via amplificação, as palavras do professor pelos corredores do CAM, Agostinho da Silva toma hoje o lugar do profeta. Hoje ouvem-me, diz-nos, amanhã, quem sabe? (Marina Azevedo, Europeu, 21-4-1989)
O ciclo “A Cultura e o Sagrado”, que inclui nove subtemas, prossegue hoje, à tarde, com uma mesa-redonda. ”A Face do Sagrado no Portugal Contemporâneo”, em que participam Agustina Bessa Luís, Carlos Silva, Rui Mário Gonçalves e Paulo Rocha. À noite terá lugar uma conferência de André Sanchez com o título “Le Sacré et les Lieux de Memoire”. (O Diário, 21-4-1989)
Os Políticos e o Sagrado no CAM
Natália Correia, Maria de Lourdes Pintassilgo e Pedro Roseta e Francisco Lucas Pires, introduzidos por Francisco Sarsfield Cabral, anunciaram a saídas “sagradas” para o viver político de hoje, oscilando pelas perspectivas quer humanista quer cristã, mas sempre libertadoras, no debate que foi O Sagrado e a Política. Depôs de cinco dias de reflexão sobre o sagrado, foi um debate caloroso que encerrou este bem estruturado colóquio sobre O Sagrado e as Culturas, orientado por Maria de Lourdes Belchior e promovido pelo Serviço ACARTE, ou não estivesse a política neste país, a 15 anos da revolução dos cravos, ainda na ordem do dia. […] Para o político, os constantes apelos aos valores espirituais , provenientes dos diferentes quadrantes do pensamento e comportamento, que fazem, por exemplo, Gorbachev citar o nome de Deus, quando do seu encontro com Reagan nos EUA, são, actualmente, a evidência de que César começa a aceitar o lugar de Deus.”(Marina Azevedo, Europeu, 23-4-1989)
O sagrado tem alguma coisa a ver com a condenação de Rushdie, feita por Khomeini? Ou com o fenómeno das seitas, que se vive hoje por todo o mundo ocidental? Ou com as pulseiras propagandeadas por António Sala quase como “elixires da vida eterna”? E “o século XXI será religioso ou não será nada”, como dizia Malraux? Agustina fez uma surpresa, foi ontem à Gulbenkian e disse: “O sagrado está presente na vida do homem”. Mas hoje, no entanto, “o sagrado é reduzido a escombros pela própria deformação da caridade”. […] António Pinto Ribeiro, da Escola de Dança de Lisboa e do Serviço ACARTE […] da Gulbenkian, ao falar de dança e do lugar do corpo na sociedade contemporânea, afirmou que “o corpo deixou de ser laico, para se tornar no maior depositário do totemismo contemporâneo. É uma espécie de deus que veneramos: Maradona ou as ginastas romenas são os exemplos acabados do corpo “hi-fi, alta fidelidade, conseguido por aquisição técnica e que é uma divinização contemporânea do humano”. É este o “corpo da glória, o corpo místico”, que não é belo, mas “sublime”. No corpo, com o corpo, procuramos o espectáculo. E “em cada espectáculo que vemos, ansiamos pelo divino”.” (António Marujo, Diário de Lisboa, data não identificada, arquivo do ACARTE)
os eventos
Ficha Técnica
* ver programa em anexo.