sobre

Com o ciclo Performance-Art continua a apresentação de performances no Acarte iniciada com a Exposição-Diálogo sobre Arte Contemporânea porque, como dá conta Madalena Perdigão no programa da iniciativa “as promessas fazem-se para se cumprirem”.

 

“As promessas fazem-se para se cumprirem. Em Novembro de 1985, no programa da Quinzena Multimédia, escrevíamos que a Exposição-Diálogo sobre Arte Contemporânea – organizada pelo Conselho da Europa e pela Fundação Calouste Gulbenkian e realizada em Lisboa, de 28 de Março a 16 de Junho de 1985 -constituíra uma porta aberta ao ingresso da performance no Centro de Arte Moderna. A Quinzena Multimédia foi já um resultado dessa abertura.
Constituída por 9 performances, muitas delas caracterizadas por terem o aspecto técnico e tecnológico bastante desenvolvido, a Quinzena então realizada teve a colaboração de artistas portugueses e estrangeiros e constou ainda de um atelier e de uma comunicação visual e sonora. A um ano de distância das palavras escritas naquela oportunidade, a porta abre-se de novo, mais uma vez pela mão do ACARTE, para dar guarida a uma série de performances, exclusivamente a cargo de artistas portugueses. Nomes reconhecidos neste campo vão permitir a descoberta de alguns dos trilhos por que entretanto passou entre nós a performance e apontar caminhos que também no estrangeiro estão a ser percorridos. O facto de este ciclo não ter uma ideia condutora, nem um tema particular a respeitar, dá aos artistas que nele colaboram uma liberdade plena na escolha dos suportes. O ponto de partida foi, no entanto, o das artes plásticas, embora o percurso dos projectos atravessasse outros campos como o da música Da poesia, do teatro, do vídeo, da expressão corporal. «Performance-Arte» constitui uma amostragem, necessariamente incompleta e limitada, do estado da performance em Portugal. Espécie em vias de extinção. como muitos crêem, caminho para a arte total, como outros afirmam, o certo é que a performance marcou o panorama da arte contemporânea. A sua evolução aponta para formas multimédia, para a dança-teatro, para o teatro-musical. Reflectir sobre o que se passa actualmente no campo da performance, partilhar com os artistas a sua realização, constitui um evento importante para quantos se interessam pelo mundo da arte.

 

M.M.A.P.
Lisboa, Novembro 1986”

 

 

Diz a imprensa a esse respeito, sublinhando o carácter inovador da acção do ACARTE:

 

“No panorama multifacetado da cena artística, a categoria “performance”/acção “happening” ocupa um lugar importante. Desde o alargamento do campo artístico, nos últimos dez anos, com as experiências de Dada e o surrealismo, e o seu desenvolvimento e repercussão no segundo pós-guerra; através do movimento “Fluxus”, nos anos 50, e das várias formas de expressão corporal nos anos 60; e, ainda, a passagem para os meios electrónicos nos anos 70 – houve uma tendência no sentido de inclusão deste género de expressão artística nas artes plásticas. Algumas acções são compostas, meticulosamente planeadas e escritas sobre papel. Outras surgem espontaneamente, de um acontecimento ou do nada. Têm, por vezes, uma marcada tendência ritualista. Outras utilizam a música, a arte pictórica, o vídeo ou as projecções; algumas são inteiramente improvisadas, outras totalmente compostas. Não pode ser classificada como teatro, concerto ou outro género de espectáculo organizado. É sempre algo intermédio: acção corporal, teatro musicado – música teatral, acção pictórica-pintura acção…” (O Dia, 21-11-1986)

 

 

“Primando pela novidade sem medo dos riscos
O Centro de Arte Moderna tem vindo a ocupar um lugar importante na dinamização cultural do quotidiano lisboeta. As iniciativas sucedem-se, cada vez com mais assiduidade, primando pela novidade, e desencadeando, muitas vezes, salutar polémica.
Concentram-se aí manifestações diversas – colóquios, exposições, espectáculos – que procuram abrir novas perspectivas quer na apreciação do pensamento/obras/contribuições de nomes consagrados (ou gerações marcantes), quer na produção de propostas estéticas de vanguarda, algumas até então inéditas em Portugal. Estas têm como corolário o “espectro” da qualidade, um adjectivo tantas vezes susceptível, preso a questões de gosto (sensibilidade individual) e de moda (sensibilidade colectiva). Do outro lado do jardim, no edifício sede, a Gulbenkian promove manifestações “tradicionais”, normalmente com problemas de qualidade, uma vez que esta se encontra aí sob a tutela da chamada “cultura oficial”. Mas no CAM, parte dos recursos e das instalações existentes têm outras pretensões: se necessário, pisar o risco e, inerentemente, correr o risco. É o ACARTE, um serviço orientado pela dr.ª Madalena Perdigão, que toma a seu cago a dinamização deste tipo de projectos, essenciais para manter vivas as capacidades criativas, intervenientes, da nossa geração. Muitos dos espectáculos apresentados têm sido alvos de críticas. Alguns acertarão no “veredicto”, outros não… só mais tarde, a maturidade acumulada nas gerações seguintes poderá ter deles uma perspectiva mais correcta, pois só o que conseguir apelar a muitos gostos e resistir à passagem das várias modas, conseguirá triunfar no tempo e na memória” (Maria de Assis, O Dia, 4-11-1986)

Ficha Técnica

Director de Cena

HENRIQUE MARTINS

Montagens

DAVID ALVES MENDES

Técnico de Luz

PAULO GRAÇA

Ajudante de Electricista

JORGE GONÇALVES

Técnicos de Som e Vídeo

JORGE MARTINS E PEDRO ANTUNES

Ajudantes de Maquinista

LUÍS SILVA, RICARDO ROSA, ILÍDIO ARAÚJO