sobre

Olga Roriz, Elsa Wolliaston e Dana Reitz são as 3 bailarinas e coreógrafas cujos solos se apresentam no ACARTE em Dezembro de 1988 – iniciativa que se faz acompanhar de uma mostra de fotografias de espectáculos de Olga Roriz e de um workshop por Elsa Wolliaston.

Na imprensa pode ler-se:

Três mulheres, três culturas, três solos de dança. (Diário de Notícias, 22-11-1988)

 

Três grandes bailarinas/coreógrafas actuarão no próximo mês na sala Polivalente do CAM da FCG. São elas Dana Reitz, Olga Roriz e Elsa Wolliaston […]. De 10 a 13, as palmas vão para Olga Roriz. Escreve ela: “Entre o desejo de voar e a vertigem, agarro-me ao chão, de mãos e pés deslizantes, de corpo perdido no espaço e olhar vago. Procuro.” E tem procurado bem: a TIME escrevia em 1986 que “Olga Roriz escava a superfície em busca do carácter”, e o Guardian notava que “Roriz trouxe muita adrenalina à Gulbenkian”. Por isso obteve vários prémios em Portugal e o Prémio Coreográfico do Concurso de Dança de Osaka. Quem não se lembra de “Três Canções para Nina Hagen”, ou de “As Troianas”, ou de “Treze Gestos de um Corpo”, ou de “Presley ao Piano”? “1988” é o nome da sua nova criação, que promete repetir o fascínio dos anteriores trabalhos desta multifacetada bailarina/coreógrafa (que também foi criadora e intérprete do “Teatro de Enormidades” de Ricardo Pais e realizou duas exposições individuais de fotografia). […] Estes solos de dança contemporânea vêm confirmar uma vez mais que o serviço ACARTE do CAM continua a escolher os melhores menus da actualidade. (O Independente, 25-11-1988)

 

 

O ACARTE iniciou ontem o ciclo de solos de dança contemporânea, da responsabilidade da Dr.ª MAP, cuja capacidade de organizadora começou por manifestar-se nos Festivais Gulbenkian, de saudosa memória. Passados anos, e sardas algumas feridas que, por certo, lhe doeram, ei-la a dirigir o ACARTE com o mesmo entusiasmo, o mesmo dinamismo, a mesma competência. Vocacionado para manifestações artísticas contemporâneas, o ACARTE tem apresentado espectáculos muito interessantes e variados com artistas estrangeiros, mas sem esquecer a “prata da casa”. No entanto, o que ontem aconteceu difere bastante do que se tem visto. Dana Reitz, na sua obra “Circunstancial Evidence”, dispensa o elemento musical. O importante para ela, é a “interacção entre luz e movimento. […] Concebendo uma obra que dura cerca de uma hora, Dana Reitz, sozinha no palco, sem cenários, sem música, apenas com o recurso da luz – por sinal com poucos cambiantes de cor mas extremamente efectiva – ora incidindo numa parte do palco, ora sobre a artista, conseguiu prender positivamente o público. […] “Circunstancial Evidence” não obedece a um argumento, mas deixa campo livre para imaginarmos uma história. […] Trata-se de um espectáculo que nos leva a pensar, muito longe, portanto, de se resumir a um mero exemplo de virtuosismo técnico. (M.H.F., Diário Popular, 2-12-1988)

 

Energética, inteligente e tenacíssima, de olhos bem atentos ao que vai pelo mundo fora, a directora do Serviço ACARTE da FCG, doutora MAP, mantém propósitos de mostrar aos portugueses que a arte não é apenas a que se faz em Portugal, porque arte é evolução e revolução; porque arte não é criatividade estática ou, muito menos, filosofia sem animação. […] Gostaria de ter a franqueza de dizer que esta exibição não me causou mais do que fadiga, sem uma compensação emotiva, uma leitura de expressão intelectual ou espiritual e humana. Mas não uso tal franqueza, primeiro pelo respeito que me merece o trabalho corporal de Dana Reitz, depois, porque ter um ideal e correr atrás dele é um desígnio superior da condição humana; depois ainda, porque não quero ir contra a onda de aplausos do público tão respeitável (e consciente?) como o que observo de cada vez que se dança o Lago dos Cisnes… (Manuela de Azevedo, Diário de Notícias, 6-12-1988)

 

No seu movimento, ela utiliza maioritariamente o tronco, braços e cabeça. Raramente há saltos, grandes movimentos de pernas ou passagens pelo chão. De vez em quando move-se rapidamente, e deixa-nos sem respiração. A cada mudança de luz, uma nova ocupação do espaço, e a utilização de um novo segmento corporal. […] Será um prazer ver esta bailarina/coreógrafa, só, a mover-se num espaço, sem adereços ou música? Tudo indica que sim.” (Adriana Macedo, Europeu, 2-12-1988)

 

Durante cerca de uma hora a impossibilidade do silêncio – o respirar do público e da bailarina, o cochichar dos comentários, risos abafados, as palmas de alguém impaciente, os pés da bailarina, os estalos das suas articulações, os passos dos espectadores que abandonaram a sala mais cedo, os gemidos dos assentos – serve de inspiração e suporte sonoro para a proposta coreográfica de Dana Reitz. […] O movimento de Dana Reitz é rico em matizes: aproveita esboços de marcação, exercícios de aquecimento e relaxe, tiques felinos, maneirismos de introspecção (aqueles que fazemos quando estamos sozinhos a falar com nós próprios), gestos de comunicação (estilo diálogo entre surdos-mudos), esgares de devaneio e por vezes de humor… mas durante os doze quadros-situações em que se desenrola o seu solo são raros os momentos de verdadeira caracterização ou elaboração coreográficas. O potencial está lá mas, quanto a nós, ainda apenas a nível de enunciado. Aguardamos, com curiosidade, a próxima fase. (Maria de Assis, Tempo, 7-12-1988)

 

As fronteiras entre o teatro e o bailado, entre a dança e a expressão corporal são, por vezes, bastante fluidas, já que movimento e expressão corporal constituem dois factores essenciais na dança e no teatro. […] É que a expressão corporal assumiu, de facto, na “sua performance” [de Olga Roriz], uma dimensão e uma certa diversidade de matizes quanto a linguagem gestual que, em boa verdade, não podem encarar-se apenas numa perspectiva experimental ou de pesquisa.  (M.H.F., DiárioPopular, 12-12-1988)

 

Se é verdade que com este “Solo” [de Olga Roriz] estamos muito longe da chamada dança-teatro, devido ao grau de abstracção coreográfica que comporta, não deixa de ser um facto que o olhar com ele proporcionado toma características indubitavelmente cinéfilas: o público é levado a ver mais do que lá está. […] A dança de Olga Roriz não pretende ser mais do que uma, pessoal, figuração estética do movimento puro, e daí o seu valor ímpar.” (Rui Eduardo Paes, Diário de Lisboa, 12-12-1988)