sobre

Com a colaboração do P.E.N Clube português, o ACARTE propõe Um Século em Abismo, uma abordagem interdisciplinar à poesia portuguesa do século XX, reconhecendo-lhe o seu papel enquanto ‘foco de abertura’ (para usar uma expressão de Verónica Metello*) ao experimentalismo e  interdisciplinaridade , nisso “tão próximo de uma das mais fortes linhas de acção do ACARTE” como diz Madalena Perdigão no programa da iniciativa:

 

“Poesia.
Benvinda à Fundação Calouste Gulbenkian.
Poesia portuguesa.
Benvinda ainda mais, tão altos os nossos poetas, tão nossos.
Poesia portuguesa numa perspectiva interdisciplinar.
Tão próxima de uma das mais fortes linhas de acção do ACARTE.
Reflexão sobre o século XX.
Oportuna.
Pela mão do P. E. N. Clube Português.
Apropriado.
Dirigida aos jovens.
Que outro destino melhor?
Sob a bandeira do P.E.N. Internacional,
pelo ideal de uma humanidade
vivendo em paz num mundo unido.
Haverá muitas outras acções tão exemplarmente conformes
à vocação do ACARTE?”

Lisboa, 1 de Janeiro de 1985
Maria Madalena de Azeredo Perdigão

 

E. de Melo e Castro, poeta experimental a quem foi solicitada a organização de uma acção sobre a Poesia Portuguesa clarifica o entendimento de poesia que aqui está em causa:

 

“Entre as várias funções e/ou significados que durante o século vinte foram atribuídos à Poesia considerá-la como um projecto que nunca se cumpre pode ser apontado com o valor de uma síntese. No entanto, a Poesia, se produz alguma coisa, esse alguma coisa é a sua própria materialidade escrita. Materialidade que é um modelo de comunicação – das comunicações possíveis ou impossíveis – através da leitura. E, quando se diz com tonalidades ontológicas, que a poesia é uma forma de conhecimento, ela não se reduz ao conhecimento que pode proporcionar, antes põe em causa ABISMALMENTE todo o conhecimento adquirido.

O Projecto da Poesia será uma busca interminável, em constantes avanços e recuos, descobertas e ocultações, obscuridades e iluminações, certezas e dúvidas que se desenvolvem numa complexa espiral, na qual a linguagem e o sentimento, a comunicação e o pensamento reciprocamente se descobrem e encobrem, descobrindo e encobrindo também quem nesse projecto se busca, se reflecte e se volta a perder. Por isso a Poesia é o lugar das perguntas que se perdem e das identidades que se pulverizam no abismo do seu próprio pesquisar.

Por isso a Poesia é hoje, neste fim de século, e através dos vários meios de que dispomos, o projecto exacto da interdisciplinaridade da experiência e da comunicação.

Por isso a Poesia é, ela própria, o meio adequado para – através das suas criações – formular perguntas complexas, mas prementes,

[…] Não é pois de um balanço nem de um julgamento que se trata, mas tão só de um trajecto proposto no nosso uso da linguagem, num espaço de encontro, para verificarmos, prática e sensorialmente, as potencialidades emocionais das nossas próprias palavras. Para, dizendo, ouvindo e vendo, nos situarmos um pouco menos nebulosamente entre o abismo do passado e o abismo do futuro.

Assim que, nas várias acções que aqui serão realizadas, usaremos os seguintes meios de comunicação da palavra – que no conjunto constituem a provocação multidisciplinar que a poesia hoje nos propõe:

a escrita impressa em livro
o texto dito pelo seu autor
a poesia feita cena, criada por um actor
a indagação teórica dos críticos
a música contemporânea
a parafernália electroacústica
o cinema
o diaporama
o vídeo
as sombras chinesas

Tais são os 10 meios de comunicação que nesta acção múltipla se utilizam para formular, indirecta e talvez elipticamente (poeticamente), as questões que hoje nos projectam aceleradamente ao encontro do século XXI.
Mas, de que questões realmente se trata?
Que respostas seremos capazes de antever? Eis duas perguntas a que só cada um, na sua própria intimidade, poderá ensaiar as respostas.

 

E. M. de Melo e Castro

 

O próprio envolvimento do P.E.N Clube Português, instituição recentemente implantada em Portugal é sintomático do passado recente do país, como também se pode ver no programa da iniciativa:

 

[…] “As dificuldades encontradas na instalação do P.E.N. em Portugal antes do 25 de Abril, podem ser explicadas através duma breve análise dos objectivos que o P.E.N. Internacional se propõe levar a cabo, em todos os países, e que constam da sua CARTA e dos seus Estatutos. Da CARTA INTERNACIONAL DO P.E.N. constam os seguintes quatro pontos:

1. A literatura, embora possa ter uma origem nacional, não conhece fronteiras e deve permanecer um meio de intercâmbio entre as nações, independentemente de acidentes políticos ou crises internacionais.

2. Em todas as circunstâncias e particularmente em tempo de guerra, as obras de arte, património comum da humanidade, devem ser protegidas de paixões nacionais ou politicas.

3. Os membros do P.E.N. deverão sempre usar da influência de que gozarem, a favor da boa compreensão e respeito mútuo entre as nações, comprometendo-se a fazer todo o possível para dissipar .ódios de raça, de classe e nacionais, defendendo o ideal de uma humanidade vivendo em paz num mundo unido.

4. O P.E.N. defende o princípio da livre circulação das ideias dentro de cada nação e entre todas as nações e os seus membros têm o dever de se opor a qualquer forma de restrição da liberdade de expressão no seu próprio pais ou comunidade a que pertençam, assim como em todo o mundo, se possível. O P.E.N. declara-se a favor de uma imprensa livre e contra o arbitrário da censura em tempo de paz. O P.E.N. afirma a sua convicção de que o progresso necessário do mundo no sentido de uma melhor organização política e económica torna imperativa uma livre crítica dos governos, administrações e instituições. E como a liberdade implica as limitações voluntárias, os membros do P.E.N. comprometem-se a combater os abusos de uma imprensa livre, como as notícias deliberadamente falsas e a distorção dos factos para fins de proveito político ou pessoal.

Perante esta citação, facilmente se compreende que só há tão pouco tempo tenha sido possível a existência de um Centro do P.E.N. em Portugal.

Quanto à origem do P.E.N. Internacional, que tem actualmente Centros em todo o mundo (em mais de 80 países) foi fundado em 1921, por Mrs. C. A. Dawson Scott, a partir de uma ideia lançada pelo romancista inglês John Galsworthy é, segundo consta, uma das mais antigas associações internacionais de escritores deste século.”

Um ciclo de documentários “amadores” sobre escritores portugueses integra também esta iniciativa.

* Verónica Gullander Metello, Focos de intensidade-linhas de abertura: a activação do mecanismo performance, 1961-1979;  Tese Mestrado em História da Arte Contemporânea , Fac. de Ciências Sociais e Humanas, Univ. Nova de Lisboa, 2007

Ficha Técnica

Colaboração

PEN CLUBE PORTUGUÊS

Exposição Bibliográfica; Leitura de poemas pelos autores e sessão de filmes; Documentarismo de escritores portugueses (participação do filme de amador)

MANUEL FRIAS MARTINS E CONCERTO PELO GRUPO DE MUSICA CONTEMPORÂNEA, DIRECÇÃO: JORGE PEIXINHO

Diaporamas

ANTONIO PALOLO

Vídeos

RUI SIMÕES

Espectáculo Multimédia

FERNANDO MARTINHO E TELECTU-ESPECTÁCULO MULTI-MÉDIA;ALBERTO PIMENTA E A CENA IMPOSSÍVEL

Textos

E. MELO E CASTRO COM JOÃO D'ÀVILA

Diaporamas

CARLOS BARROCO