A Timeline Digital ACARTE 1984-1989
Estruturando-se como uma lente para observar o ACARTE na década de 1980, a Timeline Digital ACARTE 1984-1989 procura abrir a acção deste Serviço a investigações futuras. Parte integrante da investigação de Ana Bigotte Vieira, publicada em Uma Curadoria da Falta: O Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian 1984-1989 (Sistema Solar, 2021), procura situar o Serviço ACARTE no seu contexto de emergência, prestando particular atenção aos modos como a sua acção contribui para uma reconfiguração da experiência da corporalidade que por estes anos teve lugar.
O que foi o ACARTE?
Em 1984 inaugura o Serviço de Animação, Criação Artística e Educação pela Arte / ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian. Madalena Perdigão, fundadora do Serviço e primeira Directora, afirmaria: “fazia falta no panorama cultural português um Serviço voltado para a cultura contemporânea e/ou para o tratamento moderno de temas intemporais, assim como um Centro de Educação pela Arte dedicado às crianças. Tornava-se necessário assegurar ao Centro de Arte Moderna, criado pela Fundação Calouste Gulbenkian, em 22 de Agosto de 1979 e inaugurado em 20 de Julho de 1983, a possibilidade de ser não apenas um Museu, na acepção restrita do termo, mas também um Centro de cultura” (Perdigão 1989).
Criado por decisão do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian em 1984, o ACARTE seria um Serviço que asseguraria ao Centro de Arte Moderna a possibilidade de ser um Centro de Cultura e não apenas um Museu, garantindo “a total independência entre a política de aquisição de obras de arte e a política de realização de actividades culturais” (Perdigão apud Pinto Ribeiro 2007, 370). O ACARTE passaria a Departamento do Centro de Arte Moderna em 2000 e seria extinto no final de 2002.
Entre 1984 e 2002, foram directores do ACARTE Maria Madalena de Azeredo Perdigão (1923-1989), de 1984 a 1989, sendo ainda responsável por grande parte da programação de 1990; José Sasportes, de Junho de 1990 a 1994; Yvette Centeno, de 1995 a 1999; Jorge Molder, de 2000 a 2002, sendo responsável pela programação do Departamento ACARTE Mário Carneiro (director adjunto).
Os Encontros ACARTE
Em 1987, foram criados os Encontros ACARTE – Novo Teatro/Dança da Europa. Estruturados como festival anual, sempre em Setembro, os Encontros ACARTE constituem-se como um dos seus momentos de maior visibilidade, sobretudo nos anos finais do Serviço e até à sua extinção.. Esta grande visibilidade suscitaria no público a confusão entre Serviço ACARTE e os Encontros ACARTE, como se o Serviço fosse apenas o festival, ou como se todo o Serviço fosse um festival. Há igualmente uma série de iniciativas, como o Jazz em Agosto ou o que mais tarde viria a ser o Centro de Imagens e Técnicas Narrativas (CITEN), que começam no ACARTE, vindo mais tarde a separar-se, constituindo entidades separadas.
Dissertação, livro e interface digital
O interface digital que aqui se apresenta diz respeito aos primeiros anos de acção deste Serviço, entre 1984 e 1989, correspondendo à direcção de Madalena de Azeredo Perdigão, fundadora e primeira Directora do Serviço. Foi originalmente concebido como parte de uma investigação de doutoramento em Ciências da Comunicação realizada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, que posteriormente daria origem ao livro Uma Curadoria da Falta: O Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian 1984-1989 que aqui se disponibiliza.
O trabalho foi realizado sob a orientação científica do Professor Doutor Paulo Filipe Monteiro, e tutoria do Professor Doutor André Lepecki na Tisch School of The Arts da New York University. Contou com o apoio financeiro da FCT e do FSE no âmbito do III Quadro Comunitário de Apoio. Em 2016 este trabalho recebeu por unanimidade uma Menção Honrosa em História Contemporânea- Prémio Fundação Mário Soares.
Metodologia de investigação de arquivo
Procedeu-se[1], por um lado, a uma pesquisa no arquivo do Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian que, à data do início da investigação (2007), se encontrava parcialmente no Centro de Arte Moderna, no gabinete da sua Ex-Directora de Produção, Emília Rosa, onde estavam depositados os programas, as fotografias e os dossiers de imprensa. A restante documentação encontrava-se nos Serviços de Arquivo da própria Fundação, adjacentes à Biblioteca de Arte, nomeadamente, alguns dossiers de produção e correspondência. Por outro lado, procedeu-se a uma série de recolhas de testemunhos orais onde estava em causa uma tentativa de ouvir quem, de diferentes formas, acompanhou este Serviço: a) De dentro: produtores, técnicos e programadores. b) Artistas: que pelo ACARTE passaram, ou dele reclamam influências estéticas e de aprendizagem. c) Críticos, teóricos ou (futuros) decisores: que lhe atribuem importância no âmbito da cultura em Portugal.
Cedo esta divisão linear entre documentos e memória se revelou incompleta, sendo necessário, na prática, cruzar as duas, regressando várias vezes ao arquivo para compreender melhor aspectos cuja importância não se tinha pressentido, complementando consultas parcelares com entrevistas específicas.
Do cruzamento entre arquivos e entrevistas, a investigação foi crescendo, à medida que, à medida que a actividade do Serviço ACARTE se ia desenhando com mais clareza nas suas razões de ser e de acontecer. Uma descrição mais detalhada da metodologia seguida encontra-se aqui.
As entrevistas
Quando se levou finalmente a cabo uma série sistemática de cerca de 30 entrevistas de História Oral, estas já não correspondiam à divisão avançada inicialmente entre a) artistas, b) trabalhadores e funcionários da Gulbenkian e c) críticos, teóricos ou (futuros) decisores. Estruturavam-se agora em torno do que se entendeu como sendo as possíveis “linhas de programação” do Serviço durante este intervalo de tempo, tendo em conta a leitura dos programas, ou seja, por área, como aqui se dá conta de forma muito reduzida no menu “filtrar”. Assim, de acordo com esta categorização imperfeita (como imperfeitas serão quaisquer categorizações) poder-se-iam traçar percursos pela programação. Por ex. Linha da Educação pela Arte e Centro de Arte Infantil; Linha do Teatro; Linha da Dança; Linha do Cinema de Animação; Linha do Teatro de Marionetas; Linha dos Colóquios; Linha do Jornal Falado de Actualidade Literária; Linhas da Música: Linha do Jazz em Agosto; Linha dos Concertos à Hora do Almoço; Linha da Música Experimental; Linha do Teatro Musical, Linha da Festa Europeia da Música e comemorações várias; ou ainda dividir de acordo com a pertença a ciclos temáticos onde, por via de um tema, se agregava uma multiplicidade de eventos. Foi de acordo com estas categorias provisórias que se escolheram as pessoas a entrevistar. Pessoas cujos nomes apareciam como essenciais, quer por se repetirem ao longo de programas e documentos, quer porque em conversa, por via do chamado efeito “bola de neve”, uma pessoa sugere a seguinte. Assim:
– procurando uma compreensão alargada da acção de Madalena Perdigão no âmbito da Cultura e da Educação em Portugal, entrevistou-se Natália Pais, Directora do Centro de Arte Infantil (CAI), que por sua vez sugeriu entrevistarmos o Dr. Arquimedes da Silva Santos, colega de Madalena Perdigão na Gulbenkian desde os seus tempos de Directora do Serviço de Música;
– sobre a acção do ACARTE no âmbito da Dança Contemporânea e do Teatro-Dança foram entrevistados Gil Mendo, António Pinto Ribeiro, António Augusto Barros, Vera Mantero, João Fiadeiro, Margarida Bettencourt, Maria de Assis e Mark Deputter;
– sobre a relação entre o ACARTE e a recém-criada rede IETM – Informal European Theatre Meeting, inquirindo sobre o seu lugar no panorama europeu da dança contemporânea, procurou-se falar com Georges Brugmans, Hilde Teuchies, Wim Vandekeybus e Joseph Nadj;
– sobre as Bandas de Música no Anfiteatro conversou-se com o músico Paulo Brandão;
– sobre os Cursos de Cinema de Animação falámos com José Pedro Cavalheiro (ZEPE);
– para entender o funcionamento do ACARTE visto pelos seus trabalhadores conversou-se com Emília Rosa, Orlando Worm e com Paulo Brandão;
– sobre a Arte da Performance no ACARTE procurou-se Fernando Aguiar;
– sobre música experimental, entrevistou-se Carlos Zíngaro, e sobre jazz, Rui Neves;
– para entender a acção do Serviço no âmbito do teatro em Portugal entrevistou-se Eugénia Vasques, Luís Francisco Rebello, Jorge Silva Melo, Tiago Porteiro e José Oliveira Barata;
– a propósito da acção do Serviço durante esses anos, marcou-se encontro com Orlando Garcia e João Pinharanda.
Data e local das entrevistas
Entrevista a António Pinto Ribeiro, 28 de Julho de 2011, Lisboa.
Entrevista a António Augusto Barros, 20 de Setembro de 2011, Coimbra.
Entrevista a Arquimedes da Silva Santos, 22 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a George Grugmans, 3 de Junho de 2011, Lisboa.
Entrevista a Carlos Zíngaro, 27 de Junho de 2011, Lisboa.
Entrevista a Eugénia Vasques 4 de Agosto de 2009 e a 6 de Maio de 2010, Lisboa.
Entrevista a Fernando Aguiar 23 de Agosto de 2011, Lisboa.
Entrevista a Gil Mendo 25 de Julho de 2011, Lisboa.
Entrevista a Hilde Teuchies, 1 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a João Fiadeiro 17 de Agosto de 2011, Lisboa.
Entrevista a João Pinharanda, 27 de Setembro de 2011.
Entrevista a Jorge Silva Melo, 20 de Agosto de 2011, Lisboa.
Entrevista a José Oliveira Barata, 19 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Josef Nadj 13 de Julho de 2011, Lisboa.
Entrevista a Luiz Francisco Rebello, Agosto 2011, Lisboa.
Entrevista a Margarida Bettencourt, 8 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Maria de Assis, 5 de Agosto de 2009, Lisboa.
Entrevista a Mark Deputter, 6 de Agosto de 2011, Lisboa.
Entrevista a Mercedes Vostell, 2 de Agosto de 2011, Malpartida de Cáceres.
Entrevista a Molissa Fenley, 22 de Janeiro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Natália Pais, 11 de Julho de 2011, Linha do Estoril.
Entrevista a Orlando Garcia, 14 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Orlando Worm, 23 de Fevereiro de 2010 e 19 de Outubro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Paulo Brandão, 13 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Paulo Graça, 12 de Julho de 2011, Lisboa.
Entrevista a Rui Neves, 7 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Tiago Porteiro, 8 de Julho de 2011, Lisboa.
Entrevista a Vera Mantero, 9 de Setembro de 2011, Lisboa.
Entrevista a Wim Vandekeybus, 31 de Julho de 2010, Avanca.
Entrevista a Zepe (José Pedro Cavalheiro), 21 de Agosto de 2011, Lisboa.
[1] Esta pesquisa teve início após autorização da Presidência da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2007.
* Desde o momento em que este trabalho foi feito e o momento presente o arquivo do ACARTE foi, em grande medida, inventariado e encontra-se organizado nos Arquivos Gulbenkian, sob consulta.